As empresas brasileiras ainda têm, certamente, muito o que avançar na agenda ESG. Não temos notado uma proporção maior de companhias divulgando metas de redução no período, e os compromissos com a neutralização de carbono concentraram-se, em sua maioria, no ano de 2050.
Porém, em 2023, observamos uma preocupação crescente com temas climáticos, seja pelo uso de frameworks voltados para as emissões de gases causadores do efeito estufa e aumento do reporte de temas materiais, seja pela preocupação com as mudanças climáticas – uma das mais citadas como ODS [Objetivo de Desenvolvimento Sustentável] prioritários – e discussão sobre riscos estratégicos envolvendo esses assuntos.
O volume na divulgação de relatórios com temas ESG vem crescendo entre as empresas do Ibovespa. Neste ano, 91% das companhias de capital aberto no país publicaram relatórios destacando os resultados não financeiros do ano. Esta é a maior proporção de reportes dos últimos três anos, quando a PwC Brasil e o Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil passaram a analisar estes resultados no estudo “ESG no Ibovespa”.
Nesta edição foram analisadas 82 empresas, entre maio e agosto de 2023. Dentre todas as companhias pesquisadas, 91% apresentaram algum tipo de relatório relacionado a aspectos ESG. O número é o maior já registrado pela pesquisa (86% divulgaram em 2020 e 82%, em 2021).
Vale mencionar que, nesta edição, pelo menos nove índices de mercado relacionados a ESG foram citados nos relatórios. Os destaques foram os Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (ISE B3), citado por 69% deles, e o Índice Carbono Eficiente, também da B3 (ICO2), por 52%, ambos com crescente participação desde o início do período pesquisado. A novidade foi a inclusão do Índice TEVA Mulheres na Liderança e do Bloomberg Gender-Equality Index.
A confiabilidade desses índices é um fator importante ante a recente publicação de duas normas pelo Conselho Internacional de Normas de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês) que preveem uma apresentação e exigências mínimas de informações sobre sustentabilidade de maneira geral (IFRS S1) e mudanças climáticas (IFRS S2) e que já foram incorporadas ao quadro regulatório brasileiro pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além da resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que adotou as Normas Brasileiras de Preparação e Asseguração de Relatórios de Sustentabilidade já convergidas aos padrões internacionais
Entre os temas ambientais, a pesquisa revela que, apesar de se verificar uma preocupação maior em relação às mudanças climáticas e maior adesão ao GHG Protocol, poucas empresas afirmaram em seus relatórios que já se consideram carbono neutro – 93% delas não se declararam carbono neutro. A proporção de relatórios com metas de redução não se alterou em comparação com o estudo anterior. Houve, no entanto, um aumento dos objetivos validados pela ciência: 30% das empresas que divulgaram metas de redução indicaram que elas foram validadas, o que representa um crescimento substancial em relação aos 19% obtidos na edição anterior.
Com a publicação das novas normas de sustentabilidade relacionadas ao clima, espera-se que ocorra um maior detalhamento dos planos de descarbonização das empresas, ampliando a transparência dos compromissos assumidos, das metodologias utilizadas, dos planos de ação e dos resultados intermediários.
As divulgações relacionadas à inclusão e diversidade também têm avançado em relação a anos anteriores. Além de reportar dados relacionados à presença de homens e mulheres nas organizações (a participação de mulheres na alta liderança é divulgada por 84% das companhias e nos Conselhos de Administração por 83% delas), nota-se maior divulgação de informações demográficas acerca dos marcadores de raça e orientação sexual.
Não obstante, a maior transparência dos dados também evidencia o quanto é necessário que as companhias abertas avancem nas questões de inclusão e diversidade, especialmente no que tange a presença de mulheres e negros em cargos de alta liderança e no Conselho de Administração.
Nos relatórios analisados, a agenda ESG foi recorrente nos temas de riscos estratégicos das empresas. Os riscos climáticos foram os mais citados, 80% das empresas analisadas informaram que os riscos socioambientais já estão incorporados à matriz de riscos estratégicos e, portanto, integram o programa de riscos corporativos. Esse é um requerimento de divulgação importante das novas normas de sustentabilidade, e os resultados demonstram que as empresas têm avançado de forma relevante nesse sentido.
Em relação à governança corporativa, é nítida a evolução na divulgação de estatísticas nos canais de denúncia, passando de 57% da primeira edição da pesquisa para 80% dos relatórios analisados nesta.
É importante destacar ainda que a pesquisa deste ano aponta uma maturidade maior na busca pelo aumento da credibilidade das informações reportadas por meio da verificação independente.
Na primeira edição, 73% dos relatórios analisados foram submetidos à verificação ou asseguração por uma parte independente. Nesta edição, esse percentual subiu para 83%. Um destaque ainda maior se refere à evolução da asseguração por auditoria independente: nesta edição, 71% dos relatórios submetidos a algum tipo de verificação foram assegurados por auditoria independente, reforçando a confiança e a credibilidade da atividade.
Fonte: Valor Econômico