Desequilíbrio nas obras públicas
Francis Bogossian
A Guerra da Ucrânia entrou esta semana em seu terceiro mês trazendo severos impactos para a Economia brasileira. O aumento nos combustíveis se disseminou por diversos setores da cadeia produtiva, refletindo a alta de quase 25% no preço do óleo diesel, que atingiu em cheio o preço do frete de produtos. Os alimentos mais caros foram logo sentidos pelos consumidores, mas infelizmente esta não será a única consequência deste conflito.
Na construção civil, por exemplo, o óleo diesel também é um insumo básico, e sua alta se reflete em todos os custos do setor, desde o valor do frete de itens como brita, areia e cimento até as obras de terraplenagem, estradas e pontes. Por utilizar menos mão de obra e mais equipamentos como caminhões e tratores, a terraplenagem é uma das principais afetadas pelo aumento nos combustíveis.
Este tipo de intervenção é altamente dependente do óleo diesel e do asfalto, insumo que já tinha sofrido severos reajustes no ano passado, provocando uma onda de pedidos de renegociação de contratos das construtoras com o poder público. Capitaneados pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), líderes do segmento estão atentos à questão e buscando saídas para o impasse junto ao governo federal. Se nada for feito, o setor não conseguirá absorver aumentos tão elevados, o que pode levar à paralisação de obras relevantes.
Além do petróleo, outras importantes commodities para o setor da construção civil, como minério de ferro, alumínio e cobre, também estão há quase dois anos sofrendo significativos reajustes. A chegada de 2022, com o arrefecimento da pandemia de covid-19, trouxe um cenário de esperança para a atividade econômica. Essa perspectiva de bonança, no entanto, rapidamente se dissipou com o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano. A incerteza quanto ao fim dessa guerra só contribui para o aumento de insumos fundamentais para a construção civil, o que certamente prejudicará o avanço das atividades do setor.
Motivada pela alta da inflação, que eleva os juros a reboque, a retração nos investimentos de brasileiros em imóveis também pode contribuir para um possível encolhimento da atividade econômica. À medida que perduram os conflitos no Leste Europeu, a inflação brasileira segue pressionada e gerando preocupação com a escalada dos juros.
Em outra frente, vemos que a alta nas taxas diminui o dinamismo da atividade econômica nacional e os investimentos em segmentos produtivos, como a construção civil, que são importantes geradores de emprego e renda. Dados da CBIC mostram que o setor foi um dos principais recrutadores de mão de obra em meio à crise causada pela pandemia de Covid-19. De acordo com a entidade, em 2021, a área registrou o maior crescimento da década, chegando a 7,6%.
Neste delicado momento por que passa a Economia nacional, a busca por soluções para as atividades relacionadas à construção civil deve ser um incansável exercício para todos os envolvidos no segmento.
* Francis Bogossian é presidente Honorário Vitalício da AEERJ