Tragédia anunciada
Luiz Fernando Santos Reis
A Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj), entidade com mais de 40 anos de existência, que representa empresas da construção e conservação de obras de infraestrutura luta, desde a sua fundação, pelo desenvolvimento do estado, das empresas e, principalmente, da população.
Desde que o prefeito Marcelo Crivella assumiu, a Aeerj alerta sobre o que poderia ocorrer em função da falta de investimentos na manutenção e conservação. Fazer manutenção e conservação é manter a rede de drenagem de águas pluviais em perfeitas condições para evitar enchentes, é manter ruas sem buracos, árvores podadas, rios dragados e encostas monitoradas para evitar deslizamentos.
Isso demanda planejamento, organização e coordenação para, com antecedência, se necessário, executar medidas de correção e proteção, exatamente o que a prefeitura não fez. E não foi por falta de aviso.
Em 10 de janeiro de 2017, no início de mandato, a associação encaminhou ao prefeito carta em que alertava: “É imperioso destacar que dentre as escolhas trágicas há um núcleo intangível, aquele que não pode ser reduzido, sob pena de inviabilizar o próprio funcionamento vital da cidade e de causar verdadeiro caos e prejuízos das mais variadas espécies a população”. E continua: “Nesse núcleo duro de áreas primordiais encontra-se indubitavelmente, a conservação da cidade, que é pilar para estruturação de todas as demais atividades”.
Nada foi feito, a prefeitura investiu em média, por ano, em Conservação e Serviços Públicos 40% a menos do que em anos anteriores. No Instituto de Águas, responsável pela dragagem e manutenção dos rios, a redução foi de 62%. O mais espantoso ocorreu no Instituto de Geotécnica, que cuida de encostas, cujo investimento foi só 21% do que no período anterior.
O risco vem sendo alertado pela Aeerj em diversos artigos na coluna Infraestrutura e Negócios do DIA. Em 1º de agosto de 2018 abordando a área de conservação: “A paralisação dos serviços, além de problemas que atrapalham o carioca (enchentes, deslizamentos, calçadas furadas e ruas esburacadas, áreas de lazer interditadas) significa a não geração de 2.500 postos de trabalho”. Nesse mesmo artigo dizíamos “fruto da imprevisibilidade e insegurança as empresas estão parando e demitindo funcionários, aumentando mais o desemprego.”
Em 5 de dezembro mais uma vez alertávamos: “Com ocupações, quer por construções prediais ou nos morros, o volume das redes pluviais aumentou muito, provocando juntamente com a falta de manutenção preventiva, grandes inundações que atingem todas as regiões”. “No Rio, ocorreram deslizamentos, de pequeno porte, em encostas na Av. Niemaeyer e na Estrada do Joá”.
Será que precisamos dizer algo mais para explicar a situação que estamos enfrentando no Rio?