Rio merece um projeto urbanístico
Francis Bogossian, presidente da Associação das Empresas de Engenharia do
Rio de Janeiro (AEERJ)
Tristeza! Tristeza é o que o carioca sente quando desembarca no Aeroporto
Tom Jobim. Vê que a sua "Cidade Maravilhosa" é hoje uma imensa
favela, a cercar as maravilhas remanescentes.
A falta de planejamento urbano, uma legislação draconiana para quem quer
construir regularmente e a "permissividade" às construções
irregulares levaram o Rio ao caos que se encontra. Cortar uma árvore pode levar
à prisão o infrator, mas as favelas vêm devastando nossas florestas sem
qualquer cerimônia e com a "cumplicidade" do poder público que vai
atrás, levando saneamento básico e luz para locais que, pela legislação
municipal, jamais poderiam ter sido ocupados legalmente. Pela legislação
urbanística em vigor no município do Rio, acima da cota 60 não podem ser
abertas novas ruas e acima da cota 100, só podem ser construídas residências
unifamiliares.
O crescimento desordenado da cidade e a ocupação informal vêm invadindo os
bairros, fechando indústrias, lojas comerciais, hotéis, escolas, etc. A cidade
empobreceu e se deteriorou. Ao invés da valorização dos imóveis, o que se
vê é a desvalorização do patrimônio. Em vários bairros, imóveis, que
pagam IPTU, perderam completamente a liquidez e se transformaram em verdadeiros
"elefantes brancos". O poder público assiste a tudo isso sem esboçar
nenhuma reação.
Não há um único projeto para reverter a situação. O Rio de Janeiro não
dispõe de um projeto urbanístico. Não falo em projetos paliativos e pontuais
como os do programa Favela-Bairro. Falo de um projeto para salvar, como um todo,
a cidade do Rio de Janeiro.
Está se completando um século, desde que o Rio de Janeiro deixou de ser
conhecido como a "Cidade da Morte", quando a sujeira predominava e
proliferavam doenças como a febre amarela, varíola e peste bubônica.
Transformou-se na "Cidade Maravilhosa", pelas ações do prefeito
Pereira Passos, do sanitarista Oswaldo Cruz, de Lauro Muller, Paulo de Frontin e
Francisco Bicalho. Esta transformação se deu, entre 1902 e 1908, ou seja, em
menos de seis anos.
Hoje esta "Cidade Maravilhosa", que já foi centro político,
cultural e financeiro do país está degradada. O Rio de Janeiro precisa de um
grande projeto urbanístico e vontade política, como teve na época o
presidente Rodrigues Alves, para voltar a ser a "Cidade Maravilhosa".
Sem projeto não se tem uma diretriz a ser seguida. É a progressiva
degradação que vemos hoje.
Os últimos projetos urbanísticos para o Rio de Janeiro foram feitos nas
décadas de 60. O arquiteto e urbanista grego Constantino Doxiadis, por
encomenda do governador Carlos Lacerda, traçou, em 1963, as linhas gerais de um
plano que pretendia a descentralização urbana da cidade com novas vias no eixo
Norte-Sul e Leste-Oeste e ficou conhecido como "Plano Policromático",
pelo traçado das Linhas Vermelha, Amarela, Verde, Marron e Azul.
Só na década de 90 é que foram construídas as Linhas Vermelha e Amarela. As
outras ainda não saíram do papel.
Em 1969 o arquiteto Lúcio Costa entregou ao governador Negrão de Lima o
projeto urbanístico para a Barra da Tijuca. São também da década de 60 o
Túnel Rebouças, o Trevo dos Marinheiros, a Avenida Radial Oeste, Aterro do
Flamengo, o Elevado e Túnel do Joá e o Túnel Zuzu Angel. E depois…..
Chegou a hora de reprojetar o Rio que queremos novamente maravilhoso.