Fonte: Valor
12/05/2025
Setor portuário e túnel Santos-Guarujá são os principais atrativos
A delegação do governo brasileiro que desembarcou nesta semana em Pequim tem na agenda encontros com dois gigantes chineses da construção civil, a CCCC e a CSCEC, na tentativa de atraí-los para oportunidades de investimentos no Brasil, em especial o desafio da construção do Túnel Santos-Guarujá, no litoral de São Paulo. As duas companhias estão nas primeiras agendas oficiais do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, nesta segunda-feira (12), na capital chinesa.
“A nossa ideia é nos reunirmos com os dois grupos chineses para dar continuidade ao nosso roadshow internacional sobre o túnel. Nós já estivemos na Noruega, na Dinamarca, em Portugal”, disse o ministro, ao Valor, se referindo à missão oficial que fez ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ambos são do Republicanos e estão juntos na estruturação do contrato de parceria público-privada (PPP) do túnel, com leilão programado para ser realizado ainda neste ano. O aporte público está estimado em R$ 5,82 bilhões.
Com a CSCEC, a apresentação será mais ampla envolvendo a “carteira de concessões”. A empresa construiu mais de 90% dos arranha-céus (acima de 300 metros) da China, além da maior parte dos grandes aeroportos e bases de lançamento de satélites do país.
A CCCC está entre os quatro grupos identificados com interesse na construção do túnel. A empresa já conta com experiência em projetos com o mesmo nível de complexidade do Túnel Santos-Guarujá. Com 1,5 quilômetro de extensão, o túnel terá 870 metros submersos, acomodando três faixas para tráfego de veículo por cada sentido, incluindo uma exclusiva para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e acessos a pedestres e ciclistas. Hoje, a travessia é feita por barcos e balsas.
“É fundamental que a gente possa ampliar o diálogo do governo brasileiro com os grandes players internacionais da construção civil e concomitante aos do setor que fazem operações portuárias no mundo”, afirmou Costa Filho. “Você sabe que há um apetite forte dos chineses para, cada vez mais, investir no Brasil”, complementou.
O ministro endossa o coro de que o Brasil pode buscar maior proximidade com a China neste momento de guerra comercial aberta pela administração de Donald Trump. “Hoje, de todas as exportações do Brasil, 28% são com a China, que cada vez mais é um mercado estratégico. Com as medidas protecionistas que o presidente Trump está tomando, elas vão levar a China a avançar em grandes investimentos no Brasil”, prevê Costa Filho.
No setor portuário, o interesse das empresas chinesas, segundo ele, também passa pela operação de terminais, nos segmentos de granéis sólidos e granéis líquidos.
Outro ativo cobiçado do Porto de Santos que também tem leilão marcado para este ano e será apresentado aos investidores chineses envolve o contrato do maior terminal de contêineres do país, o Santos 10 (STS10).
“O Santos 10 vem sendo pensado há mais de 15 anos, mas não avançou. Agora, a gente trabalha para tirar esse terminal do papel, o que vai representar mais de R$ 5 bilhões de investimentos e dobrar a capacidade de operação de contêineres no Porto de Santos. Isso é muito estratégico para o Brasil e a gente não vai perder essa oportunidade de avançar com o projeto”, afirmou Costa Filho.
Ironicamente, o Brasil tenta atrair chineses para o setor de portos enquanto assiste o país asiático fazer grande aposta em megaprojeto no Peru. O complexo portuário de Chancay foi planejado para ser a maior estrutura desse tipo da América do Sul.
A busca de maior eficiência para os terminais já em operação é outra estratégia que será buscada pela delegação brasileira na China. Uma comitiva, com a participação do ministro, irá visitar o “centro de excelência” da gigante de tecnologia Huawei. É o principal complexo de demonstrações de inovações voltadas à digitalização e à automação de operações de portos e aeroportos com uso de inteligência artificial.