Cássia Almeida e Mayra Castro
Taxa é a mais baixa da série histórica. Especialistas esperam que caia para perto de 6%, patamar considerado inferior ao pleno emprego, o que tende a elevar salários e pressionar a inflação
“Não tem mão de obra”, desabafa Leonardo Vitali, que há 13 anos é dono do restaurante Samura, de comida asiática, em Goiânia. Na cidade, a taxa de desemprego é de 5,1%, ainda mais baixa que a média do país, 6,9%, a menor em uma década.
É boa notícia para os trabalhadores, mas a falta de profissionais começa a preocupar em algumas regiões e setores econômicos.
— Quando aparece (candidato), não tem qualificação. Treinamos e ele não fica, a demanda é muito grande. Não conseguimos reter — diz Vitali, que vê redução no fluxo migratório. — Contratava muita gente do Maranhão, a grande maioria aqui era maranhense, mas não está vindo mais. Tem gente contratando venezuelano, cubano, mas não há muitos. Só se consegue mão de obra quando fecha um concorrente.
No restaurante dele, são 22 funcionários, mas deveriam ser 25. Ele não consegue preencher três vagas. Na pandemia, diz, muitos migraram para pequenos negócios, montaram delivery, foram trabalhar como motoristas de aplicativo ou nem voltaram para o mercado de trabalho.
Para Vitali, programas do governo como o Bolsa Família, que teve reajuste significativo nos últimos anos, fazem muitos preferirem trabalhar como autônomos, sem carteira assinada, para não perder o benefício. Empresários têm de pagar mais.
O mercado de trabalho está no seu melhor momento para o brasileiro. A taxa de desemprego de 6,9% é comparável à de 2014, a mais baixa da série histórica, e os especialistas esperam que caia para perto de 6% no fim do ano, patamar considerado inferior ao pleno emprego, quando a falta de mão de obra tende a elevar salários e pressionar a inflação.
Para Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, o pleno emprego chegou em janeiro, com a taxa próxima de 8%. É esse o nível que o economista calcula como o que não pressiona a inflação. Essa taxa de equilíbrio caiu. Em 2021, Borges estimava 9,5%. A Reforma Trabalhista de 2017 reduziu esse ponto, diz o economista.
— Houve redução na taxa de litigância (número de processos trabalhistas em relação ao de ocupados), com custo menor de contratação. A taxa de 7% ainda não está muito abaixo do equilíbrio, mas se chegar entre 5% e 6%, essa restrição de mão de obra pode gerar gargalos para o PIB. Ainda não estamos nessa situação.
Vários setores estão com dificuldade de preencher vagas, e a rotatividade é alta. Construção, serviços de alojamento e empresas que atuam nos estados concentrados no agronegócio demoram a conseguir profissionais, desde o menos qualificado, como um auxiliar de cozinha ou de limpeza, ao mais especializado, como um engenheiro civil.
É o caso da Construtora Vinx, de São Paulo, que busca um gestor de projetos há três meses. A função exige experiência e formação em engenharia civil, mas o CEO Guilherme Yogolare diz que a falta de pessoal é generalizada, do bloqueiro (que empilha blocos de concreto) ao eletricista, passando por carpinteiro e pintor. São 80 vagas em aberto. A empresa tem 170 funcionários em 12 obras:
— O problema não é só mão de obra qualificada, faltam encanadores, eletricistas, bloqueiros, serventes, carpinteiros. As empreiteiras não estão conseguindo atender todas as construtoras e manter seus prazos. E tem inflacionado a mão de obra qualificada.
Fonte: O Globo