Em junho de 2000, um assaltante fez reféns num ônibus da linha 174. O país parou para acompanhar o drama carioca pela TV. Depois de quatro horas e meia de tensão, o cerco terminou em tragédia. O ladrão matou uma passageira grávida e foi estrangulado num camburão da PM.
Na semana seguinte, o presidente Fernando Henrique Cardoso convocou a imprensa e anunciou o primeiro Plano Nacional de Segurança Pública. O Planalto prometia sair do imobilismo e ajudar os estados a combater o crime. O roteiro se repete há 23 anos, com muito estardalhaço e pouco resultado efetivo.
A nova crise de segurança no Rio reacendeu os apelos por algum socorro federal. Há um problema: o presidente Lula não parece seguro do que pode e do que pretende fazer.
Na semana passada, o governo começou a enviar soldados da Força Nacional de Segurança para agir no patrulhamento em vias expressas. Os homens ainda chegavam à cidade quando a milícia incendiou 35 ônibus e um trem na segunda-feira.
Ontem o presidente declarou que “está pensando” em recriar um Ministério da Segurança Pública. A ideia foi prometida na campanha e abandonada após a eleição. Hoje divide opiniões na Esplanada. O ministro da Justiça, Flávio Dino, considera que seria uma solução ilusória e um erro político.
Desde FH, todos os presidentes encenam o mesmo número. Ameaçam assumir protagonismo na segurança, mas recuam diante do risco de desgaste na imagem. Na dúvida, o ônus fica com os governadores. Em situações excepcionais, o Planalto recorre às Forças Armadas. Não tem dado certo, como mostra a experiência de várias GLOs e uma intervenção federal no Rio.
Enquanto Lula não se decide, o governo age pontualmente. Até aqui, a ordem é usar mais a Polícia Federal e mobilizar Marinha e Aeronáutica contra a entrada de drogas e armas no estado.
Das autoridades locais, é difícil esperar alguma coisa. Sem comando sobre as polícias, o governador Cláudio Castro parece viver numa realidade paralela. “O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado”, tuitou, na segunda-feira. Enquanto ele garganteava nas redes, a Zona Oeste vivia um dia de terror, com transportes parados e 17 mil crianças sem aulas.
Fonte: O Globo