Ao custo de R$ 80 milhões, previsão é de conclusão da reforma do prédio principal até 2026. Sobre outros usos para o terreno, Eduardo Paes disse que resolverá com o presidente da República: ‘No final, falo com o Lula’
Em sua última semana para participar de eventos antes do período eleitoral, o prefeito Eduardo Paes (PSD) deu início às obras de restauro da Estação Barão de Mauá, conhecida também como Estação Leopoldina, na Avenida Francisco Bicalho, na região central do Rio. O valor do investimento será de R$ 80 milhões. Segundo o prefeito, sua equipe também está licitando o projeto da Cidade do Samba 2 (também chamada de Fábrica do Samba), que será erguida no terreno, e a previsão é de que isso se conclua até sexta-feira. Para outros usos do espaço, como a construção de uma unidade habitacional, o município aguarda definição da União.
O pontapé inicial das obras se deu após o prefeito, que posou com operários, usar uma tesoura para cortar a corda que segurava um pano preto na fachada do imóvel. No lugar das paredes pichadas, quem passar pela Francisco Bicalho agora verá um banner cobrindo a frente da estação, com os dizeres “a nova Leopoldina vem aí”, ao lado da logomarca da prefeitura.
— Existe uma discussão com o governo federal dos usos que têm que se dar aqui. Claro que Brasília sempre se acha, monta uma comissão de especialistas, distantes da realidade da cidade. Mas, no final, falo com o Lula e ele capta quem entende das coisas do Rio de Janeiro, porque as soluções são locais — afirmou Eduardo Paes, que falou ainda da Cidade do Samba 2, que abrigará as escolas de samba da Série Ouro. — Estamos terminando a licitação. Estou doido para terminar até sexta-feira, para eu poder começar a obra, porque tem o prazo eleitoral. Ainda tem muita coisa para entregar, infelizmente, que não deu tempo de entregar até sexta-feira, mas eu visito depois.
Já há um edital lançado que prevê a construção de 14 barracões no terreno, com custo previsto de R$ 194,8 milhões. Esses imóveis terão pé direito de 9 metros (os do Grupo Especial têm 12 metros de altura) e uma subestação de energia para cada barracão, com 150kVA, alimentadas por placas solares.
De acordo com o prefeito, a ideia é ainda fazer um centro de convenções no terreno — que pode ser complementar ao já existente na Cidade Nova. Há ainda a pretensão de se fazer um projeto habitacional no local, ainda sem definição de se será minha uma unidade do “Minha Casa Minha Vida”, nem de qual seria a faixa salarial alvo do programa. Paes disse ainda que o VLT “vai chegar” à região do entorno da estação Leopoldina.
— O nosso desejo, na hora que a gente cruzou a Francisco Bicalho em direção ao Terminal Gentileza, é que o VLT possa caminhar em direção a São Cristóvão — observou Paes.
Nesta primeira etapa, a reforma é no prédio principal, a gare, que tem marcas de infiltração nas paredes. A previsão é que fique pronto até o segundo semestre de 2026, quando o imóvel, inaugurado em 6 de novembro de 1926, chegará ao seu centenário.
No terreno, atualmente, há trens enferrujados estacionados na antiga plataforma da estação, além de um depósito de aduelas, que seriam usadas nas obras do metrô, ocupando o espaço. O que será feito com eles é um problema do futuro, diz o prefeito.
— Eu sou da tese de cada dia a sua agonia. Não adianta tentar resolver tudo de uma vez, (se não) estamos fritos. Agora não é necessário pensar nas aduelas do metrô. No momento que for necessário a gente vai conversar com o Estado — afirmou Paes.
A secretaria de estado de Transporte e Mobilidade Urbana responsável pelas aduelas, por sua vez, informou que vai tratar do tema oportunamente, assim que for procurada pela prefeitura do Rio.
A parte interna da Leopoldina guarda marcas de infiltração nas paredes, assim como plantas nascendo em meio à umidade. Há ainda elementos do passado, como grafia antiga da palavra “saída” (ainda como “sahida” em uma das roletas), um balcão de charutaria, assim como relógios parados com as iniciais RFFSA, da Rede Ferroviária Federal S/A.
