Infraestrutura, chave para o desenvolvimento

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Investir em infraestrutura não só atende às necessidades imediatas de crescimento, mas também posiciona estrategicamente o país para o futuro

O mundo enfrenta desafios significativos que exigem uma nova abordagem para o desenvolvimento de infraestrutura. A transição para uma economia de baixo carbono, o realinhamento das cadeias de suprimentos, as mudanças demográficas e a urbanização acelerada impulsionarão transformações em todo o setor.

No estudo da BlackRock “The New Infrastructure Blueprint”, destaca-se a urgência em atender às novas demandas, que vão desde super baterias até modernos centros logísticos e aeroportos. Além disso, Larry Fink, CEO e presidente da BlackRock, recentemente ressaltou as necessidades significativas de infraestrutura para a Inteligência Artificial (IA), incluindo data centers e fábricas de semicondutores, essenciais para o consumo elevado de eletricidade pela IA.

No início de 2024, a BlackRock anunciou sua intenção de adquirir a Global Infrastructure Partners (GIP), sujeita a aprovações regulatórias. Essa aquisição, prevista para ser concluída no terceiro e quarto trimestre deste ano, visa criar a principal empresa de investimento em infraestrutura do mundo, aumentar o acesso para investidores e promover mudanças positivas no cenário global de infraestrutura, impulsionando crescimento econômico, sustentabilidade e inovação.

A importância de priorizar o desenvolvimento de infraestrutura é evidente. De acordo com o BlackRock Investment Institute (BII), o investimento anual em energia deve aumentar de US$ 2,2 trilhões para US$ 3,5 trilhões até 2030 e atingir US$ 4,5 trilhões até a década de 2040. Grande parte desse capital será alocada a projetos-chave para apoiar a transição para uma economia de baixo carbono, como a construção de parques eólicos, usinas solares e redes de transmissão de alta capacidade. Políticas governamentais, mudanças nas prioridades corporativas, avanços tecnológicos e novas preferências dos consumidores também impulsionarão essa transformação.

A BlackRock está trabalhando para criar oportunidades de financiamento de transição para mercados emergentes. Por exemplo, por meio de nosso fundo climático, o Climate Finance Partnership (CFP), já investimos no Quênia, Filipinas, Tailândia e Malásia. Além disso, no final de 2023, anunciamos um acordo definitivo para adquirir uma participação minoritária substancial na Brasol, empresa líder em energia solar no Brasil que desenvolve infraestrutura crítica de transição energética, incluindo energia renovável, subestações e equipamentos de mobilidade elétrica.

Esse investimento visa acelerar o fluxo de capital para infraestrutura como parte da transição climática, sendo o primeiro investimento do fundo no mercado privado na América Latina. No Brasil, o setor de energia apresenta um enorme potencial para a CFP. Como um dos mercados de energia solar que mais cresce e com um dos ecossistemas naturais mais importantes do mundo, o país oferece oportunidades significativas de crescimento econômico, investimento, criação de valor e impacto ambiental positivo.

A pandemia de covid-19 expôs a fragilidade das cadeias de suprimentos globais, impulsionando um movimento estratégico para aproximar a produção dos mercados consumidores, uma prática conhecida como nearshoring. Essa tendência está beneficiando países ao redor do mundo, incluindo o México, que se destacou como um centro de manufatura devido à sua proximidade com os Estados Unidos. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, o investimento estrangeiro direto (IED) no México atingiu aproximadamente US$ 44 bilhões em 2023, um aumento significativo em relação aos US$ 35 bilhões registrados em 2022. Esse valor é o mais elevado desde 2015, refletindo uma tendência positiva contínua e a crescente influência do nearshoring nos fluxos de investimento estrangeiro.

Para capitalizar a oportunidade do nearshoring, investimentos em transporte, telecomunicações e logística são essenciais, conforme destacado no relatório “Nearshoring in Mexico” de Mayer Brown. No Brasil, a importância estratégica é evidente devido ao seu significativo mercado consumidor e robusta capacidade industrial. O país pode alavancar sua posição econômica para se beneficiar do realinhamento das cadeias de suprimentos globais. Investimentos em infraestrutura permitirão ao Brasil modernizar essas cadeias, desenvolver novas redes de transporte e aprimorar os centros logísticos, posicionando-o para maior crescimento econômico e oportunidades de comércio internacional.

Olhando para o futuro, a população global deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas até 2050, de acordo com as Nações Unidas. Esse crescimento será mais evidente nos mercados emergentes, enquanto os países desenvolvidos enfrentarão uma redução na população em idade ativa. A urbanização também continuará a moldar a demanda por infraestrutura, com 70% da população mundial devendo viver em áreas urbanas até 2050, segundo o Banco Mundial. O crescimento populacional e a expansão das cidades exigirão melhorias significativas na infraestrutura, desde eletricidade e telecomunicações até sistemas de água e saneamento.

Diante desse cenário, os governos sozinhos, não conseguem financiar toda a necessidade de novos investimentos em infraestrutura, especialmente devido ao aumento da dívida pública. A dívida global triplicou desde meados da década de 1970, atingindo 92% do PIB mundial, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No caso dos Estados Unidos, a dívida nacional já ultrapassa US$ 34 trilhões. Em um artigo recente publicado no Financial Times, Larry Fink enfatizou a importância de uma agenda de crescimento global, na qual o capital privado desempenha um papel crucial na construção da infraestrutura necessária para o desenvolvimento.

Nesses cenários, o capital privado torna-se uma solução viável e necessária. Os investidores privados, liderados por grandes fundos de pensão e fundos soberanos, são atraídos pela estabilidade e pelos retornos potencialmente protegidos contra a inflação dos ativos de infraestrutura.

Assim, as parcerias público-privadas (PPPs) se tornarão cada vez mais atraentes. Os investidores têm a oportunidade de participar da transformação da infraestrutura essencial, alavancando avanços tecnológicos, mudanças regulatórias e uma demanda crescente por projetos de alto crescimento. Seja por meio de colaborações governamentais, criação de joint ventures ou estruturas de dívida sob medida, o capital privado desempenha um papel fundamental no avanço do desenvolvimento social.

O Brasil, como outros mercados emergentes, está em uma posição única para se beneficiar dessas tendências globais. Investir em infraestrutura não apenas atende às necessidades imediatas de crescimento, mas também posiciona estrategicamente o país para o futuro. A colaboração entre governos e capital privado será fundamental para aproveitar essas oportunidades e superar os desafios estruturais enfrentados atualmente.

Fonte: Valor Econômico