Genilson Cezar
No Brasil, setor automotivo é um dos que mais demanda novos materiais
Desenvolver produtos que aumentem a produtividade e que tenham maior resistência, alinhados com exigências de clientes em várias atividades industriais, para redução de custo e mais segurança, é hoje um dos principais desafios do setor siderúrgico. O esforço para criar novas ligas metálicas é global e envolve, além de empresas, cientistas e agentes especializados em tecnologias e sistemas industriais. Em janeiro de 2023, por exemplo, pesquisadores do Lawrence Berkeley National Laboratory, na Califórnia, divulgaram os resultados de seus estudos com uma liga metálica de cromo, cobalto e níquel, provando que o material é o mais resistente no mundo.
A japonesa Nippon Steel está desenvolvendo vários novos usos para titânio e ligas a partir do metal visando aproveitar sua pequena densidade e alta resistência. A chinesa Baosteel investe em pesquisas que produzam soluções abrangentes de materiais de magnésio, alumínio e aço. E a voestalpine AG, siderúrgica austríaca controladora da brasileira Villares Metals, inaugurou no ano passado uma planta de aço especial de última geração em Kapfenberg (Áustria) para atender as indústrias automotiva, energética e aeroespacial.
No Brasil, o setor automotivo é um dos que mais demanda inovações da indústria siderúrgica. “São aços com maior resistência mecânica, e mais leves, que permitem a redução do peso dos automóveis”, explica Miguel Angel Homes Camejo, vice-presidente comercial da Usiminas. O trabalho de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da companhia feito em parceria com clientes trouxe para o mercado brasileiro em torno de 15 novos produtos por ano, principalmente para o setor automotivo.
A expectativa é que a produção de ligas metálicas e materiais customizados mais intensivos em conhecimento e tecnologia aumente bastante nos próximos cinco anos no país. A Usiminas, fabricante de aços planos em Ipatinga (MG) com vendas de 4 milhões de toneladas e faturamento de R$ 27,6 bilhões no ano passado, mantém uma carteira de P&D com mais de 80 projetos de forma contínua, segundo Camejo. “Nos últimos cinco anos, investimos pouco mais de R$ 110 milhões no desenvolvimento de novos produtos”, afirma.
Maior empresa brasileira produtora de aço (vendas de 11,3 milhões de toneladas e receita líquida de R$ 68,9 milhões em 2023), a Gerdau também reforça constantemente sua capacidade de se adaptar e inovar em diferentes cenários, aponta Gustavo França, diretor global de TI e digital da companhia. A estratégia é oferecer um amplo portfólio de serviços, produtos e soluções que contribuam para a resolução dos desafios de negócios dos clientes de diversas áreas – siderurgias, papel e celulose, construção, varejo e agricultura -, indica França.
Como exemplo desse relacionamento próximo com os clientes, o executivo cita a recente inauguração do novo lingotamento contínuo de blocos e tarugos na usina de Pindamonhangaba (SP), com investimento de cerca de R$ 700 milhões. “O lingotamento possibilita a produção de aço clean steel, cuja aplicação melhora a limpeza do material, garante maior resistência e aumenta a vida útil dos produtos”.
Na ArcelorMittal, o foco, tanto no Brasil quanto no âmbito global, é desenvolver novos materiais com ligas de melhor desempenho técnico, além de soluções de engenharia para projetos inovadores e aplicações cada vez mais eficientes. No caso da construção civil, de acordo com Paula Couri, diretora de marketing e produtos da unidade de aços longos, busca-se elevar a performance dos produtos para impulsionar o nível de industrialização do mercado e alavancar construções cada vez mais sustentáveis e enxutas. “Já na indústria, aços com desempenho superior e com menor emissão de gases de efeito estufa são as grandes tendências”, afirma.
No âmbito de P&D da companhia – com vendas no Brasil de 14,4 milhões de toneladas e receita líquida de R$ 69,8 bilhões em 2023 – incluem-se hubs de inovação aberta, parcerias acadêmicas e fomento a colaboração interna. A empresa tem mais de 2 mil pesquisadores em 14 centros de pesquisa em todo o mundo, um dos quais localizado na catarinense Tubarão, onde foram investidos, em 2022, cerca de US$ 280 milhões.
“Para a indústria automotiva, por exemplo, o foco é buscar aumento de resistência aliado à redução de peso”, diz Fernando Martinelli, gerente geral do centro de P&D da ArcelorMittal. Veículos mais leves consomem menos combustível, gerando menos emissões de gases.
A tendência é que nos próximos anos sejam feitos investimentos cada vez maiores em pesquisas de tecnologia aplicada. Uma das fontes de recursos é o BNDES, que, de 2002 a maio de 2024, financiou cerca de R$ 14,2 bilhões em projetos de aumento de capacidade e modernização do setor brasileiro do aço. Um dos projetos apresentados no programa Inova Mineral é a construção de uma planta piloto de imãs permanentes, em conjunto com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com financiamento de R$ 737 milhões.
Muitos investimentos são feitos em parcerias com detentores de tecnologia, laboratórios e empresas especializadas em serviços de engenharia e projetos. Como a Afry, empresa europeia, com forte atuação no setor minero-metalúrgico. “Nossas soluções apresentam o viés de sustentabilidade, focando em ligas que minimizem o impacto ambiental”, diz Tiago Affonso Ferreira Nunes, diretor de mineração e metais Américas.
Fonte: Valor Econômico