Lúcia Helena de Camargo
Tecnologias possibilitam até o reúso de água para consumo humano
A economia circular da água desponta como uma das saídas para garantir a segurança hídrica. “Já temos tecnologia para aproveitar a água de reúso, com técnicas que vão da utilização do lodo do esgoto na produção de fertilizantes e geração de energia elétrica até filtragem de maneira eficiente para obter água potável”, diz Marcel Costa Sanches, presidente nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária ambiental (Abes).
Ele cita como exemplo o Aquapolo Ambiental, que em dez anos forneceu 108 milhões de m3 para processos industriais no ABC Paulista e no polo petroquímico de Capuava, em Santo André (SP). Em Franca, também em São Paulo, um projeto da Sabesp abastece 40 carros com biogás gerado pelo tratamento de esgoto.
Outra tecnologia já existente, embora cara, é a dessalinização. Segundo a Water Research Foundation, dessalinizar 1 m3 de água do mar custa o equivalente a dez vezes o valor do mesmo volume tratado a partir do esgoto sanitário. A maior usina de dessalinização do país é da ArcelorMittal, na Região Metropolitana de Vitória, com capacidade para 140 litros por segundo. “Na refrigeração dos equipamentos de produção de aço, 96% da água que usamos vem do mar, e somente 4% são provenientes do rio Santa Maria da Vitória”, explica Fabricio Assis, diretor de produção de gusa e energia na ArcelorMittal Tubarão.
Ainda há, entretanto, entraves para o consumo humano da água de reúso. “Precisamos de políticas públicas, tanto na regulação dos processos quanto na publicidade, esclarecendo as pessoas de que a transformação em água limpa é segura”, diz Sanches. Segundo ele, os processos atuais eliminam 100% dos contaminantes.
Pesquisa da consultoria GlobeScan, em parceria com a ONG WWF, revelou que 81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável, contra 58% na média mundial. “Temos que aproveitar essa preocupação para fazer chegar informações de qualidade ao público sobre os benefícios da reciclagem de água”, diz Marcio José Silva, CEO do Aquapolo Ambiental.
O consenso entre pesquisadores é que os efeitos da crise climática tendem a aumentar a escassez hídrica nos próximos anos. Em 2023, a cobertura de água no território brasileiro ficou 1,5% abaixo da média histórica, de acordo com o MapBiomas Água. E a escassez hídrica pode gerar conflitos. Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) descobriram que as desavenças por estresse hídrico cresceram 481% de 2005 a 2021.
Fonte: Valor Econômico