Calor escaldante: soluções para tornar equipamentos públicos, casas e prédios mais frescos

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Especialistas explicam que pacote de soluções para equipamentos privados e públicos tem que ser acompanhado de mais corredores verdes

Em 1947, quando desenhou o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho, em Benfica, Affonso Eduardo Reidy já se preocupou com a chamada ventilação cruzada — vãos opostos, que permitem a circulação do ar. Na época, o aquecimento global não estava na ordem do dia. E o Rio ainda não vivia um verão escaldante de mais de 40 graus. Mas arquitetos e urbanistas de hoje são unânimes em afirmar que, por conta do calor extremo, essa e outras soluções não podem ficar fora de projetos futuros no Rio, tanto de empreendimentos privados como de equipamentos públicos, a fim de proporcionar conforto térmico.

Diante do calorão, que tende a se intensificar nos próximos verões, especialistas citam ainda a importância do uso de técnicas naturais — caso de telhados e fachadas verdes —, de pintura em cores claras e até a volta de tipos de alvenaria usados no passado, como o brise (quebra-sol) e o cobogó (parede vazada), recurso usado, por exemplo, em prédios do Parque Guinle, em Laranjeiras. A utilização de produtos para isolamento térmico de janelas e paredes, ainda restritos a imóveis de alto padrão, também é lembrada. Sem falar na necessidade de intervenções nas áreas públicas, para que sejam dotadas de mais vegetação e, consequentemente, sombreadas e mais frescas.

Praça no alto de prédio
Os arquitetos e urbanistas Luiz Othon e Wagner Fonseca, autores do projeto de reforma do Sesc Ginástico, no Centro, botaram a imaginação para funcionar. No retrofit do prédio, de 1938 e preservado, incorporaram no alto um parque das águas em três níveis, destinado ao público cadastrado. No telhado conceberam uma praça com arborização e espelho d’água de cerca de dez centímetros. A obra fica pronta ano que vem.

— Será um telhado verde e azul — resume Othon. — As pessoas vão poder caminhar na água, se refrescar, mas não será uma piscina. O vestiário e a piscina ficarão no andar debaixo.

Ventilação cruzada e uso de material na fachada que absorve o gás carbônico também estão contemplados no projeto do Sesc, com o cuidado de respeitar a preservação. Contudo, Othon chama a atenção para a palavra da moda do momento: a naturalização. E que nada que possa ser adotado nas construções — incluindo escolas, hospitais, terminais e até pontos de ônibus — será suficiente se não se pensar no entorno.

— Ter sombra é melhor do que não ter nada. Agora, essa sombra está num contexto de uma rua, que precisa absorver mais a água, ter pisos menos quentes, ser arborizada. A arborização urbana em áreas da cidade é quase que inexistente. O mais atingido é a periferia. É essa população que grita por naturalização — acrescenta Fonseca.

Quanto a moradias populares, o professor Pablo Benetti, do Programa de Pós-Graduaçao em Urbanismo da FAU/UFRJ, destaca que o grande diferencial, dificilmente visto em conjuntos habitacionais, é a proteção de fachadas e telhados do sol, com materiais como brise, beirais e tetos soltos e elevados. Em favelas, porém, a sabedoria popular acaba protegendo o morador do clima adverso:

— Ocupam a laje e colocam um telhado leve, criando área de sombra e refrescando o imóvel.

Gentileza: cobogó
O Hospital Sarah kubitschek e o Museu do Pontal são exemplos de espaços que incorporaram o conforto térmico aos projeto. O Terminal Gentileza, no Caju, é mais um.

— Como foi definido que não haveria climatização, a gente começou a trabalhar a arquitetura de forma a prover o melhor conforto ambiental interno possível — diz Aníbal Sabrosa, da equipe que elaborou o projeto do Gentileza.

Corredores com ventilação cruzada; pé direito alto; beiral; telhado inclinado, de alumínio e recheado de elemento termoacústico; e passarelas cobertas e com laterais numa releitura de cobogó. Essas foram algumas das soluções adotadas no terminal.

Professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, Lucas Rosse Caldas destaca que “morar perto de praça, de parque, em ruas arborizadas, faz toda a diferença”. A arquiteta e urbanista Gisele Taranto diz que vai chegar o momento da virada de chave, e os materiais terão que diminuir de preço para que as casas fiquem mais confortáveis. Já a presidente do Departamento Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil, Marcela Abla, considera fundamental a implantação de espaços públicos mais permeáveis.

A prefeitura afirma que tem investido na criação de novos parque, ações de reflorestamento e implantação de corredores verdes. As iniciativas, diz, acontecem sobretudo nas zonas Norte e Oeste. Acrescenta que, em janeiro, foi criado grupo de trabalho voltado a implantação de mais parques.

Fonte: O Globo