Ainda sem as obras para reduzir impacto das chuvas, alerta por celular deve se tornar rotina; entenda

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Ano passado, em janeiro e fevereiro, enxurradas deixaram pelo menos duas dezenas de mortos e um rastro de destruição que atravessou a vida de milhares de famílias

A forte chuva que caiu sobre a Região Metropolitana do Rio anteontem causou prejuízos mais uma vez e levou apreensão a milhões de cariocas que receberam o aviso de “alerta extremo” pelo celular. A experiência recente deve entrar para a rotina da população. No ano passado, em janeiro e fevereiro, enxurradas deixaram pelo menos duas dezenas de mortos e um rastro de destruição que atravessou a vida de milhares de famílias. De lá para cá, a maior novidade foi mesmo a mensagem de alerta, porque as grandes obras prometidas para as áreas mais vulneráveis sequer começaram.

A julgar pelo lento desenrolar das soluções previstas — como os milionários projetos Iguaçu, do governo do estado, e do Rio Acari, da prefeitura da capital —, o jeito vai ser ficar atento aos avisos de emergência pelo celular e tentar se proteger como der. Embora as autoridades divulguem a realização contínua de pequenas obras, o que se vê a cada chuva mais forte é que a história, infelizmente, se repete, principalmente nos verões.

Vítima mais uma vez
Na manhã de ontem, na Rua Rosa Domingues, no bairro Comendador Soares, que margeia um trecho do Rio Botas, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a dona de casa Carla Aparecida dos Santos, de 61 anos, tentava recuperar o pouco que lhe restou depois de ter a casa invadida pelas águas da chuva que caiu forte na véspera. Foram 119 milímetros em seis horas, volume equivalente a 40% do esperado para todo o mês de janeiro. Com a roupa do corpo ainda molhada e chinelos nos pés, ela caminhava em meio à lama na calçada. A situação não é inédita para ela, que já havia sofrido perdas nas chuvas de janeiro do ano passado.

— Perdi tudo mais uma vez. Eu estou sem nada, até as minhas roupas ficaram destruídas. Nem me recuperei da outra enchente ainda. Me sinto humilhada mais uma vez com essa situação. Ainda estou pagando as coisas que comprei. Não tenho dinheiro para recomeçar novamente, não sei o que fazer — desabafou Carla Aparecida.

Os rios Botas, Iguaçu e Sarapuí são os cursos d’água que deveriam receber as obras do Projeto Iguaçu. A promessa é antiga, remonta à década de 1990, quando algumas obras de grande porte chegaram a ser realizadas, mas pararam. O que foi feito ficou por muito tempo sem manutenção adequada.

Nas cheias de 2024, o governo do estado tratou a retomada do projeto como solução para o problema, e aguardava sua inclusão no Novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), o que aconteceu no segundo semestre. A aprovação veio, mas, por enquanto, nada de obras. Ontem, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou, por meio de nota, que está em fase de elaboração de estudos técnicos para servir de base ao processo de licitação. A previsão é que essa etapa seja concluída no mês que vem. Não há definição de data para as etapas seguintes. O investimento total previsto é de R$ 896 milhões — R$ 160 milhões via União e R$ 736 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam).

Belford Roxo também conseguiu a inclusão de projeto para recuperação do Rio Botas no Novo PAC. O valor é de R$ 208 milhões. O pacote inclui limpeza, desassoreamento e desobstrução nos pontos de estrangulamento. Também não há prazo definido para início das obras. O município foi cenário de um episódio dramático nas chuvas de anteontem. Um homem de 43 anos caiu no rio durante a cheia e desapareceu. O Corpo de Bombeiros realiza buscas para tentar localizá-lo.

Na cidade do Rio, a história vai no mesmo caminho. O grande projeto para canalização do Rio Acari é apontado como central para solucionar o problema de alagamentos constantes e severos na região. O projeto também foi selecionado para o Novo PAC. Em nota, a Fundação Rio-Águas informa que “segue cumprindo os trâmites administrativos junto ao governo federal”. Não foi informado prazo para início das intervenções, que incluem 3,8km da calha do rio, nos bairros de Jardim América e Acari, ambos na Zona Norte. O investimento previsto é de R$ 350 milhões, financiados pelo governo federal.

— Temos programas estratégicos para toda a bacia do Rio Acari e também para o Jardim Maravilha, na Zona Oeste, que são muito emblemáticos, obras de grande vulto que demandam planejamento. Acreditamos que no segundo semestre deste ano estaremos aptos a fazer a licitação e começar as obras — explicou o Wanderson Santos, secretário municipal de Infraestrutura.

Na Zona Oeste, a Rio-Águas promete obras contra enchentes na área dos rios Piraquara e Catarino, que seriam capazes de beneficiar 215 mil moradores de Realengo e Padre Miguel. O projeto inclui a canalização do Rio Catarino e melhorias na rede de drenagem de vias. Em outra frente será construído um reservatório — popularmente conhecido como piscinão — com capacidade de armazenamento equivalente à que existe na região da Praça da Bandeira e trouxe impacto positivo para aquela área, que tradicionalmente também sofria com enchentes. A previsão é que sejam investidos R$ 100 milhões no Piscinão de Realengo, cuja primeira fase foi licitada e está em fase de contratação.

O Jardim Maravilha, em Guaratiba, também na Zona Oeste, receberá investimento para macrodrenagem, com objetivo de diminuir os impactos causados pelas cheias do Rio Cabuçu-Piraquê, como O GLOBO mostrou no último domingo.

Estado tem outras ações
Sobre outras intervenções em curso, o governo do estado informou que o programa Limpa Rio aplicou R$ 430 milhões desde 2011. Entre as ações estão a limpeza de rios, córregos e canais, entre os quais afluentes do Rio Iguaçu. O Inea disse ainda que realiza dragagem e limpeza periódicas no Rio Botas e em cinco canais daquela bacia hidrográfica, nos municípios de Nova Iguaçu e Belford Roxo. O trabalho teria sido responsável pela retirada de 20 mil metros cúbicos de resíduos apenas no ano passado.

Fonte: O Globo