Infraestrutura urbana pode ajudar a enfrentar desigualdade e mudanças climáticas

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Disponível gratuitamente, o livro Síntese Territorial, escrito e organizado pelo professor Jeferson Tavares, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, analisa o impacto das infraestruturas urbanas nas cidades brasileiras, abordando planejamento, segregação e necessidade de inovação

“Construímos cidades no século 21, com modelos tecnológicos do século 20 e que foram concebidos no século 19”, afirma o professor Jeferson Tavares, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, autor do livro Síntese Territorial: Infraestruturas Urbanas nas Cidades Brasileiras, disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP. A obra, que reflete sobre a importância das nossas infraestruturas urbanas, sistematiza pesquisas realizadas pela Universidade entre 2019 e 2024 em cidades das cinco regiões brasileiras. Para ver a publicação clique aqui.

De acordo com o professor, o trabalho analisa o impacto de infraestruturas como mobilidade, saneamento, habitação e urbanização de favelas nas cidades brasileiras, trazendo à tona questões de planejamento urbano e suas implicações sociais e ambientais. “Não é só porque tem infraestrutura que você melhora a vida das pessoas. Muitas vezes, uma infraestrutura muito concentrada num local ou região gera problemas em áreas não atendidas por ela”, ressalta ele.

O professor esclarece também que o livro não segue o formato tradicional, estando mais alinhado ao conceito de policy paper, um tipo de documento voltado para dialogar diretamente com os tomadores de decisão em políticas públicas. A ideia é estabelecer um diálogo direto entre a academia e os tomadores de decisão, especialmente em ano eleitoral.

O papel das infraestruturas

O livro está dividido em cinco eixos principais, cada um abordando diferentes aspectos do impacto das infraestruturas urbanas nas cidades brasileiras. No primeiro eixo, Sistema de Planejamento, o pesquisador analisou como as infraestruturas financiadas pelo governo federal foram integradas aos planos municipais. Tavares reforça que “mais de dois terços dessas infraestruturas não estavam submetidos aos planos diretores dos municípios”, o que sugere que muitas obras foram realizadas descoladas do planejamento urbano, possivelmente sem participação social na decisão.

Já o segundo eixo, Localização da Implantação, examina a relação entre as infraestruturas e a expansão urbana. Conforme o especialista, “cerca de 45% das ações estavam fora da área urbanizada dos municípios”, contribuindo para a expansão urbana desordenada e causando “grandes impactos do ponto de vista social e ambiental, como o aumento da segregação social e do uso de carros”.

A seguir, no eixo Abrangência Territorial e Setorial, o foco é a articulação das infraestruturas no território. Tavares observa que “os projetos habitacionais raramente estão integrados com outras infraestruturas, como corredores de ônibus”, o que resulta em uma fragmentação dos serviços públicos e no agravamento das desigualdades sociais.

O quarto eixo, Formas Urbanas da Sociedade, explora a influência das infraestruturas nos padrões de urbanização e na segregação social. Sobre isso, o professor aponta que “a segregação social não está mais apenas setorializada; hoje, ricos e pobres muitas vezes moram próximos, mas em condomínios segregados”, reafirmando o papel das infraestruturas na modelagem das dinâmicas sociais das cidades.

Por fim, o eixo Dimensão Nacional aborda a distribuição das infraestruturas pelo País, revelando que as políticas públicas se espalharam mais uniformemente desde os anos 1990. Contudo, Tavares alerta que, “apesar de um maior equilíbrio, uma boa parte dessas infraestruturas ainda é baseada em modelos teóricos do século 20”, fato que, para o especialista, demarca a necessidade urgente de inovação em projetos urbanos.

Democratização do conhecimento

O livro foi projetado para ser acessível a um público amplo, com uma linguagem clara e direta. “A linguagem é acessível, nos esforçamos para que o livro seja entendido por leigos”, afirma o professor, enfatizando o compromisso da obra em servir como ferramenta para que as comunidades possam discutir diretamente com seus gestores públicos. O trabalho contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da própria USP.

Segundo ele, a importância de disponibilizar o material gratuitamente está na democratização do acesso à informação qualificada. “Eu acho que o papel que a Universidade cumpre com a disponibilidade do repositório gratuito é algo incomparável”, afirma. Ele reitera que o livro não se limita a opiniões, mas oferece argumentos sólidos para o debate público. “No momento em que você tem muita opinião, falta argumento. Eu acho que [o trabalho] disponível no repositório da USP fornece bases para discutirmos política pública com evidências”.

O livro Síntese Territorial está disponível para download no Portal de Livros Abertos da USP neste link.

Fonte: Jornal da USP