Marcela Capobianco
Unindo 50 ruas da Zona Oeste, região mostra sua cara como polo de cultura e lazer, mas sofre com a falta de infraestrutura de saneamento
Em meados de julho, cinquenta ruas encravadas na Zona Oeste, que outrora pertenceram à Barra da Tijuca, ao Camorim e a Jacarepaguá, tiveram seus respectivos CEPs redirecionados para o 166º bairro do Rio de Janeiro: a Barra Olímpica. O projeto de lei que motivou a mudança levou quase catorze anos para virar realidade (ou seja, nasceu bem antes dos Jogos de 2016) e foi sancionado em maio pelo prefeito Eduardo Paes.
“Havia muita cobrança dos moradores para que a região ganhasse uma identidade própria, mas a proposta acabou caindo no esquecimento porque a Câmara de Vereadores tinha outras prioridades. As discussões sobre legado olímpico voltaram e ajudaram a ressuscitar a pauta”, esclarece Carlo Caiado, presidente da Casa e um dos autores do projeto, adiantando-se em assegurar que o preço do IPTU na área não vai sofrer alterações.
Mas há algumas mudanças práticas, a exemplo da troca do batalhão de Polícia Militar responsável por esse conjunto de ruas, que passa a ser o 31º BPM, perto do Riocentro, e não mais o 18º BPM, localizado na Taquara.
Ao observar o intenso movimento de famílias nos fins de semana no Parque Rita Lee, inaugurado há três meses no Parque Olímpico, e a massiva oferta de apartamentos disponíveis para venda no novo bairro do Rio, fica fácil constatar que a região está crescendo. “A mudança de nome valoriza a área imediatamente, porque se aproxima da Barra, que é um bairro profícuo, reforça o legado olímpico e se descola de regiões mais precárias e tidas como perigosas na Zona Oeste”, explica o professor de arquitetura e urbanismo da Uerj Gabriel Schvarsberg.
Palco de eventos que atraem milhares de cariocas e turistas, a exemplo do Rock in Rio e da Bienal do Livro, a Barra Olímpica ainda pode explorar seu potencial turístico, afirmam empresários. A poucos passos do Riocentro, o Lagune Barra Hotel, por exemplo, vê a receita aumentar 20% a cada grande show na Farmasi Arena — é lá que o ídolo britânico Eric Clapton irá se apresentar em setembro.
“A área é, sim, um polo cultural e tem muitas especificidades, precisa de bastante atenção do poder público para que tudo flua bem, sem comprometer o bem-estar dos moradores”, define Silvia Albuquerque, diretora da GL Events, que opera o centro de convenções, o hotel e a gigantesca casa de shows.
Brasília foi o grande projeto concluído por Lucio Costa, mas hoje pouca gente sabe que o urbanista nutria o desejo de erguer, bem ali na Barra Olímpica, o Centro Metropolitano, com setenta torres que concentrariam prédios públicos. A proposta fez parte do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, de 1969, mas jamais foi adiante.
Atualmente, o calcanhar de aquiles é a infraestrutura de saneamento. “Esse problema crônico deriva da ocupação irregular. Muitas comunidades despejam detritos em arroios que vão desembocar nas lagoas da região”, aponta José Araruna Jr., coordenador da graduação em engenharia ambiental da PUC-Rio.
A boa notícia é que as obras de dragagem do complexo lagunar já começaram, e a previsão é terminá-las em 2027. Segundo as contas da concessionária Iguá, a quantidade de lodo e sedimentos que será retirada das lagoas poderá encher o equivalente a 1 000 piscinas olímpicas. “A região ainda tem muitos terrenos disponíveis, que permitem prédios de vinte andares. O desafio agora é buscar o equilíbrio urbano e socioambiental”, arremata o professor da PUC-Rio. Sorria, você está na Barra Olímpica.
Fonte: Veja