Educação: empresas precisam de incentivo
Francis Bogossian é membro da ANE-Academia Nacional de Engenharia, da Academia Brasileira de Educação (*)
O acesso da população de renda mais baixa a linhas de crédito e à redução de impostos permitiu que, em 10 anos, o Brasil dobrasse sua frota de veículos, com um crescimento impressionante nas regiões mais pobres do país, o Norte e o Nordeste. Neste caso o ganho foi para uma indústria bastante sofisticada e robotizada, e os municípios, que viram seus centros urbanos completamente congestionados, receberam a conta.
Isto é uma revolução e mostra que, quando o governo quer, pode operar grandes transformações. Incentivos fiscais são destinados à cultura, ao esporte, à indústria, à exportação e até para a gasolina. Contudo, não há incentivos fiscais para promover a base do crescimento sustentado de qualquer economia: a educação.
A falta de mão de obra qualificada é o maior empecilho para o aumento da qualidade e da produtividade da construção no país. É o que diz a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), junto a 424 empresas do setor, segundo 74% das consultadas. Esta deficiência de qualificação, de acordo com 94% dos ouvidos, se dá na falta de trabalhadores básicos, como serventes e pedreiros.
A falta de qualificação profissional não atinge apenas a construção. A deficiência de trabalhadores de nível básico é sentida em todos os setores. Faxineiras, vendedores de loja, garçons, pedreiros, pintores, jardineiros, mecânicos, lanterneiros, recepcionistas, atendentes, até eletricistas, todos improvisam, aprendendo uns com os outros, sem acesso a uma formação técnica.
Os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para qualificação profissional e os cursos profissionalizantes do Senai e do Senac certamente têm contribuído para reduzir este déficit, mas não deram conta, nem dão, de fazer uma “revolução”.
O Relatório de Competitividade Global para 2013-2014, do Word Economic Forum, que avalia 148 países, registra que o Brasil oito posições abaixo em relação ao período anterior, estando atualmente, na América Latina, em 56º lugar, atrás do México (55º), Costa Rica (54º), Panamá (40º) e Chile (34º).
Um dado alentador da pesquisa do World Economic Forum é o que apresenta nosso país em 38º lugar em capacidade de reter profissionais qualificados e em 53º entre os que têm maior capacidade de atraí-los.
Porém, o que realmente assusta é a baixa qualidade de ensino. Dentre essas 148 economias avaliadas, o Brasil ocupa o 129º lugar em qualidade da educação básica e o 136º lugar em qualidade do ensino de matemática e ciências.
A capacidade de inovação dos brasileiros nos coloca em 36º lugar no ranking; mas, quanto à disponibilidade de cientistas e engenheiros, o país está em 121º. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou pesquisa em novembro apontando escassez de engenheiros.
Por que as empresas não podem receber incentivos fiscais para investir em educação e qualificação de mão de obra? Fabricantes de materiais e equipamentos para a construção poderiam ser incentivados a criar cursos de qualificação profissional para orientar os trabalhadores sobre a maneira adequada de utilizar seus produtos e máquinas, bem como a indústria alimentícia, a de material de limpeza, a de adubos e fertilizantes, a indústria têxtil etc. Incentivar as empresas a ampliarem parcerias com redes de ensino para dobrar, triplicar a oferta de cursos é urgente.
Isto não tem como objetivo eximir o governo de suas obrigações. O ensino básico é garantido pela Constituição a todos os brasileiros, mas, não basta construir escolas e receber as crianças, é preciso que elas realmente aprendam. Melhorar a qualidade de ensino é o grande desafio, porque isso depende da formação dos professores.
Ante a dificuldade de se resolver o problema, a solução mais fácil foi criar cotas para o ingresso de estudantes de escola pública nas universidades. Uma atitude imediatista na tentativa emergencial de reduzir as desigualdades em nosso país, e que só podemos aplaudir. Mas não é suficiente.
E qual a transformação que vemos ser feita no ensino fundamental para que um dia não haja necessidade de cotas? Reduzir a grade de ensino, concentrando esforços nas disciplinas básicas – Português, Matemática e Ciências – seria um grande passo. Estabelecer um currículo nacional, para ser utilizado em todas as escolas municipais, contribuiria para a redução das desigualdades e facilitaria a qualificação dos professores.
Incentivos fiscais para as empresas investirem em formação de mão de obra e, paralelamente, a reforma dos ensinos fundamental, médio e universitário, adequando-os à realidade do século 21, seriam ações afirmativas para o desenvolvimento do país.
O Brasil tem que fazer por onde merecer a confiança desses nossos profissionais, que apostam em sua pátria e aqui se fixam, e naqueles de fora que acreditam que aqui é, efetivamente, o eldorado acolhedor multicultural, o Brasil “híbrido cultural”, como cunhou Gilberto Freyre, acolhedor, propagador, multiplicador e, por isso, grande.
O país do futuro, como a antiga geração ouvia falar, e o país do presente, como, nos dias atuais, orgulhosamente, passamos a escutar com assiduidade. Mas não há país “do presente” sem um olhar mais atento e cuidadoso para a educação.
(*) Presidente do Conselho Consultivo da AEERJ