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O DiaObservatório da infraestruturaPág. 1529/01/2017

Em direção ao passado

Rio – Como em uma máquina do tempo, o estado do Rio de Janeiro retrocedeu mais de cinco anos no que diz respeito ao número de empregos formais e volta a patamar menor que de 2011. Um a cada cinco postos de trabalho fechados no país em 2016 foram no estado. Somente no ano passado, 237 mil pessoas deixaram de ter carteira assinada. O número é quase o dobro se somado às quedas de 2015: menos 430 mil trabalhadores em dois anos.

Evento promovido pela Associação das Empresas de Engenharia debateu principais gargalos na infraestrutura do estado e soluções para as obras com objetivo de gerar emprego Divulgação

Em 2010, eram 4,08 milhões de empregos formais. O crescimento foi acentuado até 2014, quando bateu recorde de 4,6 milhões. A realidade mudou e após as quedas de 2015 e 2016, com 4,4 e 4,2 milhões, respectivamente, o estado caminhou para trás e foi parar antes de 2011, quando registrou 4,3 milhões. Os dados, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, revelam ainda que os piores cenários são nos setores de serviços e construção civil.

A construção civil, por exemplo, foi uma das mais afetadas pela atual recessão nacional e pela crise que atinge particularmente o estado do Rio, com 29,1% do número de postos de trabalho fechados em 2016. Além dos dados do desemprego, outros índices demonstram o tamanho da atual crise, como as 1,4 milhões de pessoas que deixaram de ter plano de saúde, sendo 264,3 mil apenas no Rio, e a queda de 38,3% do crédito para financiamento imobiliário em 2016, com mais de 40 mil imóveis novos devolvidos às construtoras.

SOLUÇÃO NA SERRA
Com o objetivo de reverter o quadro e fazer com que o Rio mire no futuro, a Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ) realizou, na última terça-feira, a palestra “Menos Gargalos e Mais Empregos”, que debateu soluções para a geração de novos postos de trabalho, como a realização de obras pela iniciativa privada que permanecem paradas.

Luiz Fernando Santos Reis, presidente da AEERJ, acredita que a solução pode ser a construção de duas frentes de trabalho. Para ele, a retomada do setor pode beneficiar outras áreas da economia.

“Tem duas saídas para abrir novos caminhos para geração de emprego a curto prazo: A obra da nova subida da Serra das Araras, que pode gerar cinco mil e trezentos empregos, sendo mais de três mil diretos; e a duplicação da BR 101 Norte, com geração de mais de mil e quinhentas vagas. As duas independem de licitação, apenas de vontade política. Está provado que a base da economia é a construção civil. Melhorando esse setor, outros também vão melhorar”, acredita.

Nos últimos dois anos, 430 mil trabalhadores perderam empregos com carteira assinada no estado do Rio Divulgação

APESAR DA CRISE, EMPRESÁRIOS ESTÃO MAIS OTIMISTAS, REVELA PESQUISA

Para cada 100 vagas de trabalho na construção,outras 285 são abertas

Diminuição do consumo, queda de renda, endividamento das famílias e das empresas, perda de competitividade, inadimplência, alta no índice de inflação, maior receio na hora de fazer dívidas, menor capacidade de investimento, queda na geração de riquezas, diminuição do PIB e desemprego. Esses são alguns dos efeitos causados em uma das piores crises financeiras enfrentadas pelos brasileiros. Mas o otimismo é um dos fatores para vencer a recessão. É o que garante Nilson Duarte, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT-RJ). No encontro promovido pela AEERJ, Nilson disse que tirar obras paradas do papel vai garantir o sustento das famílias.

“Os investimentos precisam voltar para garantirmos o pão de cada dia. O governo federal tem agora, como previsão, a retomada da Transbrasil, do Comperj e a conclusão do rabicho da linha 4 do metrô, na Gávea. O emprego é fundamental para tudo. Se você não tiver emprego, não tem nada. E a iniciativa privada pode ajudar e também está na expectativa da retomada do país. Hoje o Rio de Janeiro é um estado falido e isso precisa ser mudado. Apesar de tudo, temos que ser otimistas”, garante.

A afirmação de Nilson vai ao encontro de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria, que mostra que a construção civil deve melhorar este ano após anos de retrações. O índice de expectativa do segmento passou de 37,7 pontos em janeiro de 2016 para 47,4 nesse mês. O indicador varia de 0 a 100 e a linha divisória dos 50 pontos separa a expectativa positiva da negativa, mostrando menor pessimismo dos empresários. O setor é um dos que mais geram empregos, além de ser um dos principais pilares de sustentação e servir também como instrumento de termômetro da economia. Para cada 100 postos de trabalho gerados na construção civil, outros 285 são abertos em áreas afins.

Vicente Loureiro, diretor-executivo da Câmara Metropolitana de Integração Governamental, órgão criado pelo Governo do Estado, também acha que é preciso ter confiança.

“A crise não é eterna. Tem obstáculos, encruzilhadas, mas não é a primeira vez que vivemos. Em outros casos, a construção civil sofreu, mas foi a responsável pela retomada. Mas não dá para esperar que o estado se recupere e volte a respirar. Os governos e prefeituras precisam melhorar seu desempenho. Pensar em outras fontes de receitas, arrecadação e medidas alternativas de investimento, como operações urbanas por concessões ou PPPs, por exemplo”, diz.

Vicente mostrou como a infraestrutura no estado ainda é um grande desafio a ser vencido. “Hoje, há 10 mil quilômetros de ruas não urbanizadas no estado do Rio. O investimento necessário para mudar esse quadro é de R$ 26 bilhões”, explica.

Nova subida da Serra traz melhorias

Para Juceline Durigam, gerente de Projetos da empresa de consultoria Geo Brasilis, durante as obras da nova subida da Serra, previstas para durarem 44 meses, podem ser gerados R$ 236 milhões para a região do Médio Paraíba, devido a massa salarial, refeições contratadas, compra de insumos para obra e transporte local, em cidades como Piraí, Barra do Piraí, Barra Mansa, Resende, Volta Redonda, entre outras. Ela acredita que a construção pode elevar também a vocação turística da região.

“Esse dinheiro vai impactar na vida da população como um todo, como donos de padarias e lojas. Além disso, diversos tipos de serviços são gerados, como transporte e alimentação dos trabalhadores, por exemplo, ajudando na expansão e criação de negócios”.

Para ela, a construção do Rodoanel, em São Paulo, é um bom exemplo de como a realização de projetos em infraestrutura por meio de empresas privadas podem beneficiar a população. “O Rodoanel foi um investimento de R$ 5 bilhões. Desse total, R$ 1,8 bilhões foram para compensação ambiental, envolvendo recuperação de córrego, construção de casas, transferência de moradias para áreas mais seguras, o que gera, por si só, melhoria da vida das pessoas”, conclui.

O investimento total com a nova subida da Serra das Araras, com 7,7 km de extensão, é de R$ 1,7 bilhões. A obra vai reduzir acidentes, tempo de viagens e congestionamento.