Tecnologia, a verdadeira riqueza
Francis Bogossian
Presidente da AEERJ – Associação
das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro
Brasileiros, desde que se entendem por gente, mostram-se indignados com o triste contraste entre o potencial de riqueza da nação e a pobreza do povo. E declaram-se invejosos do milagre japonês, um país tão menor em área, com tão parcos recursos naturais, mas tão rico e poderoso.
Não há, entretanto, mistérios, tanto na nossa indignação quanto na inveja. Os grandes sustentáculos da riqueza e do poder do Japão são exatamente as monumentais carências que impedem a erradicação da pobreza no Brasil e sufocam o nosso desenvolvimento: educação e tecnologia.
Em educação, consolidou-se por aqui a tradição de que os políticos, em geral, devem cuidar com todo desvelo e carinho da plena manutenção e multiplicação da indústria da ignorância. Eles precisam da crescente miséria educacional para vencer eleições e usufruir poderes que lhes conferem os mandatos. Com o povo sem educação, a ética e a cidadania bem longe, fica bem mais fácil a compra de votos, em espécie ou com a velha e eficaz moeda das falsas promessas dos marqueteiros.
Sem educação formal não se chega ao desenvolvimento tecnológico. O nível de industrialização no Brasil ainda é muito baixo em relação ao que poderia ser. Grande parte dos minérios que exportamos deveriam ser industrializados no país, gerando produtos, empregos e renda para os brasileiros.
Agricultura, nossa outra grande força produtiva, mereceria também maior nível de industrialização. Exportamos grande parte da nossa produção de alimentos como insumos. Deixamos de gerar empregos e riqueza nesse setor porque nos falta investir em tecnologia. A indústria precisa de trabalhadores treinados, e a educação formal é o primeiro requisito para a formação de mão de obra qualificada.
Nossa grande exceção, e exemplo, tem sido, sem dúvida, a Petrobras. Ela se tornou a maior empresa brasileira e uma das maiores petrolíferas do mundo, e não apenas por ter o controle sobre as reservas de petróleo e gás do Brasil. Acabou o monopólio e ela ficou cada dia mais forte. Não se acomodou em cima do patrimônio de suas reservas. Investiu pesadamente para conquistar tecnologias. O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) tem sido nosso grande trunfo em pesquisa e inovação.
Teria sido mais fácil e cômodo, após a localização e o dimensionamento das nossas grandes reservas, que hoje englobam o pré-sal, atrair exploradores e produtores estrangeiros. E oferecer nossos campos em troca de migalhas percentuais do que fosse produzido. Mas não tem sido assim. A Petrobras continua apostando no conhecimento e lutando para vencer interesses poderosos contrários ao bom e verdadeiro nacionalismo. Lá decide-se pelo investimento pesado em tecnologia, educação e formação de mão de obra, na gestão de recursos humanos e de processos. Assim, vimos surgir e se multiplicarem as conquistas tecnológicas e o mundo curvar-se diante da realidade.
Viaje ao exterior e diga que é brasileiro. Você será, sem dúvida, identificado inicialmente como conterrâneo de Pelé, Tom Jobim e, é claro, da “Garota de Ipanema”. Pode ser, entretanto, que alguém mais antenado já se refira à Petrobras, ao nosso petróleo e à promessa de o Brasil estar em breve no rol das nações mais poderosas do planeta.
Se o Brasil passar a agir como a Petrobras e usar o poder da educação, nossas tecnologias farão nascer e crescer empresas e empregos. Estes gols nos deixarão, certamente, tão ou mais orgulhosos do que já somos pelos gloriosos tentos nas conquistas das Copas do Mundo.