O melhor remédio para prevenir tragédias
Francis Bogossian,
Prevenção é a palavra chave para evitar os repetidos desastres que vêm ocorrendo no país em função das chuvas. A cultura brasileira não é, porém, de prevenção. Os investimentos só acontecem quando ocorrem os desastres.
Dados do Siafi, organizados pela ONG Contas Abertas, mostram que em 2010, o Programa de Prevenção e Preparação para Emergências e Desastres, do Ministério da Integração Nacional, tem um orçamento de R$ 490 milhões, enquanto para o Programa de Resposta aos Desastres e Reconstrução estão previstos R$ 1,2 bilhão. O resultado é que até meados de junho, o Ministério já tinha desembolsado R$ 450 milhões para atender as tragédias que ocorreram, mas liberou apenas R$ 475 mil para o programa de prevenção.
No caso dos deslizamentos de encostas, a prevenção é o melhor remédio para prevenir escorregamentos. O tratamento passivo ou preventivo é de baixo custo e evita desastres com perdas humanas e materiais.
Para aplicar o remédio, precisa-se conhecer o paciente, ou seja, analisar a topografia e o solo. Quanto mais verticalizado, mas arriscado é. O tipo de solo vai determinar também a resistência do terreno às chuvas. A água, que erode superficialmente o terreno, preenche os vazios não saturados e pode causar também erosões profundas . Com a saturação, o peso da massa aumenta e a resistência interna do terreno ao escorregamento se deteriora, podendo até se anular.
Em síntese, barrancos íngremes e saturados pela chuva são propícios ao deslizamento.
O tratamento passivo, ou preventivo, se dá de várias formas, tais como: suavizando as encostas antes de sua ocupação ou protegendo-as contra as erosões externas e internas através de reflorestamento, plantio de grama e/ou pintura impermeabilizante.
A drenagem é outra forma de tratamento passivo e de custo baixo.
A drenagem pode ser superficial, encaminhando ordenadamente as águas de chuvas para jusante das encostas, ou profunda, para fazer escoar as águas que penetram na massa de solo, aliviando a saturação, que aumenta o peso e cria tensões internas que podem até anular a resistência ao deslizamento. Todas estas soluções são de custos baixíssimos.
Após ou na iminência de escorregamentos, a solução são as obras de contenção, também chamadas de tratamento ativo. São despesas que se incorre após os sinistros com destruição das propriedades e as perdas de vidas.
Mas o melhor mesmo é o que o professor Fernando Emmanuel Barata, titular da UFRJ, chama de “evitação”, ou seja, não ocupar as encostas de risco, apenas preservá-las.
No entanto, o dito popular, “É melhor prevenir do que remediar”, é permanentemente esquecido. Deslizamentos de terra têm se repetido com frequência no Brasil nos últimos anos. Este perigo ronda também as estradas brasileiras, seja quando a terra cobre as pistas, seja quando se abrem crateras no asfalto.
Todos conhecem o “efeito dominó” dos deslizamentos que, sujeitos à lei da gravidade, arrastam para o sopé das elevações, em avalanches, tudo que estiver no seu caminho.
As chuvas em 2009 e 2010 chegaram muito intensas. Atravessamos pluviosidade excepcional e calor intenso, castigando as encostas sem descanso e provocando inundações. É inevitável a ocorrência desses problemas porque as chuvas de verão são uma certeza em nosso país.
Apesar disto, a cidade do Rio de Janeiro é a única do país a contar com um órgão técnico voltado exclusivamente para prevenir acidentes desmoronamentos nas encostas. Embora não se consiga impedir as construções irregulares nas favelas, pelo menos as obras regulares, sejam públicas ou privadas, próximas às encostas, ou que podem por elas serem afetadas, são submetidas a uma avaliação técnica.
Os constantes desastres que ocorrem no Brasil já têm volume significativo para impor que o Ministério das Cidades crie um órgão de assessoria técnica às centenas de municípios brasileiros implantados na Serra do Mar, Serra da Mantigueira, Serra Gaúcha etc, para ajudá-los na prevenção de deslizamentos de encostas. E, também apoiá-los na remoção das áreas de risco em favelas das encostas dos morros, através do programa Minha Casa Minha Vida.
Francis Bogossian, engenheiro, presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e da AEERJ- Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro