Após crise, fundos de infraestrutura vivem ‘boom’

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Depois da tempestade, a bonança. No setor de crédito privado, quando a crise pós-Americanas e Light acalmou, ela veio com o retorno da captação dos fundos e a recuperação das emissões, incluindo um “boom” de ofertas de debêntures incentivadas, papéis que precisam estar ligados a projetos de infraestrutura e dão ao investidor isenção de Imposto de Renda.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos, o volume emitido somente entre agosto e outubro levou o total do ano a dobrar. Os fundos focados nesses ativos, por sua vez, responderam ao interesse do mercado. Relatório do banco ABC Brasil já contabiliza 371 fundos com patrimônio total de R$73,7 bilhões. E, para este ano, a tendência é de um crescimento ainda maior, com a migração de recursos dos fundos fechados exclusivos, que passaram a ser taxados. Além disso, novos setores poderão lançar papéis na categoria isenta.

“Depois de um primeiro semestre difícil em 2023, com os eventos de crédito e grande abertura dos spreads, é natural que o investidor tenha passado a dar mais atenção às debêntures ligadas ao setor de infraestrutura, que é mais seguro, com fluxo de receitas mais estável”, avalia Pierre Jadoul, gestor de crédito privado da ARX Investimentos.

Ulisses Nehmi, CEO da gestora Sparta, que tem R$ 9 bilhões sob gestão, prevê uma boa safra de emissões de incentivadas nos próximos meses e afirma que cresceram significativamente as consultas de gestores de fortunas por causa da taxação dos fundos exclusivos neste ano.

Seis novos setores podem, a partir deste mês, emitir debêntures isentas: educação; saúde; segurança pública e sistema prisional; parques urbanos e unidades de conservação; equipamentos culturais e esportivos; e habitação social e requalificação urbana. Até dezembro, os segmentos contemplados eram logística e transporte, mobilidade urbana, energia, telecomunicações, radiodifusão, saneamento básico e irrigação. Atualmente, o estoque de debêntures incentivadas, de acordo com Nehmi, chega a R$ 250 bilhões.

Jadoul lembra que o volume de emissões cresceu tanto em 2023 que os bancos ligados às operações tiveram que absorver os papéis.
Dados da Anbima mostram que as emissões de incentivadas passaram de R$ 22,4 bilhões até agosto para R$ 58 bilhões até novembro, de um total emitido em debêntures (incluindo as corporativas) de R$ 196 bilhões, uma participação de 30%. Em 2022, a fatia havia sido de 15%.
“Para essa classe, foi um ano melhor do que o de emissões corporativas, indexadas ao CDI” — Jean-Pierre Cote Gil.

Em novembro, na subscrição, 62,6% ficaram com os intermediários e demais participantes, seguidos por demais investidores institucionais e fundos de investimentos, com 15,4% e 14%, respectivamente, e somente 7,8% com pessoas físicas. Mas em maio, por exemplo, as pessoas físicas chegaram a ficar com 68,8% dos papéis. Segundo Alexandre Muller, sócio e gestor de crédito privado da JGP, a maior parte das operações envolveu grandes empresas de baixo risco, em operações orientadas para as bases de investidores de varejo.

“Nesse grupo, a disputa antecipada dos bancos pela garantia firme das ofertas comprimiu demais os spreads, gerando perda de atratividade.” Ele explica que os fundos de infraestrutura estão mais voltados às operações que envolvem projetos de maior complexidade e remuneração, que já não são absorvidos pelas bases do varejo.

O levantamento do banco ABC Brasil mostra que os fundos de debêntures incentivadas registram sete meses consecutivos de captação líquida positiva, de julho a dezembro de 2023, num total no ano de R$ 9,5 bilhões no azul. Já os de crédito privado fecharam o período machucados pela crise do primeiro semestre, mesmo com os últimos seis meses do ano de captação positiva. No total, somam resgates líquidos de R$ 40,5 bilhões, de acordo com o relatório da instituição, que considera 2.086 fundos, com R$ 1,62 trilhão de patrimônio líquido. “O ano de 2023 foi mais desafiador do que imaginávamos. Os resgates muito fortes obrigaram os gestores a se desfazerem de ativos muito rapidamente”, avalia Daniela Gamboa, chefe de crédito privado e imobiliário na SulAmérica Investimentos. Fonte: Valor Econômico.