Devagar e às vezes parando
Lenta liberação de recursos pela prefeitura faz com que obras atrasem ou
sejam interrompidas
O atraso na conclusão de obras vem impondo aos cariocas um longo convívio
forçado com tapumes, buracos e entulho. Projetos de urbanização como os de
Inhaúma, Campo Grande, Madureira, Marechal Hermes e Tijuca, entre outros, estão
parados ou atrasados há meses. O motivo, segundo a Associação das Empresas de
Engenharia do Rio (Aeerj), é a lenta liberação de recursos pela prefeitura, o
que compromete os cronogramas. A conservação de áreas já beneficiadas pelo
projeto Rio Cidade, como Botafogo e Leblon, também deixa a desejar, afirmam
moradores.
A Avenida Adhemar Bebiano, em Inhaúma, por exemplo, está com crateras nas
calçadas e dois meios-fios paralelos (o novo e o antigo), que confundem os
motoristas. Iniciado em agosto de 2004, o Urb-Cidade do bairro deveria ser
entregue no primeiro semestre deste ano. Depois de sucessivas interrupções, a
última delas de cerca de três meses, a obra foi novamente retomada, há cerca de
um mês, mas está longe do término.
— O que mais tem é gente reclamando. As pessoas batem no barracão da empresa,
onde só ficou um vigia, para perguntar por que o serviço não fica pronto nunca e
ele manda reclamar com o (prefeito) Cesar Maia — contou Antonio de Oliveira,
dono de uma serralheria num dos trechos mais esburacados da avenida.
A situação se repete em outros bairros, como Campo Grande, onde as obras do
Urb-Cidade nas ruas Campo Grande e Barcelos Domingos ficaram paradas, segundo os
moradores, por cerca de um ano.
— Eles não terminam a obra por causa dos Jogos Pan-Americanos. O Pan tem data
para acontecer. Já Campo Grande não é prioridade para a prefeitura — afirmou o
comerciário Rubens Plácido, de 65 anos, morador do bairro.
No mês passado, a empreiteira responsável retomou os serviços que, pelo
cronograma inicial, já deveriam estar prontos.
Crea: interrupções encarecem obras
Para a Aeerj, o problema está na forma como a prefeitura faz a liberação
das verbas para os projetos. O diretor-executivo da entidade, João Américo
Gentile de Carvalho Mello, afirma que o modelo de empenho parcial dos valores
não vem atendendo aos cronogramas:
— Em vez de pagar todo o valor da obra de uma vez, a prefeitura vai fazendo
repasses periódicos de frações. Isso obriga as empresas a tocarem lentamente as
obras. Esse modelo impede a empresa de fazer um planejamento global para a obra,
pois ela não sabe nunca quando vai receber o próximo repasse.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ),
Reynaldo Barros, observa que as interrupções das obras acabam elevando os
custos:
— O custo de uma obra aumenta com a desmobilização do canteiro e com a perda
e a desvalorização de material.
O Urb-Cidade da Freguesia, em Jacarepaguá, que deveria ser entregue neste
primeiro semestre, mas só teve 40% das obras executadas até agora, é um exemplo
do problema. As obras freqüentemente são interrompidas ou têm o número de
operários reduzido. Algumas semanas atrás, apenas sete trabalhavam. Ontem, o
número era maior.
— Aqui já tivemos mais de cem funcionários em alguns momentos e menos de dez
em outros. Depois do carnaval a prefeitura ficou alguns meses sem pagar à
empresa — disse um operário, pedindo para não ser identificado.
O vice-presidente da Associação de Moradores da Freguesia, Jorge da Costa
Pinto, encaminhou um abaixo-assinado para o prefeito pedindo a liberação total
da verba e solicitando explicações:
— A prefeitura tem que parar com esse pinga-pinga de dinheiro, que faz com
que a obra não ande.
Os atrasos e interrupções, para o vereador Eliomar Coelho (PSOL), da Comissão
de Assuntos Urbanos da Câmara, são motivados pela falta de planejamento:
— As obras não contam com um cronograma físico-financeiro e começam sem
conhecimento dos locais de intervenção. O resultado é a falta de verbas e as
demandas judiciais que atrasam tudo, como acontece no Lagoon, no Autódromo e no
Rio Cidade da Rua Uruguai.
As queixas não estão restritas aos projetos em execução. Moradores de bairros
já beneficiados reclamam da má conservação. No Leblon, canteiros da Avenida
Ataulfo de Paiva, uma das primeiras vias a serem beneficiadas pelo Rio Cidade,
em 1995, estão destruídos. A presidente da Câmara Comunitária, Evelyn Rosenweig,
diz que muitas luminárias estão sem lâmpadas. A prefeitura prometeu há um mês
fazer a substituição, mas o trabalho não foi executado. Em Botafogo e no Méier,
as calçadas reformadas pelo Rio Cidade estão sendo descaracterizadas.
— Os órgãos e as concessionárias que fazem obras nunca remendam os buracos
com o mesmo material original. As ruas estão com um aspecto sujo — diz a
presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiaradia.
Na Taquara, quase um terço das bolas de ferro que separam as pistas da
Avenida Nelson Cardoso desapareceram e não foram respostas. Na Rua Camalaú, em
Guadalupe, os buracos no asfalto e o mato crescendo junto ao meio-fio dão a
impressão de que o local nunca passou pelo Urb-Cidade. Mas as obras foram
inauguradas há menos de três anos.