Fonte: O Globo
17/04/2025
Avaliação é que o canal de diálogo deve permanecer aberto, independentemente da costura de possíveis acordos entre Trump e outros países
As negociações entre Brasil e Estados Unidos estão mais avançadas para o comércio de produtos siderúrgicos, que desde o mês passado têm uma tarifa adicional de 25% aplicada pelos americanos. Embora não haja perspectiva de um acordo a curto prazo, interlocutores do governo brasileiro estão otimistas quanto ao restabelecimento de um sistema de cotas, que permita que uma quantidade limitada de aço entre nos EUA sem a sobretaxa.
Em 2018, durante o primeiro mandato do presidente dos EUA, Donald Trump, o Brasil fechou um acordo de cotas de exportação. Pelo que foi acertado, podiam ser vendidas ao mercado americano 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de laminados sem o imposto. Em seu retorno à Casa Branca, Trump anunciou a tarifa de 25% para siderúrgicos e alumínio importados de todos os países.
Junto com a tarifa de 25%, que também atinge as importações de alumínio realizadas pelos EUA, o governo brasileiro negocia o fim da sobretaxa de 10% a todos os produtos exportados pelo Brasil ao mercado americano. Técnicos que participam das conversas afirmam que essa é a parte mais difícil, dada a posição do presidente dos EUA de insistir em manter o imposto para todos os parceiros internacionais.
Diante desse cenário, o governo brasileiro quer ou reduzir a tarifa de 10%, ou excluir o máximo de produtos dessa sobretaxa. Brasil e Reino Unido estão entre os países que ficaram com o menor percentual. Trump aplicou taxas mais elevadas para a União Europeia e as nações asiáticas.
A escalada da guerra tarifária entre os EUA e a China e as negociações entre Trump com parceiros internacionais relevantes, como a União Europeia, não terão impacto sobre as conversas que ocorrem, desde o mês passado, entre Brasil e EUA, acreditam negociadores brasileiros.
A avaliação é que o canal de diálogo deve permanecer aberto, independentemente da costura de possíveis acordos entre Trump e outros países. As reuniões entre técnicos brasileiros e americanos ocorrem semanalmente.
Conforme interlocutores a par do assunto, apesar da porta aberta com técnicos do Escritório de Comércio dos EUA (USTR), um acordo com o país deve levar meses, porque os americanos estão em várias outras frentes de negociação.
A prioridade do governo brasileiro é um acordo com os americanos, para que as exportações do Brasil não sejam prejudicadas. Porém, um plano de retaliação não está descartado e tudo está em análise: desde a elevação de tarifas para produtos importados dos EUA, passando pela taxação ou pelo bloqueio de dividendos gerados pela exibição de filmes produzidos em Hollywood, até a cassação de patentes de medicamentos não controlados.
Recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) também é uma opção. No entanto, o organismo está fragilizado, por causa da paralisação do Órgão de Apelação, que funciona como um tribunal em última instância.