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Jornal do BrasilSegunda-feira, Outras Opiniões23/02/2004

Quem fica no Rio?

Francis Bogossian, empresário
Por que querem levar o petróleo do Estado do Rio de Janeiro para ser refinado em São Paulo? A governadora quer a refinaria onde o hidrocarboneto é produzido, gerando empregos e receitas para o povo fluminense.
Assunto de outro teor tem movimentado também, nos últimos dias, o intercâmbio entre o Rio e São Paulo. A Justiça anda concluindo que
Fernandinho Beira-Mar, produto do Rio, no momento sob tentativa de ”refinamento” em presídio do interior paulista, deve voltar à reclusão em seu Estado de origem. 
Parece que, mesmo não querendo, vamos ter de recebê-lo de volta. 
A análise conjunta dos dois fatos indica tendências à adoção de dois pesos e duas medidas. Por que
Fernandinho deve ficar no Rio, apenas por ser do Rio, enquanto o petróleo fluminense deve ir para São Paulo? Só por
Fernandinho ser Beira-Mar, enquanto o petróleo vem do mar profundo? 
Galhofa à parte, o governo federal e a Petrobras precisam reconhecer a importância do Estado que abrigou, até 1960, a capital. O nosso Rio de Janeiro, desde sempre o principal pólo cultural do Brasil, está sendo esvaziado a pouco e pouco. Até o samba carioca sofre desprestígio. Não é piada que uma comitiva presidencial tenha viajado ao exterior levando uma escola de samba paulista, para mostrar o que o país tem de melhor na matéria. Parece outra óbvia galhofa mas, apesar de extremamente atentatória ao samba brasileiro, aconteceu de verdade! 
Não se deve chegar ao exagero de concordar em que São Paulo seja o ”túmulo do samba”, como poeta importante já declarou, mas comparar o que se faz aqui com o que se faz lá, nesse capítulo, é um despropósito, como se pode comprovar nestes dias de Carnaval. 
Quero, estão, sugerir um acordo. Tragam de volta Beira-Mar, mas deixem aqui o nosso petróleo.
Proponho esse acordo no momento em que o Crea-RJ promove audiência pública sobre o Oleoduto Rio-São Paulo, concebido para escoar a produção petrolífera de Campos, no Norte Fluminense, para as refinarias de São Paulo. A comunidade tecnológica do Estado do Rio de Janeiro está convocada e terá, certamente, argumentação irrefutável para concordar com a governadora em que ”a refinaria é nossa”. 
Será provavelmente algo mais contundente do que o jocoso acordo de aceitar como moeda de troca o retorno de
Fernandinho Beira-Mar

Francis Bogossian é presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro