Transporte sobre trilhos: tarifa única, necessidade de investimentos e expansão do metrô em debate no ‘Caminhos do Rio’

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Uma das propostas discutidas foi a adoção de uma tarifa única para todos os modais, além de iniciativas que ajudem a destravar investimentos que resultem em avanços no sistema

Autoridades e especialistas que se reuniram ontem no auditório da Editora Globo, durante o seminário “Caminhos do Rio — O futuro sobre trilhos”, defenderam a necessidade da criação de uma autoridade metropolitana, para discutir melhorias na mobilidade urbana. Uma das propostas discutidas foi a adoção de uma tarifa única para todos os modais, além de iniciativas que ajudem a destravar investimentos que resultem em avanços no sistema. O secretário estadual de Transporte e Mobilidade Urbana, Washington Reis, que participou do painel “O futuro do transporte de massa”, afirmou que a saída para os entraves está nos trilhos. Ele prometeu reduzir tarifas e falou sobre obras de expansão do metrô.

— Nosso foco é a integração total de trem e metrô, alimentando as barcas e com uma tarifa que não doa no bolso do trabalhador — disse o secretário, prometendo uma tarifa única, “para tirar carros das ruas”.

Sobre a expansão do metrô, disse que a prioridade no momento é a conclusão da estação da Gávea. O passo seguinte será a ligação entre o Estácio e a Praça Quinze, para depois tocar a Linha 3, que fará a ligação do Rio com as cidades de Niterói e São Gonçalo, passando sob as águas da Baía de Guanabara.

Exemplo de Madri
A abertura do seminário contou com a participação remota de Ignacio Vázquez, CEO do metrô de Madri. Por meio de vídeo, ele mostrou como a cidade conseguiu recuperar os passageiros perdidos durante a pandemia, um dilema ainda enfrentado pelos transportes públicos do Rio. Ele citou viagens pontuais e integração tarifária.

O evento, realizado pelos jornais O GLOBO e EXTRA, com patrocínio da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), foi mediado pelo jornalista Rafael Galdo, editor da Editoria Rio, do GLOBO. O primeiro painel, que discutiu “O futuro do transporte de massa”, teve as participações de Guilherme Ramalho, presidente do MetrôRio; Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes; e Silvia Bressan, diretora do VLT Carioca, além do secretário Washington Reis. O presidente do MetrôRio disse que a pandemia representou um grande desafio, mas acha que o exemplo de Madri mostra que é possível virar o jogo.

— Acreditamos que, nos últimos anos, o poder público no Rio de Janeiro, seja a prefeitura ou o governo do estado, começou a dedicar uma energia e uma atenção muito grande à mobilidade. Essa discussão ficou praticamente adormecida durante décadas, levando a esse cenário de crescimento de transporte individual e por aplicativo — disse Ramalho, acrescentando que os investimentos, para acontecerem, vão depender de planejamento e gestão integrada de todos os modos de transportes, cada um seguindo a sua vocação.

Silvia Bressan defendeu o papel do VLT como alimentador e distribuidor dos sistemas de transporte. E disse que, ao contrário do que alguns pensam, o sistema não compete com trem e metrô.

— O transporte é uma rede em que tudo está conectado, e o sucesso deles (trem e metrô) é o nosso sucesso — disse, acrescentando que o VLT surgiu para agregar.

Quintella defendeu trem e metrô como os únicos e verdadeiros transportes de massa e cobrou investimento público, inclusive da União, como acontece em outros países, para que o sistema funcione a contento:

— Modo de transporte se escolhe por demanda e, se tem corredores de alta demanda, só posso colocar transporte de alta capacidade, que são metrô e trem.

O segundo painel teve como foco “O desafio da tarifa única”. Dele participaram Adolpho Konder, presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp); Joubert Flores, presidente do Conselho Administrativo da ANPTrilhos; Edmar de Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio; e Lucas Costa, diretor de Estruturação de Projetos da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar).

Qualidade e integração
Konder criticou as diferenças tarifárias, que a seu ver dificultam pensar em sistemas integrados de transportes. Também lembrou as sobreposições de modais de transportes na cidade, o que demonstram uma falta de planejamento. Defendeu ainda um sistema que busque a qualidade dos serviços e sua integração, com participação das três esferas do poder.

— A gente precisa pensar de maneira integrada.

Ao lembrar a suspensão de investimentos e a paralisação das obras do BRT, Lucas Costa destacou a necessidade da continuidade dos projetos de mobilidade, independentemente das mudanças de governo.

— Para enfrentar esse cenário, que não é só do Rio, é um problema nacional, o financiamento do transporte público precisa ser debatido no âmbito nacional — cobrou, acrescentando que isso também passa por discussões a cargo do Congresso.

Joubert Flores disse que a pandemia mostrou que a tarifa não consegue ser custeada apenas pelo passageiro e que é preciso buscar novas fontes de custeio. Criticou ainda a falta de organização no sistema de mobilidade urbana e disse que isso acontece pela ausência de uma autoridade metropolitana:

— Talvez a gente não consiga sair da situação de não ter uma autoridade para uma que consiga fazer isso tudo, inclusive essa tarifa integrada, e busque essas fontes de custeio. Mas a gente tem de dar o primeiro passo, que é organizar e otimizar as linhas e fazer funcionar como um sistema só.

Edmar falou sobre sustentabilidade e defendeu que o caminho mais rápido para descarbonização da matriz de transporte é através do sistema de trilhos.

Fonte: O Globo