Menos desperdício e mais investimento
Francis Bogossian(*),
O Brasil precisa voltar a crescer. São 25 anos de estagnação. É muito tempo!
Estamos entregando aos nossos filhos um país muito pior do que aquele que recebemos. Nas
décadas de 1960 e 1970, o Brasil cresceu, não se sabia o que era desemprego. Os
estudantes de engenharia, quando se formavam, escolhiam as empresas privadas em que
queriam trabalhar. Hoje, a juventude só tem perspectiva.
O Brasil precisa mudar, para não “perder o bonde da história”. É vital que o
próximo governo promova uma reorganização total dos gastos públicos. Reduzindo
cargos comissionados, cortando custeio, criando metas e programas e exigindo
produtividade na administração pública, não apenas no Executivo, mas também no
Judiciário e no Legislativo.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) está aí. Os que a desrespeitaram já foram
punidos? De nada adiantam as leis se não há sanção para quem as desrespeita.
Isso é o que acontece no Brasil. Temos muitas leis, mas as penalidades não são,
efetivamente, aplicadas.
Reduzindo-se a corrupção e o desperdício do dinheiro público, seria possível
promover investimentos em dois setores que são indispensáveis para a retomada do
desenvolvimento do País: infra-estrutura e educação.
Infra-estrutura é a mola do crescimento. Não se pode conceber um País sem
energia, saneamento básico e infra-estrutura de transporte (rodovias, ferrovias
e portos). Só não tivemos um outro “apagão” recentemente porque o País não cresceu. Nem os
investimentos privados em projetos de usinas elétricas conseguem deslanchar face
ao emaranhado de leis ambientais e à burocracia do Estado.
O projeto de lei do saneamento básico se arrasta há mais de 15 anos no
Congresso. A cada governo é apresentado um novo projeto de lei para estabelecer
o marco regulatório do saneamento básico, mas até agora nenhum chegou a ser
aprovado. A falta de saneamento é um exemplo do desperdício de dinheiro público.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que para cada real investido em
saneamento, quatro reais são economizados em saúde.
A má qualidade das malhas rodoviária e ferroviária é outro fator inibidor do
desenvolvimento. A falta de eficiência dos portos brasileiros e o crescente
roubo de caminhões nas estradas encarecem os produtos brasileiros e reduzem sua
competitividade.
Nada disso, no entanto, poderá ser evitado se não houver melhoria na
qualidade do ensino no País. Na maior parte das vezes, a ineficiência está
aliada à incompetência profissional. Investimentos em educação precisam ser
feitos com urgência. Melhorar a qualificação do funcionalismo público e garantir
que o País possa ter mão-de-obra capacitada para competir, por exemplo, com a
Índia e a China na atração de novos investimentos, é o caminho para o
desenvolvimento.
(*) Presidente da AEERJ-Associação das Empresas de Engenharia do Rio de
Janeiro e membro efetivo das Academias Nacional de Engenharia e Brasileira de
Educação