Legado do “empreiteiro”
Há dois anos, Luiz Fernando Santos Reis, presidente-executivo da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro assinava a coluna Infraestrutura e Negócios em O DIA. Escreveu dezenas de artigos em que apontou erros de governos, elogiou iniciativas, reafirmou a obrigatoriedade da ética no setor e criticou a falta de planejamento na conservação do Rio. Ele pretendia escrever um livro reunindo as publicações. No último dia 4 de março, contudo, sua voz foi silenciada.
A AEERJ, que seguirá no caminho pavimentado por Luiz Fernando, pede licença neste espaço para lembrar um pouco da sua trajetória. Em seus mais de 60 anos de atuação como engenheiro, executivo de empresas de construção e líder setorial, Luiz Fernando viveu intensamente e transformou os lugares por onde passou. Se especializou em engenharia de portos e viajou pelo país gerenciando projetos durante anos. Foi diretor da Christiani-Nielsen e da Carioca Engenharia.
Foi presidente do Sindicado Nacional da Indústria da Construção (Sinicon), onde liderou campanhas pela infraestrutura e defendeu empresas e empregos durante duas décadas e se tornou o primeiro presidente-executivo profissional da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ). Foi responsável pela reformulação da entidade. Deu relevância à AEERJ com seu incansável empenho em melhorar o ambiente de negócios, qualificando as partes interessadas, por vezes denunciando problemas da infraestrutura do Rio de Janeiro na mídia. Criou, implantou e treinou uma Política de Compliance, um Código de Ética e um Canal de Denúncias na Associação. O primeiro de uma entidade de classe do Brasil no segmento, que se tem notícias.
Luiz Fernando era um homem de sua época, mas com uma inteligência privilegiada e pensamento moderno, que nunca deixou de querer aprender e participar do que acontecia com o país e com o Rio de Janeiro. Um líder setorial que fazia questão de estimular o debate e a troca de ideias e experiências. Se apresentava como “O empreiteiro”. Mesmo em tempos de crise de credibilidade do setor, reconhecia erros, mas sempre externou orgulho desta casta que, segundo o próprio, construiu o Brasil.
No início do ano passado, se sentindo no dever de colaborar quando tudo fechou por conta da covid-19, mobilizou a associação e outras entidades com o objetivo de reunir doações e, assim, ajudar os que mais sofriam com os efeitos econômicos da proliferação do vírus. Muitas vezes ficava triste e irritado com governantes, com a situação do Rio e do país, com o empobrecimento geral e da infraestrutura.
Não se conformava com críticas ou julgamentos injustos sobre o setor de construção e não desistia. Trabalhava incansavelmente. Chegava cedo e não parava de pensar, articular e agir.
A AEERJ perde muito com sua partida. A Engenharia Nacional e o Setor de Infraestrutura perdem um importante representante.
Por: Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)