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Jornal do CommercioOpiniãoPág. B-1119/09/2011

O futuro chegou

Francis Bogossian,
Presidente do Clube de Engenharia e da AEERJ e membro
das Academias Nacional de Engenharia e Brasileira de Educação

A falta de mão de obra qualificada é um grande entrave para o crescimento do país e também do Rio de Janeiro.

Infelizmente, nossa previsão se concretizou. Há alguns anos estamos alertando para três fatores que comprometem o nosso desenvolvimento: a queda da qualidade do ensino básico, a quase inexistência de cursos profissionalizantes e o desinteresse pelos cursos de engenharia.

Acrescente-se ainda a morosidade na implantação da certificação profissional, que almeja a eficiência técnica dos engenheiros. Não apenas a grade curricular dos cursos de engenharia está ultrapassada e carente de atrativos, também grande parte dos alunos que chegam à universidade não tem conhecimentos básicos suficientes nas disciplinas exatas para acompanhar o curso.

É verdade que, nos últimos cinco anos, houve um aumento do número de instituições de ensino de engenharia. Segundo o Censo de Educação Superior, o número de estudantes que concluiu cursos de engenharia no Brasil, entre 2003 e 2008, passou de 30.456 para 47.098. No entanto, pesquisa do IPEA mostrou que, de cada 3,5 engenheiros formados no Brasil, apenas um está formalmente empregado como engenheiro.

Mesmo com esse incremento do número de engenheiros, o país  está longe de alcançar os níveis das outras nações que compõem o grupo dos BRICs. A Rússia, que tem praticamente a mesma população do Brasil, forma 120 mil engenheiros por ano.

Com o aumento do volume de obras no Rio, nossa grande preocupação é com a atração de mão de obra de outros estados, e ainda do exterior, para preencher essa carência. No primeiro semestre deste ano, o Ministério do Trabalho registrou a entrada de 26,5 mil trabalhadores estrangeiros no Brasil, dos quais 56,7% tinham curso superior completo.

Por outro lado, a massa de jovens desempregada por falta de qualificação é enorme. A deficiência de qualificação profissional é o grande empecilho para atender a essa fase de forte crescimento no Rio. De pedreiros até engenheiros, passando por mestres de obra e operadores de máquinas, há uma carência enorme.

Efetivas melhorias do ensino no Rio são fundamentais para o crescimento do estado, com ênfase não apenas no setor de serviços, mas, principalmente, na área de ciência e tecnologia. Não existe desenvolvimento sem engenharia, e a carreira depende de todo o sistema educacional.

Por entender a importância do desenvolvimento das crianças na idade pré-escolar, a Prefeitura está implantando, nas áreas mais carentes do município, os EDIs – Espaços de Desenvolvimento Infantil. Como professor que fui durante mais de 30 anos, sei que o ensino fundamental é de vital importância para o desempenho escolar no ensino médio e na graduação superior.

O governador Sérgio Cabral deu também um passo importante quando reuniu reitores e entidades de classe da engenharia para que o Estado do Rio tome a liderança na implantação do Plano Nacional da Engenharia, o Pró-Engenharia, desenvolvido pela Capes em parceria com entidades privadas e públicas voltadas para a educação.

O programa tem como meta aumentar em 60% o número de engenheiros e técnicos no país até 2015, com a melhoria da qualidade do ensino e a redução da evasão dos alunos nos dois primeiros anos do curso.

É uma corrida contra o tempo. O futuro chegou e os brasileiros não estão preparados para essa realidade. O governo concede incentivos para alguns setores industriais, mas devia estar promovendo incentivos fiscais para pesquisas e educação. Só assim sairemos do atraso em que o país está mergulhado.

Artigo publicado no Jornal do Commercio
Segunda-feira, 19 de setembro de 2011