Planos para entorno do futuro estádio do Flamengo preveem integração entre zonas portuária, central e Norte do Rio

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Carolina Callegari

Durante terceira edição do Fórum de Soluções Porto Maravilha do Rio de Janeiro, representantes reforçaram importância do estádio para recuperação de regiões da cidade

A reviravolta do leilão do terreno para a construção do futuro estádio do Flamengo, na região central do Rio, foi uma das pautas da primeira mesa da terceira edição do Fórum de Soluções Porto Maravilha do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira. A torcida, brincaram os participantes, fica pela retomada da área do porto, que tem recebido incentivos nos últimos anos para desenvolvimento, ocupação e modernização.

Após ser suspenso por liminar da Justiça, o leilão do terreno do Gasômetro — onde será construído o futuro estádio do Flamengo — foi confirmado para esta quarta-feira, às 14h30. Segundo a Prefeitura do Rio, a procuradoria do município conseguiu a autorização junto à presidência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A retomada das negociações é tida como positiva para levar ainda mais visitantes à região. O deputado federal Hugo Leal destacou a escolha da região para receber o empreendimento.

— Sou defensor enfático do estádio do Flamengo aqui. É um excelente ativo. O que é o Gasômetro atualmente? Foi um poder de convencimento para a área portuária receber esse empreendimento. O Maracanã é um ativo do governo do estado, aqui é um ativo do clube, que não pode fazer na Gávea por restrições absolutas. Por mais que as pessoas insistam no momento inadequado, é a continuidade do ativo. Não passa só pela cor da camisa do futebol, passa pelo interesse do município — disse o deputado federal.

O presidente da Câmara dos Vereadores do Rio, Carlo Caiado, destacou a mudança em curso na região, que se tornou a área da cidade com maior pedido de licenciamentos para obras e construções, ultrapassando até mesmo a Barra na Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Os projetos em curso ou em vias de começar, aponta, estão interligados para se completarem. Uma das novidades mais recentes é a entrada do bairro de São Cristóvão ao Porto Maravilha, abrindo a possibilidade de mudança para o bairro imperial, com a permissão de imóveis residenciais, com estímulos fiscais e urbanísticos já adotados no atual projeto.

— Sempre ajudamos todos os clubes. Inclusive, recentemente, aprovamos o projeto de São Januário, que integra a operação do Porto também. Nós estendemos a operação do Porto Maravilha para São Cristóvão. E o estádio do Flamengo, na sua localização do Gasômetro, traz mais um equipamento de integração. Os quatro grandes clubes significam muito para a economia do Rio. A gente espera um desdobramento para o crescimento da expansão do Porto — diz Carlo Caiado.

Soluções para a área portuária

O fórum reúne líderes, especialistas e comunidade para discutir e propor soluções inovadoras e sustentáveis para a região do Porto Maravilha, projeto de revitalização urbana que abrange a região portuária da cidade. As mesas são realizadas num evento no Novotel Porto Atlântico RJ, em Santo Cristo, com diversos setores para as discussões, como a aplicação da tecnologia e o fomento à cultura.

Durante as edições são propostas pautas para questões relacionadas à cidade e seu crescimento, bem como dos assuntos que se relacionam, como segurança pública, sustentabilidade e revitalização urbana.

Junto ao Porto Maravilha, a prefeitura vem tocando o projeto Porto Maravalley (Pomar), previsto para ser um “hub” de tecnologia na região capaz de reunir empreendedores, profissionais e investidores.

— Aprovamos a região que é o pulmão comercial da cidade. Podemos transformar os imóveis tombados e preservados, do Reviver Centro. Temos o Porto Maravalley, com a proposta de ser a centralidade do Brasil na tecnologia. Qual é o caminho de ter os jovens aqui e não irem para São Paulo ou para outro país? Como investir em mecanismo para tê-los aqui? — afirma Carlo Caiado.

Revitalização da Leopoldina

Uma das novidades mais recentes na revitalização da região é a cessão da área da antiga Estação da Leopoldina, após o governo federal e a prefeitura do Rio assinarem o acordo, em maio. Um dos próximos passos é o início das obras de restauração do prédio histórico, que fica na Avenida Francisco Bicalho, no Centro do Rio. O projeto pode custar R$ 80,9 milhões. O terreno abrange mais de 125 mil metros quadrados.

No projeto para a área continua prevista a construção da Fábrica do Samba, com previsão que as obras durem, em média, um ano em meio, ao custo de aproximadamente R$ 194 milhões, segundo a prefeitura. A segunda Cidade do Samba vai abrigar as agremiações da Série Ouro do carnaval carioca. Além dos 14 galpões, um para cada escola de samba, o projeto prevê uma praça de eventos com palco para shows de carnaval o ano todo.

