Agenda social é pano de fundo das discussões do GT de infraestrutura no G20
Grande parte dos holofotes da política internacional estão voltados ao Brasil, que pela primeira vez assumiu a presidência do G20, o principal fórum de cooperação econômica internacional que reúne as 19 maiores economias do mundo, além dos blocos da União Europeia e da União Africana.
Agregando dois terços da população mundial, 85% do PIB global e 75% do comércio internacional, o G20 apoia a promoção de um diálogo aberto e construtivo entre países industrializados e emergentes, em busca de iniciativas nacionais e internacionais que promovam o avanço de temas de relevância mundial, como o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente, as mudanças climáticas e a desigualdade socioeconômica.
Destaca-se, ainda, que o Brasil vai sediar a Cúpula de Líderes e as mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho e forças-tarefas.
O grupo de trabalho de infraestrutura, um dos nove grupos técnicos que constituem a trilha de finanças do G20, terá como pano de fundo a questão social. Esta centrará boa parte das discussões e norteará a condução da agenda. Dentre as questões fundamentais que serão discutidas um dos principais focos são os projetos e serviços de infraestrutura para mitigar a pobreza.
Muito adequado e até mesmo urgente. Em primeiro plano, a ampliação de investimentos em infraestrutura é política central para a geração de emprego e renda, seja por meio das ocupações diretas (relacionados a construção de obras), indiretas (relacionados a produção dos insumos para a construção civil) ou remotas (as quais resultam das demandas das obras já prontas). Uma infraestrutura de alta qualidade pode gerar novas atividades, elevar a produtividade e diminuir os custos de produção e transação, o que leva a um substancial aumento do produto nacional.
Estudos sugerem que um gasto na ordem de US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 5,7 milhões na data de escrita deste artigo) de investimento público em estradas, energia e saneamento básico pode levar à criação de 3 a 7 postos de trabalho direto nas economias industrializadas, 10 a 17 nos países emergentes e 16 a 30 nas nações de baixa renda. Dessa forma, investimentos alocados em infraestrutura no montante de 1% do PIB global podem gerar de 20 a 33 milhões de empregos, diretos e indiretos.
Um outro aspecto a ser analisado diz respeito à qualidade dos serviços prestados. Como é de se imaginar, não necessariamente um maior crescimento econômico é acompanhado pela diminuição da pobreza, essencialmente em países subdesenvolvidos, que apresentam um crescimento da renda seguido pela elevação da desigualdade socioeconômica.
Neste sentido, torna-se extremamente importante a compreensão da essencialidade dos bens de infraestrutura para o desenvolvimento humano, que não apenas auferem efeitos positivos sobre nível de renda, mas que também representam uma possibilidade de reversão dos aspectos não monetários da pobreza, como as melhorias na saúde, educação, nutrição, ampliação do acesso à informação e coesão social.
Estudos realizados pela revista World Development sugerem que, com a atenção à oferta e qualidade, um aumento de 1% no estoque de infraestrutura em estados e municípios pode, respectivamente, estar associado a uma queda de 18% e 7% de chances de pobreza domiciliar. Além disso, tais investimentos devem contribuir com a redução da desigualdade social, como afirmou a revista Energy Policy, através de um estudo que prevê a redução de 2% a 4% da desigualdade de renda mediante a expansão de 10% no consumo de energia elétrica residencial.
Para além da erradicação da pobreza, os grupos de trabalho do G20 também têm avançado em pautas sobre o desenvolvimento sustentável. Nas discussões sobre infraestrutura, também destacam-se os painéis que tratam das formas de estímulo de recursos públicos e privados para a manutenção de recursos naturais e a construção de novos projetos adaptados às mudanças climáticas.
Vale destacar que o financiamento da infraestrutura encontra-se cada vez mais atento e atrelado às práticas de governança social, ambiental e corporativa, resultando e influindo para a criação de um pacto global que leve adiante a ideia de tornar a agenda verde realidade.
É chegada a hora de compreender a infraestrutura para além do aço ou do concreto. Seus pilares são também capazes de sustentar verdadeiras mudanças nas condições de sociabilidade das nações que integram o planeta. Esta é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, especialmente em um mundo repleto de intempéries sociais e políticas-econômicas, que necessita que as que pontes construídas não apenas “levem ao outro lado”, mas que nos conduzam a um futuro melhor, mais justo e humano.
Fonte: Jota Info.