Empreiteiras desidrataram, e o setor passou por uma reconfiguração após Lava-Jato

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Os crimes de grandes construtoras brasileiras, que foram revelados pela Operação Lava-Jato e tiveram duras consequências sobre seus negócios, combinados à recessão econômica de 2015 e 2016, levaram à reconfiguração da indústria de construção pesada no país na última década.

Gigantes como Odebrecht Engenharia e Construção (atual OEC), Andrade Gutierrez, OAS (Coesa e Metha) e Camargo Corrêa (grupo Mover) saíram de cena por certo período, tiveram de vender ativos para pagar as multas da leniência ou pediram recuperação judicial ou extrajudicial. Passado o pior da crise, anunciaram códigos de conduta mais rigorosos e camuflaram marca e nome, numa tentativa de esquecer a Lava-Jato. Mas os danos à indústria como um todo permaneceram.

Em uma década, o faturamento das 100 maiores da construção pesada no país saiu de R$ 138 bilhões (2013) para R$ 56 bilhões (2022), uma queda de cerca de 60% segundo dados do ranking da revista “O Empreiteiro”. O consumo de materiais de construção pelo setor foi reduzido à metade: de R$ 37 bilhões no pico visto em 2012 para R$ 16,2 bilhões em 2019 – a mínima de R$ 15,3 bilhões foi registrada em 2017, conforme a Tendências Consultoria.

De 2014 a 2017, foram fechados cerca de 430 mil postos de trabalho diretos na área de infraestrutura, segundo estudos das consultorias Tendências e LCA, a partir de números do IBGE e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Apesar de o antigo grupo Odebrecht ter mudado seu nome para Novonor depois da Lava-Jato, a construtora optou por preservar o legado, reduzindo o Odebrecht Engenharia e Construção para OEC.

Em 2022, a receita líquida da OEC foi de R$ 4,7 bilhões. Em 2015, a empresa e suas controladoras tiveram receita líquida de R$ 57,5 bilhões – os números não são diretamente comparáveis por causa das reorganizações societárias que ocorreram nesse intervalo, mas dão a dimensão do tamanho do tombo. Com dívidas de mais de R$ 14 bilhões, a Novonor está em recuperação judicial. A construtora ficou fora do processo.

A OAS também pediu recuperação judicial, encerrada em 2020. Mas, depois de uma reorganização societária que a dividiu em duas novas empresas, Metha e Coesa, houve novo pedido de recuperação judicial em nome da Coesa.

A Camargo Corrêa, agora grupo Mover, voltou-se a projetos de infraestrutura por meio da Camargo Corrêa Infra. O conglomerado teve de vender ativos, entre os quais o controle da Alpargatas (dona de marcas como Havaianas). Agora, está tentando se desfazer das operações da InterCement no Brasil e sua fatia na Loma Negra, na Argentina.

A Andrade Gutierrez manteve o nome e recorreu à recuperação extrajudicial. Mas viu seu faturamento encolher à metade entre 2013 e 2023. Em 2022, vendeu a fatia de 14,9% na concessionária CCR.

Fonte: Valor Econômico