Frente Pró-Rio retorna ao Hospital do Fundão
Francis Bogossian,
engenheiro e coordenador da Frente Pró-Rio
Desde sua criação, a Frente Pró-Rio incluiu a situação deplorável do Hospital do Fundão (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho) na sua lista de pleitos à bancada federal do Rio de Janeiro, pela penúria e pelo abandono em que se encontrava. O hospital-escola da maior universidade federal brasileira, antiga referência, já estava, naquela ocasião, vitimado pelo mesmo processo de deterioração por que vem passando a Cidade do Rio de Janeiro, desde que deixou de ser a capital federal.
Em face da situação deficitária e da falta de verbas do hospital, a Frente, que congrega mais de 30 entidades, conseguiu, a partir de 2008, dar prioridade ao tema em sua extensa agenda. Realizou sua reunião mensal dentro do próprio hospital, com o objetivo de conhecer melhor os problemas da instituição para tentar mobilizar a administração federal em prol de soluções.
É bom lembrar que o Hospital do Fundão reúne uma das mais competentes equipes médicas do país, sob a direção do dr. Alexandre Pinto Cardoso. É triste, entretanto, constatar que, a despeito da excelência do corpo médico, não consegue dar o atendimento que poderia, tanto por problemas de infraestrutura física quanto de pessoal das demais categorias profissionais.
Construído com uma planta em formato da letra grega Pi, o imóvel está com a metade de sua estrutura condenada. A chuva, a maresia e outros agentes agressivos atacaram os pilares e as vigas dos pavimentos abandonados que ainda tiveram suas esquadrias roubadas. Os técnicos da COPPE – Coordenação do Programa de Pós-Graduação da própria Universidade Federal examinaram o “paciente” e concluíram que seriam necessários pelo menos R$ 60 milhões para recuperá-lo. A demolição foi descartada após parecer do Clube de Engenharia e do Crea. Devem ser demolidos os dois últimos andares da “perna-seca” e recuperado o restante, onde os dois primeiros andares serão destinados ao atendimento ambulatorial do HUCFF e, nos demais andares, serão construídos salas de aula, laboratórios etc.
Na área em funcionamento, cuja estrutura está aparentemente preservada, as instalações hidráulicas e elétricas, muito antigas, ocasionam constantes panes e vazamentos, sendo necessário desativar setores de uma hora para outra, desde enfermarias até salas de cirurgia. Existem, assim, contrastes e defasagens que prejudicam todo o complexo hospitalar.
Outra preocupação é com relação à decisão do Tribunal de Contas da União, que transformou o Hospital Universitário em unidade orçamentária do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Isso significa que todas as compras e pagamentos têm de ser feitos (desde julho de 2008) diretamente pela Universidade e não mais pela Fundação José Bonifácio. Tal medida foi tomada sem que se dispusesse de tempo hábil para treinar pessoal e promover a mudança sem prejuízo dos fluxos de pagamentos e de compras. Foi necessário paralisar algumas atividades e reduzir o ritmo de outras, causando novos prejuízos inaceitáveis a uma instituição pública que já sofria os problemas comuns a todo o sistema de saúde do país. Hoje já está mais normalizada a situação, porém persistem os problemas de demora nas compras, pois tudo tem de ser aprovado previamente pela Procuradoria da UFRJ, num processo às vezes muito mais lento do que as demandas de uma Unidade de Saúde.
A entidade continua sem recursos para os investimentos necessários e, como as despesas de custeio são superiores aos recursos que recebe do SUS, o Hospital do Fundão permanece se deteriorando a olhos vistos, enquanto a equipe médica tem de fazer verdadeiros milagres com instalações deficientes, falta de pessoal auxiliar qualificado e de materiais essenciais.
A Frente Pró-Rio está junto com a bancada parlamentar do Rio, reportando-se aos ministros da Saúde, da Educação e da Casa Civil, para tentar mudar esse quadro, uma vez que o Hospital do Fundão faz apenas 40% dos atendimentos a pacientes do município. O restante vem da Região Metropolitana e do interior do estado.