Como será Cidade do Samba 2?
Segundo o edital, cada galpão contará com pé direito duplo no térreo, com aproximadamente 9 metros de altura livre e uma talha elétrica com trole fixada em um trilho no teto, que percorre todo o galpão e auxilia no içamento de peças pesadas para fabricação e montagem dos carros alegóricos.
No térreo, haverá espaços para a realização dos serviços de serralheira, carpintaria, estofamento e depósito de materiais, assim como uma recepção, sanitários, elevador e escada de acesso. Já no segundo pavimento, está prevista a instalação de uma talha elétrica giratória, para permitir que esculturas que não caibam no elevador de carga sejam levadas para o térreo.
Os galpões serão feitos em pilares pré-moldados de concreto, vigas metálicas e lajes em steel deck. Na cobertura, serão instalados domos de ventilação e iluminação, além de placas solares para implantação de sistema fotovoltaico. Haverá ainda a casa de máquinas do elevador e, acima desta, ficarão as caixas d’água. O projeto indica ainda a necessidade de se canalizar parte do Rio Trapicheiros, além de reforçar a estrutura sobre ele, para acomodar as agremiações.
Ao todo, serão 14 barracões, número menor que a quantidade de escolas de samba no grupo de acesso, que é de 16 atualmente.
— Hoje contamos com 16 escolas, e o regulamento é apresentado e votado pelos presidentes em plenária. Nos adequamos a cada necessidade. Ou seja, quando as escolas da LigaRJ ocuparem os barracões, a plenária vai definir os próximos passos — disse Hugo Junior, presidente da LigaRJ, responsável pela Série Ouro.
Iphan instalará cobertura sobre trens tombados
Paulo Vidal, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio, definiu a obra no imóvel tombado como “fundamental”. O projeto executivo de restauro já está aprovado, segundo ele.
Ao todo, sete composições tombadas devem ser incorporadas ao projeto e serem usadas como parte de uma exposição.
— Iremos fazer uma cobertura provisória (sobre os trens). Em um contrato do Iphan — afirma Vidal.
Essas composições foram trazidas do Museu do Trem, que fica no Engenho de Dentro, durante a construção do estádio olímpico, hoje nomeado de Nilton Santos, casa do Botafogo. A diferença é que, atualmente, já é não é possível fazer o deslocamento da Leopoldina através de trilhos, que não existem mais. Por isso, estudos do Iphan apontam que seria um problema transportá-los sobre caminhões até o bairro da Zona Norte, principalmente por conta da altura.
Município recebeu terreno da União
O espaço da Estação Leopoldina, de 125 mil metros quadrados, passou da União para as mãos do município em maio deste ano. Na ocasião, um evento com a presença da ministra Esther Dweck, responsável pela pasta da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, um documento de cessão do uso da área foi assinado.
Conhecida oficialmente como Estação Barão de Mauá em homenagem ao banqueiro que implantou as primeiras ferrovias no país, ela foi inaugurada em 1926. Foi desenhada pelo arquiteto escocês Robert Pentrice, o mesmo que projetou o Palácio da Cidade, em Botafogo, sede social da prefeitura do Rio. A estação recebia trens de uma linha auxiliar que vinha do bairro São Francisco Xavier e de um dos ramais da extinta estrada de ferro Rio do Ouro.
Nos anos 1990, parte dos trilhos dessas estações foram aproveitados para implantar estações da Linha 2 do metrô, entre as quais Pavuna, Engenho da Rainha, Del Castilho e Irajá.
A estação da Leopoldina também era o ponto de partida do famoso Trem de Prata, que fazia viagens noturnas para São Paulo, em uma estrutura que tinha vagões-restaurantes e dormitórios. A novidade agradou no início, mas durou apenas quatro anos (1994-1998) por falta de passageiros. No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o local foi pensado para ser o terminal carioca do projeto de um trem-bala também ligando Rio a São Paulo.
Fonte: O Globo