A triste reprise das obras paradas
Francis Bogossian
Com a proximidade do período eleitoral, o tema das obras paradas retorna à pauta, seja na imprensa, nos debates formais entre os candidatos a cargos públicos, ou em conversas informais. O assunto precisa ser motivo de questionamentos e, principalmente, acompanhado de perto pelas associações e entidades de classe que representam os principais personagens envolvidos no setor da construção civil. Vivemos em um país em que a paralisação de obras é uma triste rotina, que nos faz uma nação onde as construções já parecem ruínas. Isto precisa mudar.
Recentes reportagens e artigos na imprensa trazem novas informações sobre o tema. Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), divulgado no fim do mês passado, apontou que há quase sete mil obras paralisadas. Seriam necessários R$ 9,3 bilhões, para que fossem concluídas. Estamos falando em exatos 6.932 projetos não finalizados de casas populares, escolas, unidades de Saúde, iluminação, saneamento e pavimentação de estradas em municípios de todo o Brasil.
Realizada a partir da análise de cinco ferramentas do governo onde as obras estão registradas, a pesquisa diz respeito ao período de 2012 a 2021. O Nordeste concentra a maioria desse conjunto de obras paradas, com 52,6%. O restante se divide entre Norte (17,7%), Sudeste (14,7%), Sul (7,9%) e Centro-Oeste (7,1%). De acordo com o levantamento da CNM, a construção e a restauração de unidades escolares da rede pública de ensino municipal lideram o quesito obras paralisadas, com 2.668 unidades.
No Rio de Janeiro, os cariocas conhecem bem os impactos causados por obras paralisadas. Um triste exemplo é o BRT Transbrasil. Previstas para serem concluídas em maio de 2017, as intervenções passaram por anos de paralisação e abandono, congestionando o tráfego em uma das principais vias da cidade. Do total de 18 estações previstas, três ainda estão sendo construídas.
Não faltam projetos, nem necessidades, mas os recursos rareiam em todas as esferas: municipal, estadual e federal. O cenário da Economia no país não é otimista. Infelizmente, o cidadão brasileiro está relembrando o que a inflação pode fazer com sua renda domiciliar. Também está revivendo a taxa Selic mais alta, chegando a 12,75% neste mês de maio. Para piorar o quadro, levantamento da Austin Rating aponta que a taxa de desemprego no Brasil deve ficar entre as piores do mundo neste ano.
Quando assistimos a essa reprise sem fim do filme de “obras paradas”, parece não haver uma luz no fim do túnel. Obras paralisadas significam projetos de esperança parados, construções essenciais colocadas de lado, desperdício de verba pública e o congelamento de vagas de emprego no setor da construção civil.
No período que antecede as eleições, essa reprise sem fim nos lembra que é preciso fazer escolhas conscientes e buscar propostas mais responsáveis de lidar com o orçamento público. Afinal, dele depende a continuidade de obras que podem levar desenvolvimento, Saúde, Educação e moradia para quem precisa, além de gerar muitos empregos para o setor da construção civil.
* Francis Bogossian é presidente Honorário Vitalício da AEERJ