Gastos em infraestrutura precisam de forte alta para que potencial de investimento seja atingido

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Levantamento da Abdib aponta que os investimentos precisam sair do patamar de 2,2% para pelo menos 4,3% do PIB ao longo de dez anos

A infraestrutura é um setor dinâmico que tem alto potencial para impulsionar a neoindustrialização, segundo cadeias previstas no plano Nova Indústria Brasil (NIB). Ao mesmo tempo, novos projetos e obras de melhorias nas áreas de transporte, energia, telecomunicações e saneamento são fundamentais para ampliar a competitividade e gerar crescimento econômico do país. No entanto, o grande desafio é aumentar os investimentos. Essas são as avaliações de participantes do 7º Fórum Brasil de Investimentos, realizado na semana passada em São Paulo, e de especialistas ouvidos pelo Valor.

Um levantamento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) aponta que os investimentos precisam sair do patamar de 2,2% para pelo menos 4,3% do PIB ao longo de dez anos. “A infraestrutura puxará segmentos desenhados na nova política industrial dentro de uma conceituação de sustentabilidade, menores emissões de carbono, como o cimento verde, o aço verde, agregando produtos inovadores à indústria”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib.

Embora aquém das necessidades, recentemente há um movimento positivo no fluxo de recursos. Em 2023, os investimentos em infraestrutura avançaram 20% sobre o ano anterior e a projeção da Abdib para este ano é de um crescimento de cerca de 15%, chegando a R$ 259,3 bilhões. “O ano de 2024 está ultrapassando o pico de investimentos registrado em 2014, considerando a nossa série histórica desde 2010. A diferença agora é o aumento da participação do setor privado, que está alcançando 75% do total”, comenta Tadini.

Historicamente, ele avalia que houve um amadurecimento desde a criação da lei das concessões, que completará 30 anos em 2025, assim como uma evolução na qualidade dos projetos. Contudo, os pontos de atenção são a governança e o fortalecimento das agências reguladoras, bem como a necessidade de reforço da estrutura do Ibama para agilizar a liberação das licenças ambientais.

Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES, destaca que o Brasil conta com vantagens comparativas para se desenvolver. São exemplos a matriz elétrica, que é 89% renovável, e a matriz energética, com 49% de fontes renováveis – acima da média da OCDE-, além do avanço em biocombustíveis. O país também possui reservas de terras-raras, essenciais para a transição. “Existe alto potencial em várias rotas tecnológicas, mas um gap na infraestrutura em relação às economias desenvolvidas, o que precisa mudar”, afirma. Entre as prioridades, ela menciona a necessidade de destravar ferrovias e hidrovias e aumentar a geração de energia renovável, além de mais redes inteligentes e sistemas de armazenamento.

Costa avalia que o mercado de capitais será um grande aliado com as debêntures e os títulos verdes ganhando espaço. “Aqui o prêmio verde [“greenium”] ainda é pequeno, e precisaria ser mais alinhado ao mercado internacional. A aprovação do mercado regulado de carbono contribuirá para avanço dos títulos de transição”, diz.

Miguel Setas, CEO do Grupo CCR, ressalta que a CCR RioSP fez uma grande emissão de debêntures incentivadas, totalizando R$ 9,41 bilhões, com apoio do BNDES. A operação incluiu uma série de debêntures de transição de R$ 500 milhões para uso de combustíveis renováveis no negócio e redução de pegada de carbono com material asfáltico reciclado, entre outras iniciativas. “Isso demonstra o que pode ser feito pelas empresas privadas, mas esse segmento ainda é embrionário, depende de greenium e do desenvolvimento do mercado secundário”, diz Setas.

Para André Clark, vice-presidente sênior da Siemens Energy para América Latina, as debêntures de infraestrutura são títulos atraentes que irão avançar. Esses papéis oferecem dedução de 30% dos juros pagos pelas empresas emissoras no cálculo de impostos, diferentemente das debêntures incentivadas, que isentam os investidores pessoas físicas de imposto de renda nos ganhos auferidos.

Fonte: Valor Econômico