Promessa era limpar 80% das águas até 2016, mas meta segue distante; leilão da Cedae e a obrigação de investir no processo trazem primeiros resultados
Se as promessas feitas para a Olimpíada de 2016 não saíram do papel, relatos e registros de 2024 mostram que o carioca ainda pode sonhar com uma Baia de Guanabara cheia de vida, como já foi um dia. Praias antes poluídas próprias para banho e retorno da vida marinha são alguns sinais de primeiros resultados do processo de despoluição das águas da baía, oito anos depois dos Jogos Olímpicos do Rio. São impactos do leilão da Cedae, que trouxe a obrigação de as empresas vencedoras investirem no processo de recuperação. O objetivo dos investimentos é chegar a 90% da população com coleta e tratamento de esgoto até 2033, 17 anos depois do prazo olímpico.
Parte do dinheiro arrecadado com a venda da empresa teria que ser obrigatoriamente investido em projetos de despoluição. Só para a Baía de Guanabara, foram carimbados R$ 2,6 bilhões. Com isso, o governo concluiu as obras de saneamento nos bairros Cidade Nova e Manguinhos, que atendem uma população de 763 mil habitantes. Além disso, outras obras estão em andamento, como a instalação do coletor tronco Faria Timbó, que captará esgoto de 17 bairros do Rio; a implantação do sistema de esgoto sanitário e de drenagem pluvial, no Complexo da Maré – Parque Roquete Pinto; a implantação do sistema de Esgotamento Sanitário de Alcântara, em São Gonçalo; e a instalação de redes de água, drenagem e coletora no bairro São Francisco, em Belford Roxo. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as intervenções beneficiarão mais de 1,3 milhão de pessoas quando concluídas, gerando uma redução de aproximadamente 4.327 litros por segundo de esgoto na Baía de Guanabara. As informações são do portal G1.
Junto ao investimento obrigatório do Poder Público Estadual, a concessionária Águas do Rio, uma das vencedoras do leilão, também recebeu uma lista de obrigações, como a exigência de investimento na despoluição da baia. Segundo a concessionária, a recuperação da região já está em andamento há dois anos e sete meses. Nesse período, a Águas do Rio recuperou sistemas de esgotamento sanitário que já evitam o despejo de 82 milhões de litros de água contaminada com esgoto todos os dias nesse ecossistema. “Maior projeto ambiental dentro da concessão fluminense, a recuperação da Baía de Guanabara é um processo gradativo. De acordo com o Marco Legal do Saneamento, a Águas do Rio tem até 2033 para universalizar o esgotamento sanitário, ou seja, coletar e tratar o esgoto de 90% da população, em todos os 27 municípios em que a concessionária atua, o que inclui as cidades no entorno da baía. O investimento vai somar R bilhões e evitará que mais de 1,3 bilhões de litros de esgoto desaguem diariamente nesse ecossistema”, informou a empresa.
Dados do Inea, responsável por monitorar o espelho d’água da Baia de Guanabara, mostram que a qualidade da água vem evoluindo desde 2020, em todos os pontos de coleta na baía. Em 2023, o órgão observou uma melhora de 43% em relação ao mesmo período em 2020 e 2021. Técnicos do Inea detectaram a redução de 90% dos níveis de coliformes termotolerantes na Praia de Botafogo nos anos de 2021 e 2022. Segundo o instituto, dados das praias do Flamengo e Paquetá também são fatores que apontam para essa redução dos níveis bacteriológicos. “As intervenções realizadas pela concessionária no desvio do Rio Carioca são responsáveis por evitar que cerca de 20 milhões de litros de água contaminada com esgoto fossem despejadas diretamente na Praia do Flamengo”, informou a Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade ao G1. A Águas do Rio desviou temporariamente o rio para o interceptor oceânico que leva o esgoto de parte da Zona Sul até o emissário submarino de Ipanema. A manobra evita que mais de 250 litros por segundo de água contaminada com esgoto seja despejada diretamente na Praia do Flamengo.
Com a água mais limpa, a baia voltou a receber muitas espécies de animais marinhos. Em um mergulho feito com biólogos do Instituto Mar Urbano (IMU) em junho, o RJ-TV 1, da Rede Globo, flagrou bagre, peixe-gato, peixe-frade e até tartarugas. O biólogo marinho Ricardo Gomes, que explora a área há 30 anos, disse que nunca tinha visto tantas espécies e uma água tão clara.
Relembre o PDBG
O Programa de Despoluição da Baía da Guanabara (PDBG) foi lançado em 1994. Em 2009, quando o Rio foi escolhido como sede olímpica, o projeto original já tinha sido paralisado há dois anos. Na ocasião, o governo do estado teve problemas para construir a rede coletora de esgoto que ligaria moradias às novas estações de tratamento. A principal cartada do projeto olímpico brasileiro para convencer o Comitê Olímpico Internacional (COI) a colocar o Rio de Janeiro como sede dos jogos de 2016 era a transformação da cidade através do evento. E a despoluição da Baía de Guanabara seria o grande legado das Olimpíadas para os cariocas. A meta proposta era despoluir pelo menos 80% da Baía de Guanabara. Mas,
Especialistas acreditam que o maior dos problemas do projeto voltado para as Olimpíadas foi a falta de tratamento dos rios, já que as obras de saneamento básico previstas não saíram do papel. Segundo o portal G1, uma das iniciativas foi construir ecobarreiras nos rios que deságuam na Baía. O objetivo era segurar o lixo antes de ele chegar ao corpo hídrico. O governo do estado também passou a utilizar ecobarcos, que tinham como objetivo recolher resíduos flutuantes que passassem pelas barreiras artificiais. As duas iniciativas permitiram pequenos avanços, mas sem a efetividade necessária para garantir a despoluição. Os ecobarcos não davam conta da quantidade de lixo que vinha pelos rios, e as ecobarreiras se romperam diversas vezes com as chuvas mais intensas.
Com 53 praias, a Baía de Guanabara é cercada por 7 municípios: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói. Dados do Painel Saneamento Brasil, com base no levantamento feito pelo IBGE em 2022, mostram que apenas Rio e Niterói contam com bons indicadores sobre coleta de esgoto. Atualmente, 36,3% da população da Região Metropolitana contam com a coleta. O número é praticamente o mesmo de 2011 (36,7%), segundo o Painel Saneamento Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2022, as estações de tratamento de esgoto que integravam o PDBG funcionavam apenas com 33,98% da sua capacidade inicial.
Fonte: Veja