Retrato atual da engenharia no Brasil
Francis Bogossian,
presidente da Associação das empresas de Engenharia do
Rio de Janeiro (Aeerj)
No Brasil, nas décadas de 60 e 70, as obras públicas eram estudadas,
projetadas e executadas priorizando os conceitos técnicos da engenharia, em
todos os seus aspectos.
Havia no mercado uma boa oferta de serviços e preços realistas. Isto
permitia aos executores das obras programar estudos complementares, promover
revisões dos projetos que integravam as licitações e acompanhar "pari
passu" a sua execução, para eliminar eventuais deficiências dos
documentos licitatórios.
Na Engenharia, como na Medicina, o indivíduo (obra) precisa nascer
saudável, a mãe engenharia precisa prover todos os exames pré-natais
necessários, fazer corretamente o parto (construção) e acompanhá-la
convenientemente durante toda sua vida útil.
Com a estagnação da economia brasileira a partir dos anos 80, os
investimentos em obras públicas declinaram consideravelmente, acompanhados por
licitações com maior carência de dados e condições econômicas
desfavoráveis. As alternativas passaram a ser ganhar serviços com preços
incertos ou declinar e demitir os técnicos, dilapidando-se o capital
intelectual e humano constituído a duras penas.
Da mesma forma que é preciso acompanhar a saúde de um paciente, é preciso
acompanhar a "vida" de uma obra, para mantê-la saudável e sem
problemas. Isso não acontece hoje na engenharia de obras públicas brasileira.
A falta de estudos, projetos e de manutenção dos empreendimentos é
justificada pela necessidade de redução de custos. É preciso incentivar as
pesquisas, com o apoio das universidades e participação das empresas de
engenharia, pois só dessa forma será possível adquirir conhecimentos e
utilizar experiências práticas para chegar a soluções inovadoras e de menor
custo.
As empresas de engenharia precisam ser capazes de investir na capacitação
de seu pessoal, nos equipamentos e no apoio a pesquisas universitárias. Isto
só será possível se forem corretamente remuneradas. O lucro é fator
preponderante para a vida de qualquer empresa privada. Sem ele não há empresa.
Isto, no entanto, não é o que pensam os administradores públicos do Rio de
Janeiro. Há mais de dez anos o BDI (Bonificações e Despesas Indiretas) foi
excluído dos orçamentos de obras. Somente em 2005 os impostos foram incluídos
nos custos dos serviços de engenharia. O lucro, no entanto, continua proibido.
Para sobreviver, as grandes construtoras brasileiras diversificaram suas
atividades, atuando em outros segmentos e também no exterior.
As médias e pequenas empresas foram as mais afetadas. Submetem-se a
trabalhar a preços de custo, como se fossem instituições sem fins lucrativos
para não cerrar as portas. As tentativas de melhorar a produtividade se perdem
face à canibalização e carência de recursos para aquisição de equipamentos
mais eficientes.
Com a perspectiva de grandes empreendimentos industriais no Estado, as
empresas de engenharia do Rio, que sobreviveram, começam a enxergar uma luz no
fim do túnel e precisam investir em consultorias de gestão de qualidade, de
segurança e saúde ocupacional e de responsabilidade social para se capacitarem
a licitar, por exemplo, no sistema Petrobras. Se este investimento tiver
retorno, todos sairão ganhando. A Engenharia de Obras Públicas vive um momento
de decisão.