Hospital do Fundão luta contra o abandono
Francis Bogossian
Presidente da
Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro e coordenador do
movimento Frente Pró-Rio
O Rio de Janeiro, embora não seja mais a capital, continua representando
a imagem do Brasil. É o símbolo do País, tanto para os estrangeiros, quanto
para os brasileiros. Mas, ao desembarcar no Aeroporto Internacional Tom
Jobim, a primeira imagem que se tem, no caminho para a cidade, é de um
enorme prédio em ruínas. É o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF),
mais conhecido como Hospital do Fundão.
O hospital, inaugurado há 30 anos, até hoje não foi concluído. É a prova
do descaso do poder público federal, não especificamente deste governo, mas
dos vários governos que se sucederam ao longo desses anos. O Hospital do
Fundão é o hospital-escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Reunindo uma das mais competentes equipes médicas do País, o hospital não
consegue dar o atendimento que poderia, tanto por problemas de
infra-estrutura quanto de pessoal. A recuperação e a complementação do
hospital constituem mais uma bandeira da Frente Pró-Rio, movimento que
congrega mais de 30 entidades do estado do Rio.
Construído com a forma da letra grega PI (π), o Hospital do Fundão está
com metade de sua estrutura “condenada”, uma vez que a chuva e a maresia
atacaram as colunas e vigas dos pavimentos que tiveram suas esquadrias
roubadas. Os técnicos da Coppe-UFRJ examinaram recentemente o prédio e
concluíram que seriam necessários pelo menos R$ 60 milhões para recuperá-lo,
o que é inviável e anti-econômico. Este é o resultado do descaso do poder
público e do desrespeito com a destinação dos impostos que a população paga.
Na área em funcionamento, cuja estrutura está preservada, as instalações
hidráulica e elétrica são muito antigas, ocasionando constantes panes e
vazamentos, sendo necessário desativar, de uma hora para outra, enfermarias
e salas de cirurgia. Mesmo assim os contrastes dentro do hospital são
grandes. Existem áreas de excelência e outras bastante defasadas.
Das 21 salas de cirurgia existentes, funcionam apenas 13, mas muitas
vezes este número cai para apenas nove salas de cirurgia em funcionamento. O
número de leitos de CTI também limita o atendimento cirúrgico: são apenas
15. O resultado é que, em 2007, quase mil cirurgias deixaram de ser
realizadas. Mesmo assim, no ano passado, o HUCFF realizou 6.764 cirurgias.
Para atender a demanda, o hospital precisa ativar, urgentemente, os
leitos para os CTIs da Unidade Coronariana e UTIs pós-operatórias de
cirurgia de alta complexidade. É necessária a aquisição de novos leitos e a
contratação de profissionais especializados. O grande problema, no entanto,
é que o hospital não recebe verba para investimentos. Os repasses do
Ministério da Educação e Cultura (MEC) cobrem apenas 70% da folha de
pessoal.
São 3.500 servidores, entre médicos, professores, enfermeiros e
profissionais de saúde, mas uma parte significativa deste contingente é
terceirizada ou cooperativada. Isto consome perto de R$ 1,0 milhão por mês
que, ao se somar com as despesas de custeio do hospital, provoca um déficit
mensal que não consegue ser coberto pelos recursos repassados pelo SUS como
contrapartida dos serviços prestados.
O MEC precisa realizar com urgência concurso público para repor os
profissionais que se aposentaram.
O Hospital do Fundão é um modelo de excelência. Nas classificações
externas, os alunos de Medicina da UFRJ sempre obtêm as maiores notas.
Somando-se a isto, a qualidade da pesquisa desenvolvida dentro do hospital,
em áreas como células-tronco e transplantes, precisa ser incentivada e
estimulada.
O HUCFF não pode continuar sofrendo pela falta de investimentos. É hora
de mudar este quadro, fazendo com que o Hospital do Fundão que é um exemplo
de qualidade de ensino se transforme também em um modelo de centro de saúde.