A educação e os desastres naturais
Francis Bogossian,
Presidente do Clube de Engenharia e da Associação
das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro
Paulo Cesar Corrêa Lopes,
Engenheiro geotécnico
Os desastres naturais nos países em desenvolvimento deixam consequências muito mais dramáticas em relação a perdas de vidas humanas do que os que acontecem nos países desenvolvidos. Isto está diretamente relacionado com o fator educação dos povos.
A recente tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro, para não citar diversas anteriores, serve como mais um alerta especial a todos os brasileiros. Dessa vez não foram sequer poupadas as classes abastadas. Seus sobreviventes assistiram, impotentes, à destruição de casas e prédios construídos nos padrões de classe média alta que pareciam seguros. Muito pior, sentiram no peito a perda de entes queridos sob a força da mortal enxurrada.
Parte da sociedade que parecia imune a esse contexto foi desta vez vitimada e deverá continuar a mobilizar-se, com sua influência política, quando a poeira baixar. É bastante salutar que assim aconteça e talvez a conotação mais importante da triste lição que ficou da desgraça.
Engenheiros que, como nós, atuam também na educação, sabem o quanto as ciências ligadas à engenharia evoluem ao interpretar as causas dos grandes acidentes. Se bem que fica difícil classificar de acidental o que ocorreu nas serras fluminenses. A impetuosidade da natureza e os vários erros humanos cometidos por muitas gerações, durante a ingerência cega do poder constituído, foram os ingredientes sucessivos de mais uma receita de desastre nacional.
É imperioso que se inclua a responsabilidade do fator educação nas ações que ora estão sendo discutidas à luz da engenharia geotécnica, da geologia e da geografia, por profissionais destas áreas, juntamente com ecologistas, visando à elaboração do plano nacional de prevenção de tragédias.
A educação de qualidade precisa passar a ser verdadeiramente obrigatória, de maior abrangência e encarada como dever inexorável do Estado. Pessoas que gozam do privilégio de ter desfrutado de boa educação são mais capacitadas a compreender os problemas das áreas de risco para, inicialmente, não ocupá-la,s ou, se o fizerem, abandoná-las em tempo hábil nas emergências, em atitude racional de preservação da vida.
As carências na educação pública, aquela que atinge as massas e define a nação, estão entre os principais males a combater dentro do contexto das tragédias ambientais, sejam elas causadas por intempéries, sismos ou contaminação industrial. De nada adiantará apenas recuperar áreas degradadas, legislar e tentar fiscalizar a ocupação se, paralelamente, não se educar o morador para que seja também agente de preservação.
Espera-se agora do Estado que promova a evacuação das áreas de risco na Região Serrana afetada, tanto daquelas inundáveis nas calhas dos rios quanto as em encostas com potencial de instabilidade. Ambas são identificáveis, a engenharia e a geologia sabem como mapeá-las. E povo educado aceita, compreende e acata os planos de prevenção.
A expansão industrial deve continuar a ser incentivada, preço do progresso, mas mantida sob o controle do Estado, com paralela educação nas áreas vizinhas quanto aos riscos e aos planos de emergência.
A desculpa de que não há recursos disponíveis esbarra hoje na questão da prioridade, diante do desperdício e do mau uso do dinheiro público, vício antigo e anterior à República, enraizado no sangue político brasileiro como um câncer que precisa ser dizimado.
Precisamos lutar para elevar o nível da escolaridade em nosso país, antes que tenhamos de declinar do destino de grande nação por força do crescimento incontrolável das fábricas de ignorância. A educação como meta prioritária é nosso sonho de brasileiros.