“O Rio perdeu 31,4% de participação no PIB”

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Mauro Osório da Silva é economista, doutor em planejamento urbano e regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor titular e coordenador do grupo de pesquisa “Instituições e Desenvolvimento no Estado do Rio de Janeiro”, vinculado ao programa de mestrado e doutorado da Faculdade Nacional de Direito, além de professor e membro do programa permanente de pesquisa do Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Ensino do Estado (Friperj). Ele é um dos mais atuantes pensadores do país sobre o Rio de Janeiro.
SIDNEY: Por que é tão importante criar um programa permanente de pesquisa através das instituições públicas de ensino superior fluminenses?

MAURO OSÓRIO: O estado do Rio de Janeiro, desde os anos 1970, quando se consolidou a transferência da capital para Brasília, passa por uma crise socioeconômica de décadas. Entre 1970 e 2022, perdeu 31,4% de participação no PIB nacional, a maior perda entre os estados brasileiros. E apresenta uma taxa de desemprego para jovens entre 18 e 24 anos muito elevada, segundo dados do IBGE. Esta taxa, no segundo trimestre de 2024, era de 24,5%, contra uma taxa para as regiões Norte e Nordeste e no total do Brasil de, respectivamente, 14,0%, 19,3% e 14,3%. O Rio, de acordo com o Ideb das escolas públicas de ensino médio no ano de 2023, apresentou o segundo pior resultado no país. Aqui existe pouca tradição de reflexão regional e muitos sensos comuns equivocados. Organizar informação e reflexão é fundamental para termos diagnósticos e propostas de agenda que contribuam para a superação desta crise longeva e é o primeiro passo para um projeto de desenvolvimento inclusivo para o estado.

Qual é o cronograma de trabalho do grupo de pesquisa do Fórum de Reitores?
No ano passado, organizamos um prêmio para dissertações e teses sobre o estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Pereira Passos e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Este prêmio será bianual, com próxima edição em 2025. Inauguramos um seminário acadêmico, articulando a diversidade de temas sobre as potencialidades e dilemas do estado e suas regiões. Seminários como este serão realizados anualmente. No ano que vem, pretendemos também dar continuidade aos encontros regionais com participação da academia e demais setores da sociedade, considerando inclusive o timing do início de novas gestões municipais. Estamos construindo um site do Friperj que reunirá indicadores socioeconômicos, além de artigos acadêmicos e outras informações relevantes que possam subsidiar propostas para o desenvolvimento do estado.

Como o programa de pesquisa do Friperj pode contribuir para o desenvolvimento integrado das diversas regiões do Rio?

A superação da carência de reflexão regional pode ser facilitada também pela interiorização do ensino superior público que ocorreu no estado do Rio de Janeiro a partir dos anos 1980. Até o final dos anos 1970, as instituições públicas de ensino superior concentravam-se apenas nas cidades do Rio, Niterói e Seropédica, pela presença da Universidade Rural. Hoje, as dez instituições participantes do Friperj estão presentes em 60 dos 92 municípios fluminenses. Tal capilaridade e uma articulação dessas instituições a favor de reflexões regionais, densas e continuadas podem gerar massa crítica que subsidie a formulação de propostas e estratégias de desenvolvimento territorializado, com jogos de ganha-ganha entre as oito regiões de governo do estado.

Quais os temas centrais do seminário sobre o estado do Rio que o FRIPERJ organizará de 25 a 27 de novembro?

Além da atividade de abertura, quatro mesas-redondas denominadas “Diálogos Fluminenses” e apresentações de trabalhos acadêmicos agrupados em doze sessões temáticas, aprovados pelo Comitê Científico do Seminário, que são: Limites e Impasses Atuais da Política de Saúde; Políticas Educacionais; Estrutura Produtiva Fluminense; Configuração Territorial; Segurança Pública; Ambiente, Mudanças Climáticas e Transição Energética; Cultura e Conhecimento como Práticas de Liberdade; Infraestrutura e Logística; Mobilidade Urbana; Crise Institucional Fluminense; Relações Étnico-Raciais e de Gênero; e Memória, História e os Desafios do Presente no Estado do Rio de Janeiro.

Quais desdobramentos a partir destes debates?

Os trabalhos acadêmicos aprovados serão publicados em revistas científicas constituindo uma importante referência para os debates que realizaremos nas diversas regiões do estado. A publicização destes trabalhos objetiva também subsidiar debates com o conjunto da sociedade sobre uma necessária agenda de desenvolvimento socioeconômico para o estado do Rio de Janeiro.

Fonte: O Dia