O Rio tem futuro
Francis Bogossian
Presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro
Depois de prolongada fase de estagnação, não é fácil fazer a economia de um
país retomar seu ritmo de crescimento. É isto o que está acontecendo com o
Brasil. Durante anos e anos seguidos o nível de investimentos públicos foi
insignificante. Agora, quando há recursos para investir, pouco acontece. Faltam
projetos, faltam profissionais qualificados.
O País não pode passar impunemente por décadas de descaso com a educação. O
resultado é que, embora os investimentos em infra-estrutura ainda não tenham
deslanchado, já há escassez de mão-de-obra qualificada no Brasil. Ao mesmo tempo
os recursos disponíveis no Orçamento da União não conseguem ser aplicados porque
faltam equipes técnicas para elaborar os projetos.
Dos R$ 42,1 bilhões autorizados para investimentos no Orçamento Geral da União
de 2007, apenas R$ 19,2 bilhões foram pagos. Mesmo assim, só R$ 8,6 bilhões em
recursos novos. Os outros R$ 10,5 bilhões foram utilizados para pagamento de
dívidas de exercícios anteriores, como registrou o site Contas Abertas com base
nos números do Siaf.
O Rio de Janeiro pode se considerar um privilegiado. Dos R$ 1,2 bilhão
autorizados no Orçamento da União de 2007, os empenhos somaram R$ 760 milhões,
dos quais R$ 400 milhões foram pagos. É um recorde também na história do Estado
do Rio de Janeiro nas últimas décadas. Isto se deve, não apenas à vontade política do presidente Lula, mas a um
trabalho da equipe do governador Sérgio Cabral que usou toda sua capacidade
técnica para produzir e adaptar projetos já existentes, nas áreas de saneamento,
habitação e transporte, à realidade dos recursos disponíveis. Com isso, as obras
de saneamento básico na Baixada Fluminense e em São Gonçalo, de reurbanização
das grandes favelas da cidade do Rio de Janeiro e do Arco Metropolitano do Rio
já estão sendo licitadas e devem começar ainda no primeiro trimestre de 2008. Órgãos como Cedae, Emop e DER-RJ têm equipes técnicas da melhor qualidade, que
estiveram inativas durante anos, mas souberam responder com rapidez quando foram
demandadas.
O governo do Estado do Rio precisa aproveitar este momento e investir
pesadamente e com urgência na qualidade do ensino técnico e profissionalizante
para dar condições à juventude fluminense de entrar no mercado de trabalho e ser
bem remunerada.
O maior problema do Rio hoje é, disparado, a falta de segurança. A ação da
Polícia é vital para manter a ordem e combater o crime. Mas o desemprego, que
gera o trabalho informal e ilegal, também precisa ser enfrentado.
Combater a
criminalidade sem que o Estado ofereça oportunidades é “enxugar gelo”. As estatísticas mostram que na faixa jovem está o maior índice de desempregados.
E é também nesta faixa de idade que está o maior número de marginais. E são
marginais mesmo, na concepção exata da palavra: estão à margem da sociedade e
não têm chance no mercado formal.
Cabe ao governo reverter este quadro. “Cabeça vazia, oficina do diabo”. É
preciso ocupar e remunerar os jovens para que eles tenham esperança no porvir.
Assim, o Rio de Janeiro pode almejar um futuro melhor.