Chuvas: mais do que fenômenos naturais, um problema de gestão
Paulo Kendi T. Massunaga
Enchentes, deslizamentos, lixo e lama por todos os lados. Os transtornos provocados pelas fortes chuvas de verão são muitos. As imagens de carros arrastados por verdadeiras correntezas no meio da rua, ou do desabamento de imóveis, são sempre chocantes. E, infelizmente, são cenas que se repetem ao longo dos anos.
Às vezes a quantidade de chuva que cai sobre a cidade em um único dia é, de fato, muito superior ao volume esperado, por exemplo, para um mês inteiro. Mas devemos destacar que nem sempre esse fato é o grande responsável por todos os transtornos que temos acompanhado.
Se por um lado essa época do ano não nos surpreende com seus períodos de chuvas intensas, por outro continuamos sendo surpreendidos pela falta de planejamento dos órgãos responsáveis. Problemas de infraestrutura se tornam evidentes quando um temporal atinge a cidade. Não contamos na cidade com um sistema de drenagem eficaz. O que a população necessita não é somente – apesar de fundamental – de uma intervenção rápida nos dias de chuva intensa. Mas principalmente ações preventivas ao longo de todo o ano.
Temos no Rio de Janeiro um conjunto de elementos perigosos que contribuem para a instalação do caos nesses dias típicos. A começar pelo próprio desenho de nossa cidade, com topografia montanhosa e irregular. A ocupação irregular e o crescimento desordenado em algumas áreas como os morros e encostas, alterou as condições do solo local, fazendo com que ele fique menos resistente à erosão provocada pela água da chuva. Desta forma, ao chover, a água aumenta a sua velocidade ao descer dos morros e carregando tudo consigo. E aí incluímos o hábito, por parte da população, de jogar o lixo nas ruas e em rios, e não em locais apropriados.
Para finalizar, especialistas ainda apontam uma lamentável coincidência: o fato de chover normalmente no fim da tarde, quando ainda não foi feita a coleta de lixo pela companhia municipal responsável. Ou seja, é muito lixo pelas ruas que acabam sendo arrastados durante o temporal. Facilmente os bueiros acabam entupidos.
A Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ) acredita que é preciso um esforço conjunto pelos órgãos da Prefeitura do Rio para garantir a redução de riscos e impactos decorrentes desses dias de temporais. A manutenção e limpeza das galerias de águas pluviais, por exemplo, deve ser constante. A rede de esgoto também não pode ficar de fora do planejamento.
Em alguns bairros da cidade as redes de drenagem são muito antigas, insuficientes para evitar os alagamentos. Algumas regiões já são famosas por esse problema. Afinal, quem não se lembra das áreas do Maracanã e Tijuca, por exemplo, quando falamos desse assunto?
Recentemente foram divulgados, por parte do governo municipal, investimentos na casa de milhões de reais para obras de infraestrutura. Mas tão importante quanto, é fazer contratos para manutenção de qualidade, associada à limpeza de ralos, rios e canais, periodicamente. Nos resta torcer para que, de fato, sejam feitas todas as intervenções necessárias para poupar o carioca de tanta preocupação nos dias em que o céu parece que vai desabar.
* Paulo Kendi T. Massunaga é presidente executivo da AEERJ