Ainda estão inclusos nos planos da prefeitura um centro de convenções e conjunto habitacional de residenciais populares e outros equipamentos para serviços sociais. O projeto também prevê construir ciclovias, bicicletários, quiosques, bancos, árvores e um mural artístico em homenagem à história do samba.

De olho nos potenciais da região

Uma das empresas de destaque que já atuam no Porto Maravilha é a L’Oréal. A marca francesa tem aberto suas portas para receber startups, em forma de parceria, contribuindo para a chegada de novas empresas, como a portuguesa sheerMe. A centenária, referência em beleza, começou um trabalho interno em seu próprio time a partir dos diálogos da marca com seu entorno, no porto. Uma das ações mais recente é o lançamento de um documentário sobre a Pequena África, neste mês, junto com um parceiro. A aproximação com a história local também se estende para um mapeamento de afroempreendedores para construir uma ponte entre empresas e pessoas e pequenos negócios locais, como na gastronomia e na cultura.

— Quando o presidente da L’Oréal Brasil, Marcelo Zimet, chegou aqui, ele estava conversando com uma das nossas diretoras enquanto ela estava tirando fotos do Cais do Valongo, e ele perguntou sobre que espaço era aquele. Eles começaram a dialogar, ela contou o que significava, e o Marcelo se encantou com a relevância daquele espaço. E a primeira coisa que ele fez foi trazer essa visão de letramento. Hoje, temos uma parceria com o Instituto dos Pretos Novos, que é muito importante para ter esse olhar de dentro para fora. O Marcelo assume a L’Oréal Brasil (em 2021) e coloca como desafio de ter a representatividade étnico-racial aqui no país — conta a diretora de responsabilidade corporativa e direitos humanos da L’Oréal, Helen Pedroso, na mesa sobre sustentabilidade.

A vereadora Tainá de Paula destacou a potencialidade da região em se tornar um modelo de sustentabilidade e de políticas de incentivo a reduzir o impacto da ocupação do espaço. São diversas as ideias que a parlamentar acredita que podem ser aplicadas na região, como a instalação de fazenda de painéis solares do Porto Maravilha capaz de dar energia não só para as empresas, mas também para as favelas; zerar a produção de lixo local, com criações e parcerias com cooperativas para materiais recicláveis e por meio de fábricas verdes, voltadas para soluções ambientais, proporcionando geração de emprego; e composteiras públicas (voltado para os dejetos orgânicos).

— Eu encaro o Porto Maravilha como um grande exemplo, não só para o Rio, de um grande empreendimento. O Rio é uma metrópole importante na cena nacional e na América Latina se tratando de centro urbano e área portuária. Poucas cidades foram bem sucedidas em pensar sua área urbana. Como ativa sem expulsar os mais pobres para longe? Como faz sem encarecer, como manter as grandes empresas e o micro-empreendedor e o pequeno comerciante? — questiona.

A parlamentar ainda destaca a necessidade de integração entre as ações para pensar sobre o que ainda é preciso suprir e como atender a região de uma forma completa, abordando setores como segurança pública e infraestrutura. As mudanças atenderiam não só os novos moradores, como poderia fomentar o turismo, atividade que tem ganho força, em especial por roteiros culturais.

— A gente precisa construir um pacto para a erradicação da pobreza do porto. Pensar também da infraestrutura das ruas que não entraram no limite do porto, mas que estão nessa franja. Pensar em como não tem mais universidades e escolas técnicas nessa região? É um problema que precisamos estimular o debate cada vez mais. Precisa retomar algumas iniciativas, como o Largo da Prainha, onde houve uma grande recuperação do patrimônio, e que não pode parar, a Praça Harmonia, os casarios que estão arruinados e abandonados, podendo virar moradia até mesmo para quem já mora lá, mas de forma precária. Há uma sensação de insegurança muito profunda, que vem das ruas vazias, um lugar ermo, mal iluminado, e isso tem que ser uma prioridade.

O incentivo à cultura é uma das preocupações para a região — que conta com o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio e o AquaRio — não só para atrair cariocas, mas fluminenses e turistas de fora do estado e do país. Uma das formas de atrair o público cada vez mais diverso, por vezes, é colocar a própria cidade e sua história em exposição. O olhar também tem se voltado para o potencial local. Entre as ações do Museu de Arte do Rio de Janeiro, está programas de capacitação de profissionais para o turismo, destaca a diretora-executiva da unidade, Sandra Sérgio:

— É um museu que é muito visitado pela cidade do Rio. A cidade abraça o museu, com um conteúdo relevante para a cultura local, não só para o turismo. E nasce como escola também, com um braço importante. Temos curso de mediadores e de gestores culturais que são voltados para o público da cidade. Nos equipamentos culturais da cidade, tem alguém que recebeu uma formação nossa, do Museu do Rio. São formas de aproveitar as experiências e expertises da região.

Fonte: O Globo