O poder público brasileiro, nas três esferas de governo, não pode mais protelar políticas para o tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU), o que conhecemos por como lixo. O problema, abordado em série de reportagens da Folha, gera impactos tanto no meio ambiente e na saúde como na economia.
O país produz por ano cerca de 80 milhões de toneladas de RSU —o que enche quase 2.000 estádios do Maracanã— e projeções apontam alta de mais de 50% até 2050.
Atualmente, cerca de 40% do lixo produzido tem destinação final inadequada, como terrenos sem proteção, córregos, rios e mares.
Grande parte vai para o chamado lixão, que opera sem licença ambiental e sem os custos dos aterros sanitários. Estes protegem o solo de contaminações e têm potencial para recuperar o metano emitido pelos RSU para a produção de biogás e de energia elétrica —modelo de recuperação energética de resíduos que ainda engatinha no país.
Desde 2014, o Brasil empurra o prazo para eliminar os lixões. Dez anos depois, ainda restam mais de 1.500 deles, inclusive em áreas de proteção ambiental. O novo limite estipulado para a extinção da anomalia, agosto deste 2024, também não será cumprido.
Ademais, apenas 4% dos resíduos recicláveis são reciclados. A média global é de 19%, e em países da Europa Ocidental, Austrália e Coreia do Sul chega a mais de 50%.
Nestes, as indústrias que colocam no mercado produtos que geram resíduos são as responsáveis por recuperá-los para seu reaproveitamento em ciclos produtivos, por meio de reuso ou reciclagem.
A prática, chamada de logística reversa, é lei no Brasil desde 2010, quando foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Hoje, funciona para produtos como pneus e embalagens de agrotóxicos, mas ainda patina para materiais mais comuns, como papel, plástico, vidro e metais.
Se o tratamento dos resíduos é fundamental para a proteção do meio ambiente e da saúde pública, também gera oportunidades para o desenvolvimento de novos materiais, produtos e negócios sustentáveis capazes gerar desenvolvimento, trabalho e renda.
Fonte: Folha de S. Paulo