Ainda um fantasma que nos assombra
Francis Bogossian*
O crescimento desenfreado dos gastos públicos, sem uma correta avaliação da
qualidade da aplicação dos recursos, de forma que seja possível medir a
produtividade e controlar o desperdício, é o mesmo que “enxugar gelo”. A
arrecadação federal cresceu bastante neste ano, mesmo sem a CPMF. O que foi
feito? Isenção de impostos para alguns segmentos industriais e ao mesmo tempo, a
proposta de criação de uma nova CPMF, disfarçada – a Contribuição Social da
Saúde (CSS).
A inflação está sob controle do Banco Central, mas ainda é um fantasma que
nos assombra. O Brasil não estará no rumo certo até que consiga fazer as
reformas que precisa. Pela ordem, é urgente que se efetivem as reformas
política, tributária, administrativa e trabalhista. Só assim o país poderá obter
um crescimento sustentável pelas próximas décadas.
O que o Brasil vai querer ser quando crescer?
Respondo o seguinte: a agroindústria brasileira vem apresentando um
desempenho extraordinário, mas se ressente da falta de infra-estrutura para
escoamento da produção. Os produtos industrializados no Brasil não conseguem ser
competitivos em razão da elevada carga de impostos a que são submetidos. O custo
da mão-de-obra também pesa muito, porque embora os salários sejam baixos, os
encargos que se sobrepõem ao valor recebido pelo trabalhador chegam a mais de
100%. Além disto, o nível de produtividade do trabalhador brasileiro é, na
maioria das vezes, inferior aos dos concorrentes. O turismo, pelas belezas
naturais do Brasil, é um outro segmento que poderia gerar muito mais receita do
que a obtida hoje, se o país pudesse contar com uma infra-estrutura adequada. A grande preocupação atualmente, no entanto, deve ser com as novas
descobertas de petróleo. Gerir esta riqueza será um grande desafio para o
Brasil. O volume de dinheiro que o país vai receber precisa ser investido com
muito rigor em ações que desenvolvam setores que possam garantir a
sustentabilidade, depois que o petróleo começar a escassear.
E, para garantir o futuro das próximas gerações, teremos de investir em
educação. Estamos no século XXI e o nível de analfabetismo atinge 11% da
população brasileira com mais de 15 anos. Isto é inadmissível. O Brasil perde
para Haiti, Nicarágua, Guatemala, Honduras, El Salvador, República Dominicana,
Bolívia e Jamaica em número de pessoas que não sabem ler nem escrever, de acordo
com levantamento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Isto é inadmissível se compararmos o PIB brasileiro com o destes países.
*Francis Bogossian é presidente da AEERJ- Associação das Empresas de
Engenharia do Rio de Janeiro.