Três lagoas e dois canais acumulam o equivalente a 920 piscinas olímpicas, ou 2,3 milhões de metros cúbicos de puro lodo e sedimentos. A reparação do desastre monumental e histórico espalhado por águas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, deveria ter sido legado olímpico da Rio 2016, mas não passou da promessa. No fim de abril, as obras de dragagem, para limpeza e retirada desse material poluente, finalmente começaram. A Iguá, concessionária que assumiu a operação dos serviços de água e esgoto na região, tem prazo de três anos para finalizar as intervenções no complexo lagunar.
O trabalho começou pela Lagoa da Tijuca, onde deve permanecer por 24 meses. A região, considerada a mais crítica, concentra a parte principal dos sedimentos e resíduos e tem a menor profundidade de água, de apenas 30 centímetros. As equipes precisam usar uma espécie de retroescavadeira flutuante para remover o lodo, tornar o canal raso mais profundo e, então, permitir a passagem de máquinas e equipamentos pesados. A meta é chegar a uma profundidade de 2,5 metros.
O mesmo procedimento chega à Lagoa de Jacarepaguá ainda em dezembro deste ano, e, um ano depois, será a vez da Lagoa do Camorim. Os canais da Joatinga e Marapendi vão receber obras a partir de abril e julho de 2026, respectivamente.
Para onde vão os resíduos
O material dragado pela escavadeira é direcionado para uma embarcação, chamada de batelão, onde uma espécie de peneira gigante o filtra, separando os elementos sólidos dos orgânicos (lodo e sedimentos). Os sólidos serão destinados para aterros sanitários e os orgânicos vão para cavas subterrâneas, que já existem no fundo das lagoas, criadas entre as décadas de 50 e 60 durante o processo de aterramento para urbanização da Zona Oeste. Na época, uma grande quantidade de areia foi retirada do fundo das lagoas, formando essas cavidades, que se parecem com um túnel. O material dragado na Lagoa da Tijuca vai preencher a cavidade próxima do Condomínio Península, na Barra.
Outro desafio é conter o despejo irregular de esgoto na bacia do rio Arroio Fundo, localizado na Cidade de Deus, no Canal do Anil e no Arroio Pavuna, os mais poluídos da região, e que deságuam diretamente nas lagoas. Uma medida que está sendo implementada para evitar que a água poluída chegue até o complexo lagunar é a criação de Coletores de Tempo Seco (CTS), que interceptam o esgoto na galeria pluvial e o direcionam para o tratamento correto.
Em abril, foram instalados 26 pontos de coleta: cinco no Canal das Taxas, no Recreio, e 21 na bacia do Rio Arroio Fundo, próximo da Cidade de Deus. Com essa medida, deixaram de ser despejados no sistema lagunar 21 milhões de litros de esgoto por dia.
— A dragagem é o pontapé inicial, e um dos fatores que vão atuar na reconstituição dos lagos naturais para permitir uma troca hídrica, renovando a água das lagunas e melhorando a qualidade da água. Ainda tem o processo de ampliação das redes de água e esgotamento sanitário em comunidades. O ponto ótimo vai ser visto quando todas as ações estiverem finalizadas – afirma o diretor de operações da Iguá, Lucas Arrosti.
A extensa Baixada de Jacarepaguá tem ocupação populacional antiga, que remonta à presença colonial do século XVII, segundo explica Marcelo Motta, geógrafo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e diretor de Meio Ambiente da PUC-Rio. A urbanização se intensificou nos anos 1950, e, a partir das décadas de 70 e 80, viveu processo intenso de adensamento. A infraestrutura não acompanhou essa expansão. Matéria na íntegra.
Fonte: O Globo