Petrobras: modelo para a engenharia brasileira
Francis Bogossian, empresário
Nos últimos 20 anos, a engenharia nacional vem atravessando uma crise sem precedentes, não só em termos de escassez de serviços mas também pela situação das obras públicas com preços aviltados, disputadas em clima de guerra, através de licitações predatórias do tipo ”salve-se quem puder”.
Nesse mar de incerteza, a Petrobras emerge como um oásis em defesa da engenharia brasileira, de forma competente e sem xenofobia.
Há pouco mais de duas décadas o Brasil não dominava as tecnologias para exploração e produção de petróleo offshore. As superespecializadas empresas internacionais de engenharia e tecnologia que operavam no mar do Norte, ao se depararem com o imenso potencial de serviços offshore que o país oferecia, vinham à Petrobras com a missão de vender ”caixas-pretas”. Na maioria das vezes não conseguiram. A orientação era de abrir as ”caixas”, verificar as atividades e os serviços que poderiam se nacionalizados e sugerir parcerias aos estrangeiros para que empresas nacionais pudessem absorver as novas tecnologias.
Precisava-se economizar divisa, reduzir os pagamentos em moeda forte e aumentar a participação de empresas nacionais. A transferência de tecnologia, as pesquisas e a nossa capacidade criativa culminaram no desenvolvimento da engenharia de petróleo offshore nacional, que hoje pratica suas próprias inovações, concebidas para as condições brasileiras, e que servem de exemplo, em águas profundas, ao resto do mundo.
A Petrobras vem representando, também nos empreendimentos terrestres, importante contribuição à nossa engenharia, quando exige dos prestadores de serviços e construtores que sigam rigorosamente as suas diretrizes de QSMS – Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde. As empresas nacionais estão aprendendo a trabalhar nos padrões do chamado Primeiro Mundo. A Qualidade ISO-9000, a rigorosíssima segurança contra acidentes durante as obras, e a prevenção quanto a sinistros futuros aliam-se à conscientização de respeito superlativo ao meio ambiente e, como não poderia deixar de ser, exigem que os seres humanos envolvidos na realização dos empreendimentos tenham a vida e a saúde preservadas.
A engenharia brasileira agradece pela nacionalização e aplaude que sua maior contratante, a Petrobras, e suas afiliadas, promovam licitações para contratar pelo melhor preço. A Petrobras entende que o critério de melhor preço representa o menor preço selecionado entre as empresas que se proponham a trabalhar atendendo aos requisitos de QSMS. Oxalá os órgãos públicos federais, estaduais e municipais aprendam com este exemplo e deixem de promover a exaltação do menor custo como sinônimo de administração competente.
O Brasil ficará, com certeza, muito melhor quando todos os poderes contratantes assumirem as suas responsabilidades sociais e o devido
respeito à natureza.
Francis Bogossian é presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro