Os muitos desafios da engenharia no Brasil

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Jornal do Commercio Edição185 anosCaderno Urbanismo e Construção01/10/2012

Os muitos desafios da engenharia no Brasil

A edição comemorativa dos 185 anos do Jornal do Commercio, que circulou hoje, 01/10/2012, publicou, no Caderno Urbanismo e Construção, a entrevista de Francis Bogossian que transcrevemos abaixo:

Presidente do Clube de Engenharia e da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ), presidente do Conselho de Administração da Geomecânica S/A, integrante dos conselhos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e de outras entidades ligadas à engenharia, Francis analisa o bom momento histórico por que passa a construção civil no Brasil, mas aponta os muitos gargalos que ameaçam o setor, entre eles as deficiências na educação, as dificuldades no dia a dia dos profissionais e os segmentos que ainda estão por receber atenção especial do governo. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Jornal do Commercio – Quando o Clube de Engenharia foi criado, quais seus objetivos e como se deu seu crescimento até os dias de hoje? Quantos associados têm a entidade?

FRANCIS BOGOSSIAN – O Clube de Engenharia foi criado em 24 de dezembro de 1880, por Conrad Jacob Niemeyer. É uma entidade de caráter nacional, sediada no Rio de Janeiro, que reúne engenheiros, arquitetos, geólogos e etc., com o objetivo de oferecer um espaço democrático para a discussão de questões relacionadas ao desenvolvimento do País, à defesa da engenharia nacional e à capacitação técnica dos engenheiros. Ao longo de mais de 130 anos vêm discutindo, defendendo e estimulando ações que promovam o desenvolvimento do país, da engenharia brasileira, do Rio de Janeiro e todo o país. Atualmente o Clube de Engenharia conta com mais de 1500 sócios ativos.

Quando a AEERJ foi criada, quais seus objetivos e como se deu seu crescimento até os dias de hoje? Quantos associados a entidade tem? – A AEERJ foi fundada em 25 de junho de 1975 por um grupo de 11 empresas de engenharia do Rio de Janeiro com objetivo de atuar como elo de ligação entre as construtoras de obras públicas do Rio de Janeiro e o poder público estadual e municipal, visando melhores condições de trabalho, preço e pagamento nas obras públicas. Os atrasos de pagamento eram uma constante naquela época. Das 11 fundadoras apenas uma ainda está em funcionamento, a Carioca Engenharia. Atualmente a AEERJ reúne mais de 230 empresas associadas.

Como vê o Clube de Engenharia vê o cenário atual da Engenharia no Brasil? Quais seus principais desafios e gargalos?

– Depois de décadas de recessão o país retomou o desenvolvimento. Quando isto aconteceu o que vemos? Falta mão de obra qualificada, faltam engenheiros. Além dos altos custos financeiros, de uma taxação exorbitante e de uma infraestrutura precária, considero que o principal gargalo para o crescimento do país é a educação. Começando pela qualidade do ensino fundamental, que é abaixo da crítica na maioria dos municípios brasileiros. Isto vale tanto para o ensino público como para o privado. Podemos contar nos dedos as exceções. Se o aluno não consegue entender o que lê e também não é capaz de realizar as mais simples equações matemáticas, consequentemente, não acompanha o programa do ensino Médio. Os baixos níveis de aprendizado dos estudantes se refletem na Graduação. Principalmente na área de Ciências Exatas. De cada 100 alunos que entram nas faculdades de Engenharia, em todas as áreas, apenas 20 completam a graduação. Um país não se constrói sem Engenheiros. Educar a população é, a meu ver, o mais sério desafio que o governo tem que enfrentar. E isto leva tempo, não se faz de um dia para o outro.

Quais os setores de infraestrutura que, em sua opinião, deveriam ser priorizados com recursos federais?

– O setor de saneamento básico precisa ganhar mais atenção. É inadmissível que o Brasil que é a sexta economia do mundo não consiga coletar nem 50% do esgoto que é produzido e, de todo o esgoto captado, só cerca de 20% recebe tratamento. Isto é um absurdo porque impacta diretamente no gastos com saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde de cada R$ 1,00 que é investido em saneamento básico, o país economiza R$ 4,00 em saúde. Um país que já sediou duas conferências internacionais para a preservação do meio ambiente, a Rio92 e a Rio+20, não pode deixar que seus rios e suas praias continuem a ser poluídas com esgoto in natura. Isto é vital para a saúde da população. Por outro lado, em um país das dimensões continentais como Brasil rodovias, portos, aeroportos, hidrovias e ferrovias são indispensáveis para o escoamento da produção. Como o governo não tem recursos para investir em todas as áreas, eu pessoalmente, acho que a decisão da presidente Dilma Rousseff de ampliar a concessão destes setores da infraestrutura é a mais acertada.

Como a AEERJ vê o crescimento significativo das obras públicas no município e no estado do Rio nos últimos anos em termos de infraestrutura, não são para a Copa do Mundo e Olimpíadas? Qual a perspectiva de continuidade dessa expansão após dois grandes eventos?

– O estado do Rio de Janeiro e, principalmente, a capital estão passando por um período de renovação. Depois que o Rio de Janeiro deixou de ser a capital do país, este é o primeiro momento que vemos uma ação conjunta dos poderes federal, estadual e municipal em prol do desenvolvimento do Estado e dos municípios. Grandes áreas da cidade do Rio de Janeiro são federais e estavam abandonadas, como era o caso da Zona Portuária do Rio de Janeiro. Um convênio entre os três poderes permitiu a transformação daquela área. Hoje as obras estão em andamento e dentro de dois ou três anos a região estará totalmente remodelada. Acredito que a Copa e as Olimpíadas não serão apenas dois grandes eventos esportivos. Eles trarão benefícios concretos para o Rio e já estamos vendo isto com a construção dos corredores viários (BRTs) que estão cortando a cidade. O saneamento da Baía de Guanabara também é outro compromisso que o Estado assumiu, com apoio do governo federal, para as Olimpíadas e vai transformar a qualidade de vida da região da Baixada Fluminense. Estas ações, somadas ao petróleo na Bacia de Campos, devem garantir um crescimento sustentável do estado pelas próximas décadas.