Envelhecimento das cidades cria demanda por mais reformas

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Construtora se especializa na recuperação de edifícios históricos, mas também há oportunidade para ‘retrofits’ comerciais

O envelhecimento dos edifícios abre oportunidades de negócio. A recuperação de estruturas danificadas é o principal ramo de atuação da Concrejato, construtora que se afirmar como especializada em “brownfield”, termo para obras feitas onde já existe uma construção – o contrário, a obra feita do zero, é o “greenfield”.

Ela se dedica especialmente ao restauro de imóveis históricos. O Rio de Janeiro tem sido a casa de muitas dessas obras, como a do Museu Nacional, que sofreu um incêndio grave em 2018, e do Palácio Gustavo Capanema, que a Concrejato entrega em novembro.

“As cidades estão envelhecendo, muitas têm construções de mais de 100 anos”, afirma Eduardo Viegas, presidente da empresa. As estruturas precisam de reformas, mas também é necessário que se veja valor na recuperação dos prédios. “Se botar na tese de investimento, não se paga, mas [as obras de restauro] têm benefício intangível para a sociedade”, afirma.

Se botar na tese de investimento, [o restauro] não se paga, mas tem benefício intangível”
— Eduardo Viegas

O Palácio Gustavo Capanema, dos anos 1940, é um edifício modernista que voltou aos holofotes após quase ser vendido no governo Bolsonaro. Com a reforma, vai abrigar partes do Ministério da Cultura e exposições. “É a maior intervenção no prédio desde que foi construído”, afirma Viegas.

O contrato com a Concrejato foi de R$ 85 milhões. Sua empresa implantou estrutura para ar-condicionado, modernizou as instalações elétricas e de incêndio, refez o piso, com as características originais, e reinstalou o mobiliário.

A Concrejato também recupera estruturas para os setores de óleo, gás e rodovias, mas 65% da sua receita vem do restauro de edifícios históricos e culturais. “Como vivemos no Brasil, se você fica em um setor só e tiver crise, a empresa acaba”, diz Viegas. A companhia teve receita de R$ 330 milhões em 2023 e prevê R$ 500 milhões neste ano, patamar que considera adequado.

Ainda em 2024, entregou outras obras de restauro no Rio, como o edifício Docas de Santos, sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e o Palácio da Democracia, sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio. Até dezembro também conclui o restauro das cúpulas e da fachada do Museu de Belas Artes.

A companhia tem tentado atrair mais obras de restauro com capital privado, para balancear projetos com recursos públicos ou feitos via lei Rouanet, que são a maioria.

O fluxo de pagamento dos projetos com recursos públicos é mais delicado. Obras de grande porte, como a recuperação do Museu Nacional, precisam ser divididas em várias pequenas fases, o que atrapalha o andamento do trabalho. “O recurso para no meio da obra, e temos que dar um jeito de não parar [as atividades], reduzir o ritmo”, diz Viegas.

Pelas leis de incentivo, o recurso vem de uma vez, mas ajustes no orçamento, comuns em obras de restauro, podem ser um problema.

Com clientes privados, a Concrejato está fazendo, em São Paulo, o restauro da estação Júlio Prestes, para a CCR, a reforma de uma das fachadas do Copan, e revitalizou o prédio da Casa Bradesco, espaço cultural no complexo Cidade Matarazzo.

No Rio, devem começar no início de 2025 as obras de restauro de prédios da antiga Universidade Gama Filho, um bem tombado e que teve parte dos prédios implodidos em 2023. O contratante é o Sesc.

Com terrenos escassos em suas áreas mais valorizadas, a capital fluminense tem atraído projetos de reforma de edifícios, históricos ou nem tanto. Na Cinelândia, a Brookfield vai reformar um prédio comercial que tem mais de 100 anos e transformá-lo em residencial para locação.

No Leblon, a gestora HSI está reformando o prédio que foi sede da Oi, com 20 mil m2 de área locável. O edifício manterá o uso comercial, mas será elevado a prédio de alto padrão, ou “AAA” na classificação do mercado de imóveis corporativos. Segundo Bruno Greve, diretor da HSI, a entrega está prevista para meados de 2026.

Na Gávea, a incorporadora Aros,Inc transforma um prédio comercial, que teve preços depreciados na pandemia, em residencial de alto padrão, com unidades de 160 m2. O valor geral de venda (VGV) é de R$ 250 milhões e a entrega deve ocorrer em 2027. O projeto também tem participação da incorporadora AZO.

No Humaitá, a incorporadora Fator comprou um edifício comercial da Prefeitura do Rio e está transformando em residencial, com 157 unidades de um quarto ou estúdios. A antiga repartição pública terá áreas comuns e até piscina no terraço.

Fonte: Valor Econômico