Oportunidade para fortalecer as empresas brasileiras
Acesso à internet não é um luxo. Hoje é tão ou mais importante que o telefone fixo
Francis Bogossian,
A Engenharia
brasileira está diante de excelente oportunidade para dar um novo salto no
desenvolvimento tecnológico. Foi com obras de grandes hidrelétricas que as
construtoras brasileiras cresceram e se transformaram em empresas
multinacionais, capacitando-se para trabalhos de vulto tanto na América Latina
como nos Estados Unidos, Europa, África e Oriente. Foi com a descoberta do
petróleo em águas profundas que a engenharia brasileira superou obstáculos e
passou a ser referência mundial. Em ambos os casos, as universidades e as empresas
nacionais receberam apoio do governo para o desenvolvimento de pesquisas.
Com o Plano
Nacional de Banda Larga (PNBL), lançado em maio pelo governo federal, temos
outra chance de alavancar o país, não apenas no campo das telecomunicações, como
também na engenharia brasileira como um todo o que, consequentemente, se
refletirá no desenvolvimento do país. Não há país desenvolvido sem tecnologia.
O governo propõe
redução de impostos e financiamento do BNDES para incentivar o desenvolvimento
de tecnologia nacional na área de telecomunicações. Para que o Plano Nacional
de Banda Larga tenha êxito, será necessário um trabalho conjunto dos
ministérios das Comunicações, Educação, Ciência e Tecnologia e Comércio e
Indústria.
É preciso que
a banda larga no Brasil seja definida como um serviço público, para que possa
ser regulamentada, como nos casos da telefonia fixa, luz, água e esgoto. Acesso
à Internet não é um luxo. É hoje tão ou mais importante que o telefone fixo. Com a banda larga como um serviço público,
será possível ao governo estabelecer e exigir o cumprimento de metas. Mesmo
ressuscitando a Telebras, o governo sabe que não poderá fazer tudo sozinho e
precisará contar com as empresas Operadoras para atingir todo o país.
Este plano
deve ser visto como o pontapé inicial de um grande programa de incentivo à
pesquisa e desenvolvimento tecnológico no Brasil. O papel do Estado neste caso
é fundamental. Há 30 anos a Internet não existia. Hoje não se vive sem ela. A
transmissão de som e imagem em tempo real era ficção científica na década de
70. Como será daqui a 30 anos?
Atualmente, o
serviço de banda larga no Brasil cobre cerca de 20% da população brasileira e
mesmo assim com grande concentração nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O
objetivo do governo é triplicar o número de acessos em banda larga até 2014,
passando dos atuais 12 milhões para 40 milhões de domicílios. A velocidade
prevista de 800 kilobits por segundo (kbps) é, no entanto, bem inferior às
metas dos países desenvolvidos e muito lenta para a transmissão de vídeo. A
Comunidade Européia trabalha para que todos os europeus tenham acesso à Internet
por banda larga em 2013. A velocidade, que hoje já é de 2 megabits por segundo
(Mbps), será de 30Mbps em 2020.
Nos Estados
Unidos, o objetivo é atingir 100 milhões de lares com acesso a banda larga em
uma conexão de 100 Mbps até 2020, enquanto a velocidade média atual é de 4 Mbps.
O programa da Coreia do Sul é muito mais ambicioso. Até 2012, um milhão de
domicílios estarão conectados a uma velocidade de 1 Gigabit por segundo (Gbps).
Isto significa que dentro de dois anos os coreanos conseguirão baixar um filme
de duas horas em apenas 12 segundos.
É preciso
correr contra o tempo, utilizando todas as redes de fibra ótica do país, como
também todas as ferramentas de tecnologia. O Fundo de Universalização dos
Serviços de Telecomunicações (Fust), por exemplo, que já arrecadou mais de RS
8,7 bilhões desde que foi criado em 2000, continua com seus recursos sendo
acumulados no Tesouro, ao invés de serem aplicados no setor.
É difícil
para a indústria brasileira competir com produtos importados quando o dólar
vale R$ 1,70 e a carga de impostos é estratosférica. Há falta de mão-de-obra
qualificada, uma burocracia infernal e empecilhos de toda a ordem. Haja vista
que na balança comercial brasileira os produtos manufaturados estão perdendo
espaço. Estamos voltando aos anos 50 quando os principais produtos de
exportação brasileiros eram café e açúcar. Hoje, minério de ferro, petróleo e
soja encabeçam nossa pauta de exportações.
Por outro
lado, o Brasil é um país de empreendedores. Os empresários brasileiros estão
sempre prontos a responder quando lhes oferecem meios para investir com
segurança. É o que estamos vendo agora com a construção civil. A mudança na
legislação das incorporações, o aumento das linhas de crédito, a redução dos
juros e a desoneração dos insumos para construção elevaram o valor bruto da
produção do setor de R$ 56,4 bilhões, em 2000, para R$ 137,4 bilhões no ano passado.
O plano de
banda larga do governo propõe a criação de incentivos fiscais, linhas de
financiamento e um tratamento preferencial para os produtos genuinamente nacionais.
Mas, para se ter os produtos, é preciso investir em pesquisa e na formação
desta mão-de-obra que é altamente qualificada. Um grande número de técnicos e
engenheiros brasileiros extremamente capacitados vive atualmente no exterior
por falta de oferta de trabalho no Brasil e incentivo à pesquisa.
O uso de diversos tipos de tecnologia para que todo o Brasil possa ter ampla cobertura
de banda larga de alta velocidade dará à indústria brasileira um mercado
consumidor que ela precisa. Com o incentivo à pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, o Brasil poderá ultrapassar suas atuais barreiras para se tornar
um país desenvolvido. É indispensável o incentivo do governo na área de
pesquisa e só com uma atuação conjunta dos quatro ministérios será possível ter
êxito.
Francis
Bogossian, é presidente do Clube de Engenharia e da Associação das
Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ).