Novos tempos para a engenharia
Francis Bogossian, membro das Academias Nacional e Pan-Americana de Engenharia
e Brasileira de Educação
e
Paulo Cesar Corrêa Lopes, engenheiro e ex-professor da UFRJ
Graças a Deus, não há mais carência de emprego para engenheiros no Brasil. Para o país continuar no ritmo de crescimento dos últimos anos, precisará contar com grande número desses profissionais nas suas diversas especialidades.
Segundo as agências de Recursos Humanos, o país teria de graduar mais 20 mil engenheiros por ano, além dos que são formados hoje, para suprir as necessidades do mercado. A qualificação profissional é uma ação de longo prazo e o PIB não pode desacelerar por conta dessa espera.
Um dos obstáculos é o ensino da engenharia, que precisa ser reformulado para tornar-se mais estimulante, visando atrair e manter um contingente maior de alunos que persistam até obter o diploma e não desistam da carreira, como há muitos anos vem acontecendo.
Até que tais mudanças rendam frutos, não podemos ficar parados, pois o futuro é veloz e nos atropela. Estamos com a batata quente na mão, já na segunda década do século XXI e estamos vendo a vinda de engenheiros de outros países, com diplomas válidos e as capacitações necessárias.
No Brasil, atualmente, há grande quantidade de postos de trabalho que não estão sendo preenchidos por falta de profissionais qualificados, notadamente na área da engenharia. A abertura do mercado aos estrangeiros é válida, desde que sejam preservadas as garantias para os brasileiros.
Essa onda de crescimento no Brasil, que não deve ser, em qualquer hipótese, desperdiçada, contrasta com as gravíssimas crises por que passam algumas nações europeias, que poderão ser fontes desta mão de obra. Pode haver, é claro, uma barreira na língua portuguesa, cuja difusão no mundo mais aculturado ainda é fraca, mas o inglês, universalizado para detentores de cursos superiores, e o espanhol podem ser pontes temporárias enquanto aprendem o nosso idioma.
Canadá e Austrália, os maiores receptores de imigrantes laborais, estabeleceram legislações e sistemas de controle para favorecerem a entrada e a permanência das forças específicas de trabalho de que necessitam. Consta que tem havido sucesso na integração profissional com os locais.
A legislação brasileira, no entanto, não favorece a importação de mão de obra profissional em diversas áreas e o caso dos engenheiros não é único. Falta no Brasil, este país falsamente considerado paraíso dos imigrantes, uma política adequada para receber e dar empregos a profissionais de outros países. Entendemos que as intervenções exclusivamente de investimento de capital, nas quais empresas estrangeiras compram brasileiras, no intuito de dar trabalho aqui aos profissionais do seu quadro nos países de origem, precisam ser monitoradas para a garantia dos profissionais brasileiros.
Genuínas transferências de novas tecnologias são bem-vindas e necessárias. Não se pode aceitar, entretanto, que corporações estrangeiras invadam os nichos da nossa engenharia com “caixas pretas” sem que os brasileiros tenham direito aos benefícios desses conhecimentos.
Nada de xenofobia, mas esperamos de nossos legisladores uma posição nacionalista de fato, devidamente equilibrada, capaz de prover as demandas de profissionais para nosso desenvolvimento, sem ferir as cores da bandeira brasileira e sempre protegendo a nossa mão de obra. A engenharia agradece.
Terça-feira, 12 de abril de 2011
Opinião – Pág. A-13