Selma Schmidt e Luiz Ernesto Magalhães
Às vésperas dos Jogos de Paris e oito anos após a Olimpíada de 2016, a maioria do legado prometido para o Rio foi entregue a tempo, mas a área ambiental ainda é um passivo — só recentemente a despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas da Barra começou a deslanchar. A principal herança para os cariocas foi na mobilidade, com novas linhas de BRT e a Linha 4 do metrô (Ipanema—Barra), apesar de a estação da Gávea ainda ser um obstáculo.
Para quem anda de ônibus um sistema de corredores exclusivos para ônibus mudou a forma de se movimentar pela cidade. Foram três novas linhas: Transoeste (Barra—Santa Cruz), Transcarioca (Barra—Galeão) e Transolímpico (Recreio—Vila Militar). Em 2016, o transporte foi fundamental para levar o público para as arenas. Mesmo após os Jogos, as obras continuaram para ampliar a rede. O Transolímpico ganhou uma extensão até Deodoro, concluindo o projeto inicial só no ano passado. E o Transbrasil (Caju—Deodoro), após sete de atraso, foi inaugurado no fim de março, com o suporte do Terminal Intermodal Gentileza, onde também chega uma linha de VLT. O moderno sistema de bondes que circula pelo Centro também foi entregue para a Olimpíada.
Condomínio retomado
Alguns empreendimentos que não constavam inicialmente do caderno de encargos, mas chegaram a ser anunciados para a Olimpíada, foram equacionados. É o caso de um condomínio que inicialmente seria construído para receber a Vila dos Árbitros (transferida posteriormente para Jacarepaguá), na Praia Formosa, no Santo Cristo. O Grupo Odebrecht, que comandava a construção, suspendeu as obras em meio à crise da Lava-Jato. A obra do residencial foi retomada no início deste ano por outra construtora.
Um dos legados previstos se arrastou até este ano. A Arena do Futuro — onde foram realizadas as competições de handeboll e goaball na paraolimpíada —, no Parque Olímpico, na Barra, foi desmontada e suas peças foram transformas em quatro escolas públicas em Rio das Pedras (Jacarepaguá), Bangu, Campo Grande e Santa Cruz. Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu implantar cursos de formação tecnológica em parte do Parque Olímpico, que ganhou equipamentos de lazer, novo paisagismo e foi reinaugurado como Parque Rita Lee em maio.
Outro complexo esportivo também virou área de lazer. É o Parque Radical de Deodoro, onde foram realizadas as competições de canoagem slalom e ciclismo BMX, e o hoje tem a sua piscina aberta ao público. Mas ainda há estruturas que aguardam para ser reaproveitadas. No Parque Olímpico, por exemplo, a piscina onde o americano Michael Pelps, um dos maiores nadadores da história, se consagrou está desmontada. O equipamento está em Inhoaíba, na Zona Oeste, e vai integrar o futuro parque com cerca de um milhão de metros quadrados (equivalente a área do Parque do Flamengo) que a prefeitura está construindo.
Se a despoluição ficou a desejar em 2016, melhorias ambientais começam a ser observadas pelos cariocas agora. Uma das mais comemoradas são águas mais claras nas praias do Flamengo e de Paquetá, que têm aparecido com balneáveis nos levantamentos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A privativação da Cedae também é uma esperança para melhor a qualidade das lagoas da Bacia de Jacarepaguá, assim como da Baía de Guanabara.
No entanto, segundo o fundador do Movimento Baía Viva, o ecologista Sérgio Ricardo, continuam sendo lançados sem tratamento no espelho d’água 18 mil litros de esgoto por segundo, além de 90 toneladas de lixo por dia. Ele lembra que estações construídas durante o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) não tratam o esgoto para o qual foram projetadas, porque não foram implantados troncos coletores previstos. E que projetos do Programa de Saneamento Ambiental (Psam) não foram executados.
— Obrigações do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado, em 2019, com o Ministério Público (MPRJ), para realizar obras do PDBG e do Psam, não foram cumpridas. Existe um imbróglio — diz ele.
A concessionária Águas do Rio (que atende 124 bairros do Rio, das zonas Sul e Norte, bem como municípios como São Gonçalo e Caxias) afirma que, em dois anos e sete meses recuperou sistemas de esgotamento, impedindo que 82 milhões de litros de água contaminada com esgoto caiam na Baía. Enumera ainda ações que estão sendo executadas, como a recuperação das estações de Alegria (Caju) e da Ilha do Governador e a implantação de coletores de tempo seco em Mesquita. “Maior projeto ambiental dentro da concessão fluminense, a recuperação da Baía de Guanabara é um processo gradativo”, alega.
Obras em andamento
Já a Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade afirma que o Psam concluiu obras na Cidade Nova e em Manguinhos. Acrescentou que realiza a instalação do troco coletor do Faria Timbó, a implantação de sistema de esgoto na Maré e em Alcântara (São Gonçalo) e a implementação de redes de água, drenagem e coletora em São Francisco (Belford Roxo).No caso das lagoas da Barra, a concessionária Iguá iniciou, no fim de abril, um dos projetos mais complexos. A intervenção deve durar três anos, e os resíduos retirados seriam suficientes para encher quase mil piscinas olímpicas.
Quanto à Linha 4, um acordo foi alinhavado entre o estado e o MP para a conclusão da estação da Gávea, mas ainda tramita no Tribunal de Contas do Estado. As obras estão paralisadas desde 2015, em meio a denúncias de superfaturamento.
Fonte: O Globo