Maioria diz notar aquecimento global, mostra Datafolha; governos devem aproveitar opinião para criar planos de adaptação
Faz décadas que cientistas apontam o aquecimento global como consequência da poluição emitida por seres humanos. Mas parcela da opinião pública em países como o Brasil alimentava dúvidas sobre a confiabilidade de evidências e predições quanto aos impactos da mudança —não mais, parece.
Pesquisa Datafolha aponta haver quase unanimidade na convicção de que a alteração climática é uma realidade: 97% dos entrevistados afirmam perceber no dia a dia a transformação na atmosfera do planeta. Meros 2% negam a existência da crise no clima, e 1% não soube responder.
Para efeito de comparação, apenas 61% dos norte-americanos dizem ver suas comunidades afetadas pela mudança do clima, segundo pesquisa Pew de 2023.
Podem-se aventar algumas explicações para os números no Brasil. O consenso entre pesquisadores, com acúmulo de medições e o descrédito dos discordantes, poderia ter contribuído para conduzir o público ao entendimento.
Mostra-se plausível, contudo, que essa vitória da objetividade sobre os semeadores de dúvidas tenha recebido impulso de eventos climáticos extremos, como a tragédia recente que se abateu sobre a população gaúcha. As inundações, que causaram 179 mortes, repetiram desastres ocorridos ainda em 2023 naquela região.
No Carnaval do ano passado, 64 pessoas perderam a vida nos deslizamentos de morros em São Sebastião (SP). A chuva que desabou em 24 horas na praia Barra do Sahy é comparável à registrada em trechos da caatinga num ano inteiro.
A frequência de fenômenos atmosféricos que escapam das médias aferidas ao longo de décadas e séculos vem corroborar o acerto dos modelos climatológicos ao projetar efeitos do aquecimento global. Mais energia injetada na atmosfera impulsiona tempestades e estiagens bem mais severas.
Outro exemplo lúgubre é a seca recordista que ora aflige o pantanal, a insuflar incêndios que arriscam ultrapassar os danos de 2020. Também há temor de que a temporada de queimadas na Amazônia, no segundo semestre, venha a revelar-se especialmente intensa.
Compete aos governos federal, estaduais e municipais tomar partido da sensibilidade pública para a crise e lançar campanhas de conscientização, reforçar a fiscalização em áreas de risco, combater queimadas ilegais e elaborar planos de adaptação ao aquecimento global e de prevenção contra os eventos extremos dele derivados.
Fonte: Folha de S. Paulo